“Temos de manter uma interlocução”, diz Celso Amorim sobre relação com Venezuela

O assessor da Presidência disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não conversa pessoalmente com Maduro desde antes da eleição, “por não ter recebido sinais de abertura para um diálogo franco"

Equipe InfoMoney

Celso Amorim, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)
Celso Amorim, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

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O Brasil deve insistir em ser um interlocutor junto à Venezuela, apesar dos atritos diplomáticos ocorridos após a eleição presidencial do dia 28 de julho, que resultou na reeleição do ditador Nicolás Maduro. A avaliação foi feita nesta terça-feira (29) pelo embaixador Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais.

“Se o Brasil quiser ter uma influência positiva [na Venezuela], temos de manter uma interlocução. Estamos mantendo uma interlocução, mas diminuiu o nível dessa interlocução desde a eleição”, afirmou Amorim à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.

O assessor da Presidência disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não conversa pessoalmente com Maduro desde antes da eleição, “por não ter recebido sinais de abertura para um diálogo franco”.

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Amorim acrescentou que, atualmente, há um “mal-estar” entre os governos brasileiro e venezuelano em razão, entre outras coisas, da não apresentação dos dados eleitorais por mesa de votação prometidos pelo governo Maduro. O embaixador acrescentou que espera que essa situação seja resolvida.  

“Se queremos ter alguma influência no processo de democratização da Venezuela, temos de ter alguma interlocução. Se não, aparecem outros. Você tem, de um lado, os Estados Unidos e, do outro lado, países distantes. Não queremos que a Venezuela seja palco de uma Guerra Fria ou de um conflito na Amazônia”, disse Amorim.

O embaixador afirmou que se ocupa da Venezuela há 30 anos, desde quando era ministro das Relações Exteriores do governo de Itamar Franco. Ele disse que ouviu, naquela época, comentários golpistas de empresários venezuelanos contra o então presidente Rafael Caldeira.

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“Na Venezuela, a construção da democracia depende ainda de um consenso básico sobre os princípios da convivência política. Não se limita a uma questão puramente política, mas envolve toda a sociedade que é extremamente dividida e desigual. Por isso, trata-se de um processo longo. Cada eleição é importante por si mesma, mas faz parte de um conjunto mais amplo”, afirmou.

De acordo com Amorim, é preciso um grande esforço de diálogo e negociação uma vez que o governo brasileiro deseja que o vizinho seja estável. “Nesse sentido, assinalo que nos próximos ano estão previstas eleições regionais e parlamentares, é um risco, mas também uma oportunidade. Se um pais quer ter importância positiva, não pode se desqualificar como interlocutor”, explicou.

Afastamento

O Brasil tem se afastado diplomaticamente da Venezuela depois da eleição de 28 de julho. O pleito foi contestado pela oposição, por organismos internacionais e diversos países como o Brasil, pelo fato de os dados eleitorais por mesa de votação não terem sido apresentados.

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Na última semana, a Venezuela acusou o Brasil de vetar a participação dela no Brics, que deve convidar 13 novos países como membros associados. A Venezuela, apesar de querer entrar no bloco, ficou de fora da nova lista. Segundo Amorim, a reação da Venezuela em relação ao Brics foi “desproporcional”. 

(Com Agência Brasil)

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