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A Atvos saiu viva da recuperação judicial. Agora quer decolar com o combustível de aviação

Com apoio do Mubadala, empresa definiu como estratégia a ampliação da oferta de biocombustíveis e o SAF ganha prioridade na agenda

Rikardy Tooge

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A Atvos planeja seu futuro em duas etapas após encerrar seu processo de recuperação judicial na última semana. Em um primeiro momento, a segunda maior empresa de etanol do país destinará R$ 1,6 bilhão para chegar na safra 2025/26 com sua capacidade máxima de produção, de 32 milhões de toneladas de cana-de-açúcar processadas – a meta para esta temporada é chegar a 27 milhões de toneladas. O passo seguinte será aumentar o portfólio de biocombustíveis, em especial com o Combustível de Aviação Sustentável (SAF, em inglês).

“Nosso plano 1.0 é otimizar o que já existe, mas precisamos também olhar para frente e entendemos que temos que entrar em outros biocombustíveis. Queremos estar presentes no biometano, no etanol de milho e vemos muito futuro no SAF, onde o etanol pode sair vencedor”, explica Bruno Serapião, CEO da Atvos, ao IM Business. O transporte aéreo é responsável por cerca de 2% das emissões de carbono no planeta e são poucas as alternativas para a descarbonização. Além do etanol, o óleo de cozinha usado é uma outra fonte para a fabricação do SAF.

A utilização de combustíveis sustentáveis na aviação é uma discussão que vem ganhando corpo em todo o mundo. Nos Estados Unidos, faz parte de um pacote de US$ 430 bilhões para acelerar a transição energética, enquanto, no Brasil, o tema deverá ser debatido pelo Congresso. Além da Atvos, a Raízen é outra que vem trabalhando no produto – a empresa controlada pela Cosan é a única no mundo que tem seu etanol certificado para a aviação. Para especialistas, o Brasil tem plenas condições de ser líder na produção desse biocombustível.

O CEO da Atvos prevê que a “fase 2.0” da empresa ganhe corpo entre dois a cinco anos, uma vez que demandará investimentos robustos de engenharia das plantas para a produção dos novos combustíveis. O capex ainda está em discussão.

Serapião lembra que o fim da recuperação judicial foi fundamental para aliviar o balanço da empresa e acelerar os planos. Antiga Odebrecht Agroindustrial, a Atvos entrou em RJ em maio de 2019, com cerca de R$ 12 bilhões em dívidas. De lá para cá, passou ainda por uma disputa societária com o fundo americano Lone Star, que assumiu o controle da empresa convertendo garantias de empréstimos da Odebrecht (hoje Novonor) em ações da subsidiária.

Bruno Serapião, CEO da Atvos: empresa quer deixar crises para trás (Divulgação)

A celeuma, que foi parar na Justiça, foi pacificada com a chegada do Mubadala, que comprou a participação do Lone Star na empresa e se acertou com os bancos credores. O fundo árabe detém hoje 31,5% do capital da Atvos, sendo o acionista de referência, com o restante dividido entre a Novonor e seus credores.

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O Mubadala também se comprometeu a investir R$ 500 milhões na Atvos. Com isso, a alavancagem da companhia ficará em 1,4 vezes a dívida líquida pelo Ebitda. Hoje, a empresa deve algo próximo a R$ 5,5 bilhões, com pagamento acordado até 2042 e custo atrelado a 100% do CDI, ante 115% do período de RJ. “É algo muito mais sweet em relação ao que tínhamos”, diz Serapião.

O CEO reforça que a Atvos é geradora de caixa, mas o custo da dívida atrapalhava seu crescimento. Com onze plantas espalhadas por São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, a receita líquida da companhia gira em torno dos R$ 5 bilhões por safra. Do mix de produção, 85% da cana processada vai para a produção de etanol, enquanto os outros 15% são destinados ao açúcar, que vem em ciclo de preços recordes no mercado internacional.

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Com o plano de voo definido, a Atvos quer deixar para trás o passado marcado pela recuperação judicial e pelos estragos causados pela Lava Jato – na delação premiada da Odebrecht, que teve suas provas anuladas recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo, a empreiteira afirmou que havia pago propina ao ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine para renegociar um empréstimo de R$ 1,7 bilhão para a Atvos.

Bruno Serapião, executivo que chegou em maio deste ano e fez a carreira em private equity, em especial no Pátria Investimentos, diz que seu foco está no presente e no futuro, e o objetivo é ambicioso. “Nossa meta é ser a plataforma global de biocombustíveis do Mubadala e isso só depende da gente. Eu não sou um executivo do açúcar e etanol, eu sou um cara de crescimento de teses, e eu vim com esse mandato.”

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br