Sergio Moro ganha espaço como opção na “terceira via” para eleições de 2022

Para analistas, ex-juiz da Lava Jato é o nome mais forte para derrubar polarização entre Lula e Bolsonaro, mas há uma série de obstáculos à candidatura

Marcos Mortari

O ex-juiz Sergio Moro em evento de filiação ao Podemos (Fotos: Saulo Rolim / Sérgio Lima / Danilo Martins/ Divulgação)
O ex-juiz Sergio Moro em evento de filiação ao Podemos (Fotos: Saulo Rolim / Sérgio Lima / Danilo Martins/ Divulgação)

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Em meio à profusão de candidaturas na “terceira via” para as próximas eleições presidenciais, analistas políticos veem hoje o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) como o nome com maior potencial para liderar um movimento alternativo à disputa travada entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A 30ª edição do Barômetro do Poder, iniciativa do InfoMoney que compila mensalmente as avaliações e expectativas de consultorias de análise de risco político e analistas independentes sobre assuntos em destaque na política nacional, mostra que tal percepção é compartilhada por 7 de 13 especialistas (54%) que se manifestaram sobre o assunto.

Outros 38% acreditam que nenhuma das opções até o momento colocadas terá condições de ocupar o espaço de líder da “terceira via” e em condições de tirar Lula ou Bolsonaro do segundo turno da corrida ao Palácio do Planalto. Para 8%, os ventos podem soprar a favor de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado Federal.

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“Enquanto Bolsonaro dá ‘all-in’ na complicada busca pela reeleição ao se entregar à aliança com o PL, de Valdemar Costa Neto, Lula realizou expressiva demonstração de força em sua recente agenda na Europa. A terceira via segue batendo cabeça, e Sérgio Moro se fortalece ao se antecipar, surgindo como uma segunda via do bolsonarismo”, disse um participante.

Apesar do momento favorável para a campanha, Moro tem como um dos grandes obstáculos para crescer ao longo da disputa o fato de sua principal bandeira ‒ o combate à corrupção ‒ não ocupar o mesmo espaço que teve nas últimas eleições.

O Barômetro mostra que, considerando uma escala de 1 (muito baixo) a 5 (muito alto), a média das avaliações dos especialistas indica que o enfrentamento aos chamados “crimes de colarinho branco” poderia ter impacto de 3,00 sobre a decisão de voto do eleitor, ficando atrás de ao menos 8 temas: inflação (4,86), desemprego (4,79), renda (4,64), fome (4,57), saúde (4,29), desigualdade social (4,00), educação (3,14) e violência (3,14).

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Uma avaliação que circula nos bastidores é que Moro seria hoje um “candidato de uma nota só”, com a agenda ideal para 2018, e que agora terá de se reinventar como possível candidato, mostrando ao eleitorado ser capaz de apresentar soluções para outros problemas do país ‒ sobretudo na esfera econômica.

O movimento já começou a ser feito. Em entrevista concedida duas semanas atrás ao programa “Conversa com Bial”, da TV Globo, Moro colocou-se como pré-candidato ao Palácio do Planalto e revelou que o economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, é hoje um de seus conselheiros econômicos.

Nesta semana, ele foi recebido na casa do economista Luiz Fernando Figueiredo, sócio-fundador da Mauá Capital, em jantar que reuniu 24 empresários e banqueiros. Entre os convidados, estavam Roberto Setubal, do Itaú Unibanco, Luís Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset, e Paulo Galvão, da Klabin.

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Do ponto de vista político, Moro sofre fortes resistências por parte dos integrantes do establishment e deverá enfrentar dificuldades na formação de um arco de alianças sólido. A falta de traquejo para discursos e de experiência também impõe novos desafios ao ex-juiz, que terá de nadar em raia estreita entre o lulismo e o bolsonarismo, explorando a rejeição a ambos.

Esta edição do Barômetro do Poder foi realizada entre os dias 22 e 24 de novembro, com questionários aplicados por meio eletrônico. Foram ouvidas 10 casas de análise de risco político – BMJ Consultores Associados; Control Risks; Dharma Political Risk & Strategy; Empower Consultoria; Medley Global Advisors; Patri Políticas Públicas; Ponteio Política; Prospectiva Consultoria; Pulso Público; Tendências Consultoria Integrada – e 4 analistas independentes – Antonio Lavareda (Ipespe); Carlos Melo (Insper); Claudio Couto (EAESP/FGV) e Thomas Traumann.

Conforme acordado previamente com os analistas, os resultados do levantamento são divulgados apenas de forma agregada, sendo preservado o anonimato das respostas e comentários.

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Riscos e oportunidades

A pouco menos de um ano das eleições, as pesquisas mostram que Sérgio Moro e Ciro Gomes (PDT) dividem o posto de nomes mais bem posicionados para fazer frente à polarização Lula-Bolsonaro na corrida presidencial. Mas caso a avaliação de que Lula está virtualmente no segundo turno se confirme, o pedetista teria menos condições de alavancar sua candidatura.

Segundo pesquisa Ipespe divulgada na sexta-feira (26), Moro ocupa a terceira posição em duas simulações de primeiro turno feitas, com 11% das intenções de voto ‒ tecnicamente empatado com Ciro, que aparece com 9%. Mas ainda são 13 ou 14 pontos percentuais de distância para Bolsonaro, dependendo do cenário, e 31 pontos para Lula.

Já levantamento PoderData divulgado na quarta-feira (24) mostrou que Moro tem 8% das intenções de voto em dois cenários testados. Neste caso, entre 18 p.p. e 21 p.p. de Bolsonaro e 26 p.p. e 28 p.p. de Lula.

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“Moro possui espaço de crescimento que as demais opções da terceira via não dispõem”, avaliam os analistas da consultoria Arko Advice.

“O PSDB está rachado, após uma prévia bastante tumultuada. O MDB posicionará a senadora Simone Tebet (MS) no tabuleiro sem muita convicção. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) vem perdendo espaço. O também ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) desistiu da pré candidatura. E o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), é um nome que empolga pouco”, observam.

Para os especialistas, Moro ainda conta com capital político acumulado ao longo da Operação Lava Jato e conseguiu construir bom relacionamento com integrantes das Forças Armadas e o próprio mercado financeiro.

“Além de manter um espaço conquistado no noticiário e de ter atraído aliados militares, o ex-ministro flerta com o mercado e pode se aproximar do establishment político via União Brasil. Terá, a partir de agora, de construir uma narrativa que ultrapasse os limites do combate à corrupção e de enfrentar os obstáculos que o mundo político apresenta para aqueles que vêm de fora”, concluem.

Uma pesquisa divulgada pela consultoria Ponteio Política mostra que as intenções de voto de Sergio Moro variam de 11% a 18% (este último em cenário sem Bolsonaro) no primeiro turno, figurando hoje entre as alternativas mais viáveis da chamada “terceira via”.

O ex-juiz tem melhor desempenho entre eleitores que avaliam o governo como “regular”. São 16% deste grupo, contra 11% dos que consideram a atual administração “ruim” ou “péssima” e 8% entre os que classificam positivamente a gestão. Dos nomes testados, Moro é o que mais teria votos entre eleitores que aprovam Bolsonaro, desconsiderando o próprio presidente.

Segundo a pesquisa, Moro tem seu melhor desempenho entre eleitores com Ensino Superior (16%), idade acima de 60 anos (15%), renda familiar superior a 10 salários mínimo (23%) e das regiões Sul (17%) e Sudeste (15%).

O levantamento também mostrou que os eleitores que não votariam de jeito nenhum em Lula e Bolsonaro (os chamados “nem-nem”) somam apenas 12%. Considerando aqueles que declaram apoio a Lula ou a Bolsonaro mas que estão abertos a votar em outro candidato (a chamada “terceira via expandida”), o grupo concentraria 63% do eleitorado.

“Há bastante gente que pode mudar de voto, mas tem pouco eleitor que não tem uma predisposição hoje dada. A maioria já está pendendo para um lado ou para outro, mas pode, sim, mudar o jogo no ano que vem. Nada está definido”, afirmou o cientista político Jair Pimentel, responsável pela coordenação da pesquisa.

O levantamento da Ponteio Política mostrou que Moro concentra 77% do eleitorado que diz que não votaria nem em Lula e nem em Bolsonaro. “Moro hoje é quem consegue encampar mais possibilidades para ser essa terceira via. Os dados estão claros nesse sentido”, avaliou o especialista em evento de divulgação do levantamento.

No chamado “núcleo soft” (ou seja, eleitores não convictos) de Bolsonaro, o ex-juiz tem a simpatia de 84%, contra 35% de João Doria (PSDB) e 44% de Ciro Gomes. Já no “núcleo soft” de Lula, a relação muda para 39%, contra 54% e 75%, respectivamente.

“Se formos esperar alguma movimentação entre os eleitores que votam em Lula ou em Bolsonaro, o que esperaríamos é que os bolsonaristas tenderiam a votar mais em Moro e os lulistas um pouco mais em Ciro Gomes”, pontuou Pimentel.

“Na nossa opinião, o Brasil ainda está dividido entre vermelhos e azuis e a questão hoje é: quem vai ocupar o espaço azul? Será que o bolsonarismo vai enfraquecer o suficiente para que Moro capte esses eleitores de Bolsonaro? Vai depender da questão nacional, mas também das estratégias dos candidatos”, disse.

Para ele, Moro seria hoje um “azarão” na disputa, por vir como outsider em um novo contexto eleitoral e com uma agenda central que já não dialoga mais com a prioridade da maioria dos brasileiros, além de esperadas dificuldades de trânsito no mundo político e restrições financeiras para fazer campanha em um partido de menor estatura do que Lula e Bolsonaro.

“Hoje, os eleitores ainda estão muito divididos nos campos vermelho e azul. Não vejo a possibilidade de dois candidatos no campo vermelho ou dois candidatos no campo azul irem para o segundo turno. No campo vermelho, está muito definido que é Lula – a não ser que aconteça uma tragédia, o que diminui drasticamente as chances de Ciro. No campo azul, ainda restam dúvidas se Bolsonaro vai conseguir estancar essa sangria e impedir que Moro consiga amealhar mais votos para poder chegar ao segundo turno. A tendência hoje é que não. Hoje, Bolsonaro, por tudo que tem e por ser governo, é favorito para ir ao segundo turno”, concluiu.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.