Infeção na gengiva pode ser uma das causas do Alzheimer, aponta pesquisa

Estudo investiga como a saúde bucal pode ser uma das causas do Alzheimer; pesquisas, porém, ainda precisam ser aprofundadas

Victória Anhesini

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Cientistas suspeitam que o Alzheimer pode não ser uma doença, mas sim uma infecção (e essa hipótese já circula há um tempo na comunidade científica). Em um estudo publicado na revista Science Advances, o culpado seria a bactéria Porphyromonas gingivalis, encontrada na boca humana.  

Os pesquisadores identificaram sua presença nos cérebros de pacientes falecidos com Alzheimer. A P. gingivalis é conhecida por causar periodontite crônica, uma infecção gengival popularmente chamada de piorreia.

Em um experimentos em camundongos, nos quais a infecção pela P. gingivalis levou à colonização do cérebro pela bactéria e ao aumento da produção de beta-amiloide, proteína frequentemente associada ao Alzheimer. 

Experimentos em camundongos mostraram que a infecção pela bactéria causou uma colonização no cérebro dos animais, e uma das consequências foi ao aumento da produção de beta-amiloide, proteína frequentemente associada ao Alzheimer.

Apesar dessas descobertas, os cientistas reforçam que isso não comprova que a bactéria seja a causa da doença, mas abre novas possibilidades de estudo.  

Além da P. gingivalis, há outras infecções causadas por bactérias, vírus e fungos que podem ter um papel importante no desenvolvimento do Alzheimer e outros tipos de demências.

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Um outro estudo publicado na revista Journal of the Alzheimer’s Association, por sua vez, investigou como essas infecções podem contribuir para processos inflamatórios no cérebro, afetando sua função e acelerando a neurodegeneração.

A pesquisa levanta a hipótese de que algumas formas de demência possam ser impulsionadas por agentes infecciosos e, em certos casos, até mesmo revertidas com tratamentos adequados.

Os pesquisadores também observaram que infecções virais, como as causadas pelo vírus do herpes (HSV-1), podem estar ligadas ao desenvolvimento do Alzheimer.

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Demais estudos indicam que, quando reativado no cérebro, o vírus pode provocar inflamação e favorecer o acúmulo de beta-amiloide e tau, dois biomarcadores da doença.

Alzheimer: pesquisas

A pesquisa também identificou a presença de gingipaínas, enzimas tóxicas produzidas pela P. gingivalis, em menor grau nos cérebros de pessoas sem diagnóstico de Alzheimer. Isso sugere que a infecção cerebral pela bactéria não é consequência de má higiene oral após o início da demência, mas pode estar relacionada a um processo que antecede os sintomas clínicos da doença.

Enquanto isso, pesquisadores na Austrália trabalham no desenvolvimento de uma vacina contra a bactéria, cujos testes começaram em 2018. Uma vacina eficaz poderia prevenir a periodontite e, dependendo dos resultados de futuros estudos, até mesmo reduzir o risco de Alzheimer.

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Outros estudos também investigam o papel de infecções fúngicas no sistema nervoso central, levantando a hipótese de que fungos possam estar envolvidos na neurodegeneração. Essas descobertas reforçam a necessidade de considerar fatores infecciosos na pesquisa sobre demências, ampliando o foco para além das hipóteses genéticas e metabólicas.

A manutenção da saúde bucal e a prevenção de infecções sistêmicas podem ser estratégias importantes para reduzir riscos, assim como o desenvolvimento de terapias que combatam agentes infecciosos no cérebro.