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SÃO PAULO – As indefinições quanto ao rumo do governo de Michel Temer, principalmente sobre o andamento das reformas, assim como as projeções tímidas para o crescimento econômico, adicionaram muita incerteza às previsões para a bolsa brasileira e criou um “anticlímax” no investidor. Antes de 18 de maio, quando o mercado digeriu o áudio de Joesley Batista e recuou 8,8% com o maior volume da história, a projeção para o Ibovespa poucas semanas atrás era pelo teste do topo histórico em 73.920 pontos, em vista da expectativa do aumento do ritmo de corte da Selic pelo Copom. Apesar da recuperação recente, com o caos político gerado, o principal índice de ações da B3 voltou para a faixa de 65.000 pontos, bem distante da máxima anual cravada em 69.487 pontos.
Com receio de tudo isso, a participação dos investidores locais despencou em junho, segundo dados fornecidos pela B3. No mês passado, a participação deste segmento nos negócios registrados em bolsa foi de 14,8%, enquanto a média registrada até maio era de 17%. De fato, quem vive a realidade de perto tem uma percepção muito mais aguçada sobre a situação política e econômica do Brasil, mas isso parece não incomodar os investidores estrangeiros.
O time de estratégia do Santander, capitaneado por Daniel Gewehr e João Noronha, elaborou um relatório de 76 páginas com o compilado da percepção dos investidores europeus sobre a América Latina. Eles visitaram os clientes do banco que investem na região e chegaram a uma conclusão sobre o Brasil: os “gringos” estão mais otimistas que os locais por conta da expectativa de melhores resultados para as empresas.
Segundo as estimativas do Santander, o lucro líquido por ação das companhias brasileiras deve ficar 10% acima da média em 2017 e cerca de 30% no ano que vem. De acordo com o banco, o processo de desalavancagem das companhias, guiado pela queda da taxa básica de juro, impactará positivamente nas margens e, por consequência, abrir caminho para melhores resultados. Para se ter uma ideia, a margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) deve sair de 29,3% em 2016 para saltar em 2017 e 2018 para 29,6% e 30,7%, respectivamente. Para o time de estratégia do Santander, os setores de construção, energia, bens de capital e transporte registraram maior incremento.
A mais procurada
Em meio as discussões sobre o rumo da bolsa brasileira, um assunto em específico chamou a atenção de Daniel Gewehr e João Noronha. Segundo os estrategistas, houve uma procura além do normal para discutir o caso de BRF (BRFS3) – e isso tem uma razão. A empresa, que sempre foi marca registrada na carteira de gestores e dos bancos de investimento, perdeu muita atratividade nos últimos tempos por conta de resultados decepcionantes. Desde o topo histórico marcado em R$ 70,73 na primeira semana de setembro de 2015, as ações amargam perda de 46% com base no último fechamento. Conforme o apurado pelo banco, os clientes estão revisando os modelos e inclinados para adicionar posição no papel, mas ainda estão esperando uma sinalização mais forte de reversão pelo lado dos resultados, justamente para “não pegar a faca caindo”. Por que não se deve comprar empresas em momentum ruim de resultados? Entenda clicando aqui Na expectativa pela recuperação dos resultados e que “o pior foi deixado para trás”, o Santander adicionou as ações da BRF em sua carteira recomendada para o Brasil, que contém ainda Energisa (ENGI3), Itaú Unibanco (ITUB4), Iochpe-Maxion (MYPK3), Localiza (RENT3), Lojas Americanas (LAME4), Fibria (FIBR3), Rumo (RAIL3) e Ser Educacional (SEER3). Apesar do cenário ainda bastante desafiador, o time de estratégia do banco projeta que BRF entregará melhores margens no segundo semestre deste ano em vista do ganho de market share após os escândalos envolvendo a JBS (dona da Seara) e menores custos de produção, uma vez que o milho – um dos principais insumos para a ração animal – recua cerca de 30% neste ano. Além disso, as ações da empresa estão negociando a um múltiplo bastante atrativo: o EV/Ebitda (múltiplo que mede o valor da empresa em relação ao seu Ebitda) para 2018 está negociando a 8x, um desconto de 22% em relação a média dos últimos 5 anos.