STF “não tem de se meter em tudo”, diz Lula sobre descriminalizar porte de maconha

Um dia depois de a Corte formar maioria a favor da descriminalização do porte para uso pessoal, Lula disse que deveria caber ao Congresso Nacional tratar do tema, tendo como base a opinião de médicos e especialistas

Fábio Matos

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente da República (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente da República (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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O Supremo Tribunal Federal (STF) não é a instância adequada para decidir sobre a descriminalização do porte de maconha e de outras drogas, na avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Um dia depois de a Corte formar maioria a favor da descriminalização do porte para uso pessoal, Lula disse que deveria caber ao Congresso Nacional tratar do tema, tendo como base a opinião de médicos e especialistas no assunto.

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“Se um ministro da Suprema Corte pedisse um conselho para mim, eu diria: recuse essa proposta. A Suprema Corte não tem que se meter em tudo. Não pode pegar qualquer coisa e ficar discutindo porque começa a criar uma rivalidade que não é boa entre quem manda: o Congresso ou a Suprema Corte”, afirmou Lula, em entrevista ao UOL.

“Acho que [a decisão] deveria ser da ciência. Cadê a comunidade psiquiátrica deste país que não se manifesta?”, indagou o presidente.

“Se a ciência já está provando em vários lugares do mundo que é possível, por que não se encontra algo saudável, referendado pelos médicos que entendem isso? Alguma referência mais nobre que diga ‘é isso’ e a gente obedece. Por que fica essa disputa de vaidade [entre os Poderes]?”, questionou Lula.

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Na entrevista, o petista disse, ainda, que entende ser correto “que haja diferenciação entre o usuário e o traficante”. “É necessário que a gente tenha uma decisão sobre isso para que possamos regular”, afirmou.

A decisão do STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, na terça-feira (25), descriminalizar o porte de maconha para uso pessoal. Na retomada do julgamento sobre o caso, o ministro Dias Toffoli esclareceu seu voto sobre o tema e informou que acompanharia o relator do caso, ministro Gilmar Mendes. Toffoli disse, aliás, que o seu voto abrange todas as drogas, e não apenas a maconha.

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Na sequência, os ministros Luiz Fux e Cármen Lúcia também acompanharam o relator. Com isso, o placar no Supremo ficou em 8 votos a 3 a favor da descriminalização do porte de maconha para uso pessoal. O resultado, no entanto, ainda não foi anunciado formalmente porque o julgamento prosseguirá na quarta-feira (26) e, em tese, os ministros ainda podem mudar seu entendimento.

Além de Gilmar, Toffoli, Cármen e Fux, votaram pela descriminalização os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso (presidente da Corte) e Rosa Weber (que já se aposentou). 

Foram vencidos os ministros Cristiano Zanin, André Mendonça e Nunes Marques, contrários à descriminalização.

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De acordo com a manifestação da maioria do Supremo, o porte de maconha continua sendo ilícito, mas as punições aos usuários passam a ter natureza administrativa, e não criminal.

No julgamento, que deve ser retomado na quarta-feira (26), a Corte ainda precisa definir a quantidade de maconha que caracterizaria uso pessoal, e não tráfico de drogas. Ela deve ficar entre 25 e 60 gramas ou seis plantas fêmeas de cannabis.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”