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Em meio a uma desconfiança com os propósitos do governo desde a operação da Polícia Federal na semana passada que envolveu pessoas próximas a ele, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez um aceno ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao se encontrar com o petista esta semana, ao mesmo tempo em que aliados do parlamentar passaram a reivindicar espaços no governo e verbas para “estabilizar” o apoio ao Palácio do Planalto na Casa.
Por ora, interlocutores de Lira dizem que a pauta de votações — que deverá ter como ponto principal a reforma tributária e medidas provisórias como a da recriação dos programas Minha Casa, Minha Vida e Mais Médicos — está preservada. Mas, sem uma melhora efetiva na relação, não descartam retaliações de Lira ao governo.
Na semana passada, a tensão entre Lira e o Planalto chegou ao momento máximo em meio ao processo de votação da medida provisória de reestruturação dos ministérios e à operação da PF que atingiu aliados diretos do presidente da Câmara em Alagoas.
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Segundo fontes ouvidas pela Reuters, Lula telefonou para Lira em busca de apoio para aprovar a MP na quarta-feira. Após intensa negociação, a medida foi aprovada na Câmara na madrugada de quinta, véspera de a medida caducar, o que seria a maior derrota do governo no Congresso.
Na quinta de manhã, contudo, o presidente da Câmara foi surpreendido com uma operação da PF que investiga superfaturamento na compra de equipamentos de robótica para escolas públicas em Alagoas, que teve entre os alvos um ex-assessor de Lira na liderança do PP da Casa.
Lira, segundo duas fontes, ficou enfurecido com a ação policial ao avaliar que os primeiros sinais e indícios era de que seria direcionada para tentar atingi-lo. A ação, segundo pessoas próximas a Lira, se refere a um caso antigo e, conforme alegam, não haveria indícios de irregularidades do deputado. Outra queixa foi a vinculação com seu nome, por meio de vazamentos, da apreensão de milhares de reais durante a ação.
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“Eu não vou comer essa corda, vou me ater a receber informações mais precisas, e cada um é responsável pelo seu CPF nesta terra e neste país”, disse Lira, em entrevista à GloboNews, no dia da operação.
Uma das fontes ligada ao presidente da Câmara disse que o cenário poderá ficar imprevisível e instável para o governo caso se confirme uma intenção de atingir Lira por meio da PF. “A operação tumultua à medida que se identificar que é algo dirigido contra ele”, afirmou.
“Todo mundo tem certeza que o (ministro da Justiça, Flávio) Dino quis dar recado. Como Lira vai reagir, não tenho ideia”, disse outra fonte.
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Ainda assim, no dia da operação, o ministro da Justiça fez questão de ir pessoalmente à residência oficial da Câmara para dizer a Lira que a ação foi determinada pela Justiça e que a PF — subordinada à pasta que comanda — só cumpriu as diligências, conforme uma fonte ligada a Dino com conhecimento direto das tratativas.
Em entrevista à GloboNews nesta terça-feira, Dino garantiu que não houve nenhuma determinação política para que uma decisão jurídica contra Lira andasse ou não. Ele ressaltou que não é o ministro da Justiça ou a PF que decide quem é investigado.
Lira e Lula voltaram a se falar na segunda-feira de manhã, a sós, em café da manhã no Palácio da Alvorada. No encontro, segundo uma das fontes ligadas a Lira, o petista voltou a negar envolvimento do governo na ação da PF e, usando seu exemplo pessoal, instou-o a enfrentar as denúncias para provar sua inocência.
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Mais tarde, em encontro de Lula com lideranças do Senado, o presidente fez um rápido relato sobre o encontro de mais cedo com Lira, segundo o líder do PSDB na Casa, Izalci Lucas (DF). O tucano disse que Lula defendeu que o presidente da Câmara responda a eventuais questionamentos e ressaltou que o governo não tem a ver com a investigação.
“(O Lula) falou nesse sentido, de que ele (Lira) faça a defesa, são fatos antigos… e não houve interferência (do governo)”, disse Izalci.
O chefe do Executivo também admitiu no encontro com Lira, conforme uma das fontes ligadas ao deputado, que pode fazer trocas pontuais em ministérios hoje comandados pelo União Brasil para favorecer aliados de Lira.
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Após o encontro, o presidente da Câmara afirmou, em entrevista à CNN Brasil, que o “combustível do prestígio” dele e de líderes partidários com os deputados para aprovar projetos de interesse do governo está acabando. Mas indicou que o petista vai entrar pessoalmente na articulação política a fim de buscar uma base sólida.
No governo, segundo uma fonte palaciana com conhecimento das tratativas, é dado como praticamente certa a troca da ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União-RJ), pelo deputado Celso Sabino (União-PA), o que pode ser efetivado nos próximos dias. Outras mudanças não estão descartadas, conforme a fonte.
No União Brasil, segundo uma fonte da cúpula da legenda, Sabino seria um nome da legenda para assumir um dos ministérios atualmente com o partido. Ele goza de influência na legenda e é próximo de Lira. Contudo, isso só ocorreria se as pastas voltassem a ser encorpadas — muitas delas, como a do Turismo, perderam órgãos e estruturas importantes.
A fonte ligada ao União Brasil destacou que a Câmara, com esses movimentos, quer manter o protagonismo que teve com o governo anterior, do presidente Jair Bolsonaro, em que, com o extinto “orçamento secreto”, houve uma terceirização da gestão orçamentária para as cúpulas das duas Casas Legislativas.
“O governo, qualquer um que fosse eleito, ficou refém do Congresso… É o sistema que criaram, fica difícil de sair dele”, resumiu essa fonte.
Sem sintonia
Um dos parlamentares mais próximos de Lira, o deputado Cláudio Cajado (PP-BA) disse que Lula errou na primeira composição ministerial e criou uma falta de sintonia com a Câmara porque partidos como MDB, PSD e União Brasil têm ministérios, mas isso não tem se refletido em votos na Casa.
Cajado, que relatou o arcabouço fiscal na Câmara, disse que o PP e o Republicanos, que se declaram independentes, deram mais votos na proposta que a Rede, por exemplo. Fontes ligadas a Lira calculam que quase metade da bancada do PP, de 49 deputados, poderia apoiar o governo em votações caso a legenda tenha espaço no governo.
“Ou ele se reorganiza em termos de ministério e de apoio ou então vai continuar tendo esse problemas, isso está claro”, alertou Cajado, acrescentando que ainda há reclamações sobre nomeações represadas de terceiro escalão e liberação de recursos de emendas.
O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), reconheceu que há mesmo um desatrelamento entre o espaço do União no ministério e o respectivo apoio da bancada em votações. Mas, em linha com outros parlamentares e fontes ligadas ao governo, preferiu não falar em reforma ministerial.
Para Cláudio Cajado, no momento, somente a pauta econômica — dentre elas a reforma tributária — não deverá sofrer contratempos. “A pauta econômica está preservada, além da pauta econômica não tem nada preservado, a partir de agora o aviso foi dado”, destacou.