Veja o que dizem as defesas dos indiciados pela Polícia Federal

O relatório final da Polícia Federal tem mais de 800 páginas. O documento foi finalizado na tarde desta quinta-feira (21) e encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF)

Fábio Matos

O ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Walter Braga Netto (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
O ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Walter Braga Netto (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

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Trinta e sete pessoas, entre as quais o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foram indiciadas, nesta quinta-feira (21), pela Polícia Federal (PF), por suposto envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado no Brasil. 

Bolsonaro foi indiciado pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de estado e organização criminosa. 

Também foram indiciados os generais Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); e Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa e candidato a vice-presidente da República nas eleições de 2022. 

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Entre os 37 indiciados, também estão o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo Bolsonaro, e Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, partido do ex-presidente da República. 

O indiciamento de Bolsonaro pela PF acontece no âmbito do inquérito que investiga a suposta tentativa de golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder, no fim de 2022, após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições daquele ano. 

O relatório final da PF tem mais de 800 páginas. O documento foi finalizado na tarde desta quinta-feira (21) e encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF). 

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, deve compartilhar o relatório com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Caberá ao PGR, Paulo Gonet, a decisão sobre a apresentação ou não de uma denúncia contra os investigados. 

Veja o que disseram as defesas de alguns dos indiciados pela PF que já se manifestaram:

Jair Bolsonaro

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“O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei. […]

Tem que ver o que tem nesse indiciamento da PF. Vou esperar o advogado. Isso, obviamente, vai para a Procuradoria-Geral da República. É na PGR que começa a luta. Não posso esperar nada de uma equipe que usa a criatividade para me denunciar.”

Filipe Martins

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“Vemos a notícia do indiciamento de Filipe Martins com naturalidade. A PF precisava justificar o que fez; levando um inocente à prisão. Não conseguirá! Temos as provas!”

Walter Braga Netto

“A defesa jurídica do General Walter Souza Braga Netto inicialmente destaca e repudia a forma com que as informações de inquéritos são difundidas ‘em primeira mão’ para alguns veículos de imprensa e não para os diretamente interessados.”

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José Eduardo de Oliveira e Silva

“Menos de 7 dias depois de dar depoimento à Polícia Federal o meu cliente vê seu nome estampado pela Polícia Federal como um dos indiciados pelos investigadores. Os mesmos investigadores que não se furtaram em romper a lei e tratado internacional ao vasculhar conversas e direções espirituais realizadas pelo padre os possuem garantia de sigilo. […]

Quem deu autorização à Polícia Federal de romper o sigilo das investigações? Até onde eu sei, o ministro Alexandre de Moraes decretou sigilo absoluto. Não há qualquer decisão do magistrado até o momento rompendo tal determinação.

A nota da Polícia Federal com a lista de indiciados é mais um abuso realizado pelos responsáveis da investigação e, tendo publicado no site oficial do órgão policial, contamina toda instituição e a torna responsável pela quebra da determinação do Ministro de sigilo absoluto.”

Marcelo Costa Câmara e Tércio Arnaud Tomaz

“Ele [o indiciamento] não se sustenta diante da ausência de qualquer elemento concreto. […] 

Confiamos que o representante do Ministério Público, em sua atuação isenta, técnica e guiada pela busca da verdade, reconhecerá a necessidade de diligências complementares para esclarecer integralmente os fatos, o que evitará a propositura de denúncia baseada em elementos insuficientes ou especulativos.”

Ronald Ferreira de Araujo Junior

“Embora o relatório final da investigação, ao que se sabe, ainda não tenha sido enviado ao Supremo Tribunal Federal, e tampouco tenha sido oferecida denúncia pela Procuradoria-Geral da República, o indiciamento de Ronald Ferreira de Araújo Júnior não condiz, a toda evidência, com a realidade dos fatos. […]

Militar por vocação, Ronald não participou, a qualquer título, dos supostos crimes investigados, tampouco concorreu, intelectual ou materialmente, para a prática de qualquer conduta voltada à subversão da ordem jurídica do país que sempre procurou dignificar por meio da farda.”

Paulo Figueiredo

“Soube pelos jornais que o ex-presidente Bolsonaro e eu fomos indiciados pela Polícia Federal do Brasil em um inquérito sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2022 que nunca ocorreu. O indiciamento inclui 37 pessoas, entre elas agentes públicos de alto escalão, militares, jornalistas e até um padre católico. A conduta criminosa que me é atribuída é a de reportar, com precisão, os acontecimentos envolvendo o alto comando do Exército brasileiro. Curiosamente, não estive no Brasil sequer uma vez em 2022, tendo realizado todo o meu trabalho jornalístico nos Estados Unidos, onde resido há quase uma década.

Devo dizer que me sinto honrado. Entendo este indiciamento como parte de uma campanha de intimidação conduzida pela GESTAPO de Alexandre de Moraes, que busca silenciar tanto a mim quanto o trabalho que venho realizando para conscientizar a sociedade e as autoridades americanas sobre a escalada ditatorial em curso no Brasil, que segue cada vez mais alinhado com a China.

Deixo claro: não respondo a intimidações, tampouco recuarei no exercício das minhas liberdades dadas por Deus. Tenho inclusive plena confiança de que os Estados Unidos, sob uma nova administração que valoriza a liberdade, tratarão esses acontecimentos com a gravidade que merecem.”

Veja a lista completa com os 37 indiciados pela PF:

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”