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SÃO PAULO – As nomeações de parentes feitas pela governadora de Roraima, Suely Campos (PP), para cargos do primeiro escalão da administração estadual fomentaram questionamentos sobre a legalidade das indicações em todo o país e desagradaram o vice-governador do Estado, Paulo César Quartiero, do Democratas.
Após ter divulgado nota em uma rede social, na qual afirmou não ter participado da transição do governo estadual, tampouco da escolha do secretariado, o democrata concedeu entrevista exclusiva ao InfoMoney, reforçando o descontentamento com a postura de Suely.
“Na campanha inteira, nós lutamos contra a máquina poderosa e derrotamos dizendo que Roraima estava sujeita a uma oligarquia promovida pela família Jucá”, explicou Quartiero, se referindo ao senador Romero Jucá, do PMDB, e à Rodrigo Jucá, do mesmo partido, que concorreu como vice-governador do estado na chapa encabeçada por Chico Rodrigues (PSB). ”Após as eleições, há novamente uma tentativa de colocar outra oligarquia no lugar. Não foi isso que nós tínhamos em mente e não foi isso que prometemos durante a campanha eleitoral”, completou.
Vale lembrar que a progressista indicou as filhas Emília Santos e Danielle Araújo para a Secretaria Estadual de Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes) e Casa Civil, respectivamente. A irmã da governadora, Selma Mulinari, foi nomeada para a Secretaria Estadual de Educação (Seed).
Outros parentes que vão compor o secretariado estadual de Roraima são Kalil Coelho e Paulo Linhares, que ocuparão os cargos de titular e adjunto da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau). Ambos são sobrinhos de Suely.
“Nós prometemos que iríamos ter um governo austero, sério, que iria gerir com responsabilidade os recursos do estado, utilizando eles em benefício da população. Eu não participei da transição, nem da escolha do secretariado e não concordo com a atual composição”, pontuou o vice-governador, completando as nomeações de Suely não foram felizes.
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Indagado sobre o posicionamento da progressista, que explicou que a indicação de parentes para cargos públicos seria uma prática comum, Quartiero discordou e disse que durante a campanha ambos defenderam uma mudança no método de governo. “O convívio ficou complicado. Enquanto tiverem certos secretários lá, eu não participo de coisa nenhuma desse governo”, esbravejou o democrata, citando Hipérion Oliveira, que foi nomeada para a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).
De acordo com Quartiero, Oliveira – que é primo de Suely – foi um ativista apoiador da demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol.
“Ele ajudou a expulsar agricultores da área indígena. Trabalhou atendendo interesses de pessoas que queriam a retirada de plantadores, que dependiam da terra para o sustento”, lamentou o vice-governador. “Era a última nomeação a ser feita. A indicação dele é como nomear o coveiro para tomar conta da maternidade. A única credencial que ele conhece de agricultura é expulsar os agricultores de suas terras. É uma coisa inexplicável”, acrescentou.
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Ao final da entrevista, ele voltou a dizer que a postura de Suely vai na contramão de tudo que eles prometeram ao longo da campanha eleitoral. “Roraima está fragilizada por uma administração desastrosa nos últimos sete anos e era governada por pessoas que confundiam o público com privado. Por isso, nosso estado passou a ter várias alternâncias de governantes, parecia um hotel de alta rotatividade. Essa postura da Suely acaba dando ainda mais munição para as pessoas que procuram atrapalhar o desenvolvimento do nosso Estado”, reclamou.
O vice-governador destacou que não irá endurecer o discurso para forçar a progressista recuar em suas indicações e disse que não pode interferir numa decisão individual. “Qual é a função do vice? Se houver uma ausência temporária, a função do vice é tapar o buraco. O cargo de vice-governador é ser alguém que está na reserva”, pontuou, acrescentando que se reserva o direito de não gostar das nomeações de Suely. “Eu fico preocupado que esta atitude acabe aumentando as instabilidades políticas”.
Mesmo sem interferir, Quartiero garantiu que tentará alertar a governadora quando achar adequado e que a apoiará no início da gestão. “O momento não é de brigas, mas de união. Vamos colaborar com o governo dela, mesmo assim. Temos de ter maturidade e procurar as pessoas que foram adversárias na campanha e fazer alianças. O estado precisa se desenvolver. Não podemos ficar dependentes de energia vindas de termoelétricas, precisamos mudar isso e encontrar um rumo”, concluiu.