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Em um vídeo apreendido pela Polícia Federal (PF), no âmbito da operação Tempus Veritatis, deflagrada na quinta-feira (8) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e alguns de seus aliados mais próximos, o então chefe do Executivo aparece irritado e preocupado com seu destino político após as eleições de 2022.
Durante reunião com ministros, em 5 de julho de 2022, Bolsonaro afirma que é necessário “reagir” antes da eleição, cujo primeiro turno ocorreria em 3 meses. O vídeo, obtido pelo jornal O Globo, foi apreendido na casa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência que foi preso e fez delação premiada.
Na dura conversa com a equipe ministerial, Bolsonaro também demonstra pessimismo em relação às suas chances de ser reeleito presidente da República. “Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida de que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições”, diz o então presidente aos seus subordinados.
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“Todos aqui têm uma inteligência bem acima da média. Todos aqui, como todo o povo ali fora, têm algo a perder. Nós não podemos, pessoal, deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintando”, prossegue Bolsonaro, bastante irritado. “Eu parei de falar em voto impresso e eleições há umas 3 semanas. Vocês estão vendo agora que… eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes”, completa o mandatário, sem especificar do que se tratava.
Participaram da reunião nomes como os generais Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa e candidato a vice-presidente da chapa de Bolsonaro em 2022; Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional): Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa e ex-comandante do Exército Brasileiro), além de Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Paulo Guedes (ex-ministro da Economia) e Mário Fernandes (chefe-substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República). Com exceção de Guedes, todos foram alvos da Operação Tempus Veritatis.
“Vocês sabem o que está acontecendo. Achando que esses caras estão de brincadeira? Ah, vamos lá… Não estão de brincadeira. O que está em jogo é o bem maior que nós temos e contamos aqui na terra, que é a p… da liberdade. Mais claro, impossível. Nós [inaudível] vamos ter que reagir”, afirma Bolsonaro.
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Na reunião ministerial, Bolsonaro voltou a atacar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), questionando a isenção e integridade dos magistrados. “Alguém acredita em [Edson] Fachin, [Luís Roberto] Barroso e Alexandre de Moraes? Se acreditar, levanta o braço. Acredita que são pessoas isentas?”.
“Se não tiver argumento para me demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Está no lugar errado. Se está achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar, como ganhei em 2018 – e vou provar –, o cara está no lugar errado”, completa o presidente, em tom de ameaça aos ministros.
A operação da PF
Foram cumpridos 33 mandados de busca e apreensão na operação Tempus Veritatis, 4 mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares (como proibição de manter contato com os demais investigados; proibição de se ausentar do país, com entrega dos passaportes em até 24 horas; e suspensão do exercício de funções públicas). As medidas judiciais foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, relator do inquérito das milícias digitais.
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Quatro ex-ministros de Bolsonaro que estavam na reunião presidencial de julho de 2022 foram alvos da operação: Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Anderson Torres. Também foram alvo Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), que acabou preso por posse ilegal de arma, e Tércio Arnaud Thomaz, ex-assessor de Bolsonaro, apontado como um dos principais nomes do chamado “gabinete do ódio”.
Os quatro alvos de mandados de prisão são: Filipe Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro que levou a “minuta do golpe” ao então presidente (que pediu mudanças no documento); Marcelo Câmara, coronel do Exército e ex-assessor especial do ex-presidente; e outros dois militares de forças especiais. Já Bolsonaro foi alvo de medidas restritivas: Moraes o proibiu de entrar em contato com investigados e determinou que o ex-presidente entregue seu passaporte em até 24 horas.
Esta é a segunda operação que envolve o entorno mais próximo de Bolsonaro em duas semanas. A investigação sobre o uso ilegal de um software israelense para monitorar alvos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), durante o governo do ex-presidente, chegou ao seu filho Carlos Bolsonaro (Republicanos), vereador do Rio de Janeiro, e ao deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), diretor da Abin em seu governo e pré-candidato à Prefeitura do Rio.
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Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Bolsonaro disse estar sofrendo “uma perseguição implacável”. “Me esqueçam, já tem outro governando o país”, disse em chamada por vídeo. O ex-presidente já foi condenado pelo TSE e está inelegível até 2030 por ataques e disseminação de informações falsas sobre o sistema eleitoral.