Venezuela rebate nota do governo Lula: “Parece ditada pelos Estados Unidos”

Aliado de Lula, governo do ditador venezuelano Nicolás Maduro subiu o tom contra a chancelaria brasileira, classificando nota do Itamaraty sobre eleições no país vizinho como "cinzenta e intrometida"

Fábio Matos

Nicolás Maduro governa a Venezuela desde 2013, após a morte de Hugo Chávez (Foto: Reprodução)
Nicolás Maduro governa a Venezuela desde 2013, após a morte de Hugo Chávez (Foto: Reprodução)

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O governo do ditador Nicolás Maduro, da Venezuela, reagiu ao comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil no qual o Itamaraty demonstra “preocupação” com os rumos do processo eleitoral no país vizinho.

Na terça-feira (26), o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela divulgou nota em que afirma que a mensagem brasileira continha “comentários carregados de profundo desconhecimento e ignorância sobre a realidade política na Venezuela”.

Ainda de acordo com o regime de Maduro, o documento divulgado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “parece ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos”.

“O governo venezuelano tem mantido uma conduta fiel aos princípios que regem a diplomacia e as relações amistosas com o Brasil, em nenhuma hipótese emite nem emitirá juízos de valor sobre os processos políticos e judiciais que ocorrem naquele país. Consequentemente, tem a moral para exigir o mais estrito respeito pelo princípio da não ingerência nos assuntos internos e na nossa democracia, uma das mais robustas da região”, diz a nota da chancelaria venezuelana.

“A Venezuela repudia a declaração cinzenta e intrometida, redigida por funcionários do Itamaraty, que parece ter sido ditada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, onde são emitidos comentários carregados de profunda ignorância e ignorância sobre a realidade política na Venezuela”, diz o texto.

Apesar do tom duro em relação ao comunicado do Itamaraty, o governo da Venezuela diz que “aprecia” o posicionamento de Lula em relação às sanções impostas pelos Estados Unidos contra o país. Na nota do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o país “reitera seu repúdio a quaisquer tipos de sanção que, além de ilegais, apenas contribuem para isolar a Venezuela e aumentar o sofrimento do seu povo”.

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O que disse o governo brasileiro

Tradicional aliado de Maduro na Venezuela, o governo Lula divulgou, na terça-feira (26), uma nota oficial na qual mostrou “preocupação” com o processo eleitoral no país vizinho, após a principal candidata de oposição ao regime não ter conseguido obter o registro para sua candidatura.

“O governo brasileiro acompanha com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral” na Venezuela, diz o comunicado do Ministério das Relações Exteriores. Foi a primeira manifestação mais dura do governo Lula a respeito das eleições venezuelanas, contestadas pela comunidade internacional.

O prazo de registro de candidaturas para o pleito na Venezuela terminou na noite de segunda-feira (25). Porém, a coligação de oposição a Maduro anunciou que não conseguiu registrar a candidatura da filósofa e professora universitária Corina Yoris.

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A nota do Itamaraty destaca que o impedimento do registro da candidatura não é compatível com os acordos assinados em outubro do ano passado, em Barbados, para promoção de diálogo, direitos políticos e garantias eleitorais na Venezuela. E que, até o momento, não houve explicação oficial para este impedimento.

“Com base nas informações disponíveis, observa que a candidata indicada pela Plataforma Unitaria, força política de oposição, e sobre a qual não pairavam decisões judiciais, foi impedida de registrar-se, o que não é compatível com os acordos de Barbados. O impedimento não foi, até o momento, objeto de qualquer explicação oficial”, afirma o governo brasileiro.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”