Por décadas os brasileiros tiveram um caso de amor com a renda fixa. Os juros altos asseguravam um bom retorno – e, por causa disso, não era preciso procurar muito antes de se decidir.

Nos últimos anos, este cenário mudou consideravelmente. Mesmo com o sobe e desce da Selic, o patamar de juros nem se compara ao que tivemos na época do Plano Real, por exemplo, quando a taxa básica chegou a bater 45% ao ano em determinado momento.

Apesar das mudanças ao logo dos anos, a renda fixa continua entre as preferências. Faz sentido? Como, afinal, funciona a renda fixa?

Se você é do tipo que aposta na renda fixa porque foi o que fez a vida inteira, mas não sabe ao certo a razão, precisa ler esse guia. Ele explica em detalhes essa grande categoria de investimentos, diferencia os produtos e explica como eles rendem. Ao final, você estará preparado para escolher a melhor opção para o seu caso.

O que é renda fixa e como funciona?

Rentabilidade garantida? Risco zero de perda? Você talvez esteja se perguntando o que é renda fixa, afinal. A resposta está em um conceito fácil de entender: nos investimentos em renda fixa, o cálculo da remuneração é previamente definido e conhecido desde o momento da aplicação.

Em linhas gerais, quem compra um título de renda fixa “empresta” dinheiro para alguém. Em troca, espera receber o valor aplicado de volta no futuro acrescido de juros, que são a remuneração pelo tempo pelo qual o recurso ficou emprestado. As condições dessa transação – como prazos, taxas, índices de referência e detalhes quanto à negociação – são acertadas desde o início.

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Os emissores de títulos de renda fixa – em outras palavras, quem toma o dinheiro emprestado – podem ser bancos, empresas e o próprio governo. O funcionamento geral dos papéis é parecido, não importa a origem.

O que é importante pontuar é que renda fixa não é sinônimo de retorno garantido. Isso porque esses investimentos também estão sujeitos a riscos, tanto de crédito quanto de mercado. Inclusive, em algumas situações, o valor de um papel pode variar tanto quanto uma ação.

Remuneração da renda fixa

Quanto rende a renda fixa? As condições de remuneração variam de papel para papel, de prazo para prazo, de emissor para emissor. Via de regra, esses investimentos seguem alguns indicadores de referência. Os principais são a Selic, o CDI, a TR e o IPCA, conforme veremos a seguir.

Taxa Selic

A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. A meta para a Selic é definida periodicamente pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central. Ela serve de referência para o governo remunerar os investidores que compram seus títulos de dívida, mas não apenas. Na verdade, a meta baliza todas as operações envolvendo crédito no país, o que inclui os investimentos de renda fixa.

Algumas dessas aplicações têm a Selic como referência direta de remuneração, conforme veremos mais adiante.

CDI

O CDI – Certificado de Depósito Interbancário – é outra referência importante. Essa taxa representa a média dos juros das operações de empréstimo de curtíssimo prazo realizadas diariamente pelos bancos entre si.

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O CDI e a Selic caminham muito próximos um do outro. Normalmente, as duas taxas são praticamente as mesmas.

TR

A Taxa Referencial, ou TR, já teve mais relevância como benchmark no mercado financeiro, Atualmente, ela corrige o rendimento da poupança, de alguns títulos de capitalização, de saldos de financiamentos do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e as contas do FGTS.

IPCA

Quando ouvimos no noticiário que a inflação do período foi de “x%”, é sobre a variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) que está se falando. Esse índice reflete a inflação oficial do Brasil, e também é utilizado como referência de rentabilidade em alguns títulos de renda fixa híbridos – veremos esse conceito mais adiante.

Tributação da renda fixa

Via de regra, os investimentos em renda fixa seguem uma mesma sistemática de tributação. Estão sujeitos a uma tabela regressiva de Imposto de Renda, com alíquotas que diminuem conforme o prazo do investimento.

A alíquota mais alta é de 22,5%, para aplicações mantidas por até seis meses. Para os que ficam de seis meses a um ano, a alíquota cai para 20% e, se o investimento for de um a dois anos, para 17,5%. A menor alíquota, de 15%, vale para investimentos mantidos por dois anos ou mais.

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Tabela regressiva do Imposto de Renda:

Prazo do investimentoAlíquota de IR
até 6 meses22,5%
6 meses a 1 ano20%
1 a 2 anos17,5%
acima de 2 anos15,%

Isso vale para CDBs, fundos, debêntures e vários outros produtos de renda fixa. Há, no entanto, algumas exceções e especificidades:

• Alguns investimentos de renda fixa são isentos de Imposto de Renda. Além da poupança, é o caso das letras de crédito imobiliário e agrícola (LCI e LCA), por exemplo.

• Fundos de renda fixa que tenham carteiras de curto prazo – ou seja, com uma carteira de títulos com prazo médio de até 365 dias – são tributados com apenas duas alíquotas. Se o investimento for mantido por menos de seis meses, o Imposto de Renda é de 22,5%. Se for mantido por mais tempo que isso, é de 20%.

LEIA TAMBÉM: Marcação a mercado: o que muda e como afeta a renda fixa

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Qual é a diferença entre Renda Fixa e Variável?

Se nos investimentos de renda fixa a remuneração é conhecida desde o momento da aplicação, nos investimentos de renda variável acontece exatamente o oposto. Nesse caso, o investidor não consegue saber previamente qual será a rentabilidade da aplicação.

Pense na compra de ações. As duas maneiras de ganhar na bolsa de valores são a distribuição de dividendos aos acionistas pelas companhias emissoras e a valorização dos papéis no pregão. Embora analistas do mercado financeiro possam projetar as duas formas de remuneração, com base em análises de mercado e dos balanços da empresa que emitiu as ações, nada assegura que o cenário vai se confirmar. Não é possível ter certeza de qual será o ganho nos próximos seis meses ou um ano – nem mesmo se haverá ganho ou prejuízo.

Como funciona a remuneração da Renda Fixa?

O cálculo da rentabilidade dos investimentos de renda fixa pode seguir padrões diferentes, de acordo com o tipo de papel que estiver em análise. As três formas tradicionais de remuneração são a prefixada, a pós-fixada e a híbrida. Acompanhe.

Taxa prefixada

Nos investimentos desse tipo, os juros são fixos e estabelecidos no momento em que elas são lançadas. Por isso, o investidor consegue saber quanto receberá no vencimento em reais.

Taxa pós-fixada

Nesse caso, a remuneração é atrelada a algum indicador de referência (como a Selic ou o CDI) e o valor do título é atualizado com base nele. O investidor sabe, de antemão, que indicador é esse, mas não tem certeza de quanto receberá no vencimento em reais, porque a taxa pode variar ao longo do tempo.

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Taxa híbrida

Por fim, a renda fixa híbrida mescla características de aplicações pré e pós-fixadas. Ou seja, uma parcela da remuneração se dá por juros fixos e outra é atrelada a um indicador que pode variar ao longo do tempo.

O exemplo mais comum é o dos títulos atrelados à inflação, que pagam uma taxa prefixada mais a variação do IPCA ou outro índice de preços.

Principais investimentos em Renda Fixa

A renda fixa é uma grande categoria de investimentos, que reúne diversos tipos diferentes de produtos. Os principais são:

1. Tesouro Direto

Quem aplica no Tesouro Direto, empresta dinheiro para o governo fazer a máquina pública funcionar. Esses títulos são considerados os investimentos mais seguros, porque são emitidos pela mesma grande entidade – o governo – que imprime o dinheiro do país.

Há papéis de três tipos disponíveis no Tesouro Direto: os prefixados, os pós-fixados e os híbridos.

Quem investe no Tesouro Direto paga uma taxa de custódia de 0,20% ao ano. Essa taxa incide sobre o total investido (com algumas exceções), e é debitada na conta do investidor duas vezes por ano (0,10% por vez) sempre nos primeiros dias úteis dos meses de janeiro e julho.

Também pode incidir sobre o Tesouro Direto a taxa de administração, mas essa é cada vez mais rara atualmente.

2. Poupança

A poupança é o investimento mais tradicional do Brasil. Dezenas de milhões de pessoas têm pelo menos algum dinheiro guardado na caderneta. Nessa modalidade, as regras de funcionamento e de rentabilidade seguem diretrizes estabelecidas pelo governo.

Não há taxas para aplicar na poupança, nem incidência de Imposto de Renda – os rendimentos são isentos. A remuneração oferecida aos investidores é a mesma em todas as instituições financeiras e, desde 2012, varia de acordo com o patamar em que se encontra a Selic.

Para os depósitos feitos a partir do dia 4 de maio de 2012, quando as novas regras entraram em vigor, o rendimento da poupança passou a ser de 0,5% ao mês mais a variação da TR se a Selic estiver acima de 8,5% ao ano. Quando estiver igual ou abaixo disso, a rentabilidade será equivalente a 70% da Selic mais a variação da TR. Quem mantém poupanças anteriores recebe rendimentos como antigamente: 0,5% ao mês mais a variação da TR.

Além da rentabilidade, que é baixa, outro ponto negativo da poupança é o fato de que a rentabilidade só é creditada para os investidores uma vez por mês, no mesmo dia em que a aplicação foi realizada. Por exemplo, alguém que aplique no dia 5 de um mês e precise resgatar o dinheiro no dia 3 do mês seguinte não receberá nenhum rendimento pelo período. Para obter o retorno, seria preciso manter os recursos na poupança até a “data de aniversário” – no caso, todo dia 5.

A exemplo de outros títulos de renda fixa que veremos na sequência (CDBs, LCIs e LCAs), a poupança conta com a proteção do FGC – Fundo Garantidor de Crédito. No link abaixo, entenda qual o papel do FGC na renda fixa:

3. CDBs

Assim como o governo levanta dinheiro emitindo títulos públicos, os bancos fazem o mesmo lançando Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) no mercado.

Os CDBs também podem ser pós-fixados, prefixados e híbridos. Normalmente, o CDB pós é o que oferece liquidez diária e, por isso, costuma ser utilizado para formar a reserva de emergência.

4. LCI e LCA

A lógica do funcionamento das Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCIs e LCAs) é semelhante à dos CDBs. Nesse sentido, elas também são emitidas por bancos, com a diferença de que os recursos que captam se destinam ao financiamento das carteiras imobiliária e do agronegócio dessas instituições.

Os rendimentos desses títulos são isentos de Imposto de Renda para pessoas físicas, o que as torna atraente para alguns investidores. Por isso, as instituições financeiras podem oferecer taxas menores que as dos CDBs sem necessariamente comprometer a rentabilidade do investimento.

5. CRI e CRA

Os Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs) também são vinculados a recebíveis desses dois setores. No entanto, são um pouco mais complexos, pois envolvem securitização, um processo que, grosso modo, transforma direitos de crédito – como as parcelas de um financiamento imobiliário ou o pagamento de aluguéis mensais – em papéis negociados no mercado financeiro.

Um exemplo é uma construtora que esteja recebendo por um apartamento que vendeu parcelado. Quem comprou se comprometeu quitar a dívida ao longo de vários meses, mas a construtora pode precisar desse dinheiro no curto prazo para finalizar uma parte da obra. Em vez de esperar até o fim do prazo, uma opção é “empacotar” esse fluxo futuro em um CRI e vendê-lo no mercado. Dessa forma, transfere a dívida para outro credor e consegue coletar o dinheiro todo de uma vez.

Assim como as letras de crédito, os CRIs e CRAs são isentos de IR sobre os rendimentos. No entanto, possuem mais risco, pois não contam com a garantia do FGC.

6. Debêntures

Debêntures são títulos de crédito emitidos por empresas e negociados no mercado de capitais.

Normalmente, os recursos levantados pelas empresas com as debêntures servem para financiar grandes projetos, como a construção de uma nova fábrica ou um processo de expansão internacional. Por isso, elas costumam ter um vencimento mais longo que outros produtos de renda fixa. Não é raro encontrar debêntures com prazo de cinco ou até dez anos à frente. Elas também podem ter retornos prefixados, pós-fixados ou híbridos.

Via de regra, as debêntures são tributadas pela tabela regressiva do Imposto de Renda, com alíquotas que variam de 22,5% a 15%. Mas há uma exceção: as chamadas debêntures incentivadas, que são usadas para captar recursos para a realização de grandes obras de infraestrutura no país, são isentas.

A exemplo dos certificados de recebíveis, as debêntures também não possuem a cobertura do FGC.

Qual é a diferença entre investir em Tesouro Selic, fundo DI e CDB?

O título público Tesouro Selic, os fundos DI e grande parte dos CDBs são todos investimentos de renda fixa pós-fixados. Mas eles apresentam algumas diferenças entre si.

A começar pela rentabilidade. Os títulos Tesouro Selic, como o nome indica, oferecem como remuneração ao investidor a taxa Selic integral (a não ser em raros casos, quando é aplicado um deságio).

Por sua vez, os fundos DI aplicam também nesses papéis. Mas como os gestores cobram uma taxa de administração pelo trabalho de selecionar os ativos e administrar os recursos, é praticamente impossível obter um retorno equivalente à Selic integral.

Já os CDBs pós-fixados oferecem como remuneração um percentual do CDI. Nos grandes bancos, esse percentual raramente chega a 100% – o mais provável é que fique mais próximo de 90% ou até 80% do CDI. Por outro lado, instituições financeiras menores costumam praticar taxas mais atrativas, que podem ser até superiores a 100%, justamente para despertar o interesse dos investidores.

Além da rentabilidade, há outra diferença entre esses três produtos. O CDB é o único deles que conta com cobertura do FGC. No entanto, mesmo sem esse benefício, o Tesouro Selic é considerado seguro, já que o risco de crédito do governo é baixo.

Quanto aos fundos, o seu patrimônio é apartado do das instituições financeiras. Por isso, caso algum problema ocorra com o banco ou a corretora que os oferecem, os recursos aplicados no fundo estarão seguros.

É seguro investir em Renda Fixa?

Embora a renda fixa seja mais previsível do que a variável, não existe nenhum investimento totalmente seguro. Além disso, é importante entender que existem diferentes tipos de riscos, que exercem mais ou menos influência nos tipos de renda fixa, conforme veremos agora.

Risco de crédito

Nos investimentos, o risco de crédito está diretamente associado à capacidade de o emissor do título devolver o dinheiro ao investidor.

Como vimos, os títulos do Tesouro Direto são considerados os mais seguros do mercado, justamente porque é o governo federal o seu emissor. Isso porque, se o país dá um calote em seus credores, é porque todo o sistema econômico já se deteriorou antes.

No caso da renda fixa bancária (quando o emissor é uma instituição financeira) o risco também é considerado baixo. Como esses títulos tem a cobertura do FGC, teoricamente são seguros para o investidor.

Mas existem investimentos de renda fixa que não contam com a proteção do fundo, logo o seu risco recai totalmente sobre o emissor. Esses títulos fazem parte da categoria de crédito privado, e os exemplos mais conhecidos são os certificados de recebíveis e as debêntures, que vimos anteriormente.

Além de não ter a garantia do FGC, o crédito privado costuma ter prazos mais longos, o que também contribui para aumentar o risco desses papeis. Por isso, as instituições financeiras costumam oferecer taxas mais altas, para tornar mais interessante a relação entre risco e retorno do investimento.

Outra peculiaridade desses títulos é que, normalmente, eles têm um rating de crédito, para orientar o investidor em relação ao grau de risco.

Risco de mercado

Já esse risco avalia de que forma as condições do mercado podem afetar o valor dos papéis. De forma geral, o risco de mercado é mais alto nos ativos prefixados e se apresenta na situação em que o investidor quer ou precisa resgatar os recursos antes do vencimento.

Nesse caso, é necessário vender os papéis pelo valor atual de negociação deles no mercado – que pode ser mais alto ou mais baixo do que o registrado na época do investimento. Isso porque o rendimento acertado no início do investimento vale apenas se o resgate for feito no vencimento.

Para entender: imagine que a Taxa Selic tenha subido para um patamar acima do praticado na época em que o investimento foi feito. Quando isso acontece, os títulos antigos tendem a perder valor, afinal ninguém vai se interessar por um papel que oferece juros abaixo do patamar vigente.

Um impacto semelhante ocorre com os títulos prefixados quando a inflação aumenta. No ajuste, eles perdem valor, já que seu retorno real (descontado o efeito inflacionário) se torna menos interessante.

Risco de liquidez

Investimentos de renda fixa podem estar sujeitos ainda a risco de liquidez, que é o grau de dificuldade para converter uma aplicação em dinheiro vivo. Uma debênture que seja pouco negociada no mercado, por exemplo, tem um risco de liquidez maior que o de um título público do Tesouro Direto.

Leia também: Como investir com uma inflação acima do CDI

Vantagens e desvantagens de investir em renda fixa

Entre as vantagens da renda fixa, estão a maior previsibilidade quanto ao comportamento dos papéis e os ganhos que podem ser obtidos. Embora não sejam totalmente livres de riscos, a maioria desses títulos oferece um horizonte mais claro sobre o que esperar.

Outra vantagem é a variedade de produtos disponíveis, cada um com uma característica bem específica, e de emissores possíveis. Assim, é possível diversificar a carteira, sem concentrar demais os investimentos em poucas opções.

Por outro lado, essa previsibilidade também pode ser uma desvantagens em determinados momentos do mercado. Em tempos de juros baixos, a renda variável se torna mais atraente para quem busca rendimentos mais elevados e se dispõe a correr mais risco. Tudo dependerá do contexto e das perspectivas do mercado para os investimentos.