“Todo mundo bastante otimista com o calendário”, diz Haddad sobre reforma tributária

"Se tem um processo suprapartidário que está acontecendo no Brasil, é o da reforma tributária. Está todo mundo na mesma linha, todo mundo concorda com os princípios", afirmou o ministro da Fazenda

Fábio Matos

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) (Foto: Diogo Zacarias/MF)
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) (Foto: Diogo Zacarias/MF)

Publicidade

As discussões entre o Congresso Nacional e o governo federal sobre a regulamentação da reforma tributária estão bem encaminhadas e há a expectativa de que a votação dos projetos de lei complementares ocorra ainda antes do recesso parlamentar.

O otimismo foi vocalizado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que se reuniu, nesta terça-feira (2), com parlamentares que integram o grupo de trabalho que analisa os projetos na Câmara dos Deputados.

Baixe uma lista de 11 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de crescimento para os próximos meses e anos

Continua depois da publicidade

O relatório deve ser discutido com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) em reunião com os líderes partidários ainda nesta semana.

“Recebemos hoje a segunda comissão da regulamentação da reforma tributária. Está todo mundo bastante otimista com o calendário, com a qualidade do texto, com os aperfeiçoamentos que certamente o Congresso vai apresentar, mas confiantes de que vai ser um texto ainda melhor do ponto de vista técnico, político e social”, comentou Haddad em entrevista coletiva, após a reunião com os parlamentares no Ministério da Fazenda.

“Se tem um processo suprapartidário que está acontecendo no Brasil, é o da reforma tributária. Você nem consegue distinguir um parlamentar do outro ou o partido. Está todo mundo empurrando para o mesmo lado de pacificar este país, diminuir a litigiosidade, aumentar a transparência, fazer todo mundo pagar para pagar menos, o consumo popular ter uma incidência menor de alíquota. Está todo mundo na mesma linha, todo mundo concorda com os princípios”, garantiu Haddad.

Continua depois da publicidade

De acordo com o chefe da equipe econômica, há uma “tranquilidade” muito maior do governo em relação à votação da regulamentação da reforma do que havia antes da apreciação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que instituía as mudanças na legislação tributária.

“Aprovamos uma emenda constitucional, que é muito mais difícil. Agora são detalhes, perto do que já foi discutido. Os temas centrais já estão na Constituição. O que entra aqui e entra lá é detalhe. Está tudo bem mais tranquilo”, afirmou Haddad.

A regulamentação da reforma

A equipe econômica do governo espera costurar a votação em plenário ainda antes do recesso parlamentar − previsto para 17 de julho, conforme estabelece a Constituição Federal.

Continua depois da publicidade

O calendário é considerado ousado, tendo em vista a complexidade das matérias em discussão. Por se tratarem de projetos de lei complementares (PLPs), os textos precisam de apoio de maioria absoluta na Câmara dos Deputados − o que equivale a 257 dos 513 parlamentares − e, depois, no Senado Federal − ou seja, 41 dos 81 integrantes da Casa. Mas congressistas têm salientado as convergências entre integrantes de diferentes legendas e sustentado que é possível cumprir o calendário previsto.

A regulamentação da reforma tributária está dividida em dois textos. O primeiro deles (PLP 68/2024) é focado na construção da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), além do Imposto Seletivo (IS), que substituirão um conjunto de 3 tributos federais (PIS, Cofins e IPI) e de outros 2 subnacionais (ICMS e ISS).

Ele também aborda os regimes específicos de tributação, regras para alíquotas, normas de incidência e o sistema de créditos e devolução de tributos recolhidos. Além de setores favorecidos por alíquotas reduzidas, da criação da Cesta Básica Nacional, dos incentivos à Zona Franca de Manaus e Áreas de Livre Comércio e das regras de transição e constituição dos fundos de compensação.

Continua depois da publicidade

Já o segundo texto (PLP 108/2024) aborda a questão federativa referente ao IBS. Nele, são disciplinados pontos como a instituição e estruturação do Comitê Gestor do novo imposto, o contencioso administrativo relacionado ao tributo e disposições relacionadas à transição a partir do sistema vigente. O projeto também avança sobre a regulamentação do ITCMD e introduz mudanças na legislação que trata do ITBI.

Barômetro do Poder

Analistas políticos consultados pelo Barômetro do Poder, levantamento feito pelo InfoMoney com consultorias e analistas independentes sobre alguns dos principais temas em discussão na cena política nacional, reforçam um quadro de otimismo com o avanço da reforma tributária no Congresso Nacional.

Segundo o estudo, realizado entre os dias 11 e 17 de junho, 82% dos participantes atribuíram chances elevadas de conclusão das discussões sobre os pontos de regulamentação da Emenda Constitucional nº 132/2023 ainda neste ano. Apenas 9% veem probabilidade baixa de o cenário se confirmar.

Continua depois da publicidade

Para os especialistas consultados, os pontos mais sensíveis desta etapa da discussão envolvem a definição da lista de produtos sobre os quais incidirá o Imposto Seletivo (que ficou conhecido popularmente como “imposto do pecado”), as regras de cobrança de impostos nos regimes especiais (combustíveis e lubrificantes, serviços financeiros, sociedades cooperativas, serviços de hotelaria, bares, restaurantes etc.) e as regras de transição e ressarcimento dos saldos credores atuais.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”