Sem citar Bolsonaro, Lula diz que país venceu “negacionismo jamais visto na história”

Lula participou da inauguração da fábrica de polipeptídeo sintético da EMS, em Hortolândia (SP), no interior paulista. Em discurso, ele fez críticas à Anvisa e cobrou maior rapidez na liberação de medicamentos

Fábio Matos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante cerimônia de inauguração da fábrica da EMS, em Hortolândia (SP) (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante cerimônia de inauguração da fábrica da EMS, em Hortolândia (SP) (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o seu antecessor e principal adversário político, Jair Bolsonaro (PL), nesta sexta-feira (23), apontando especialmente o que classificou como “irresponsabilidade” do governo anterior no combate à pandemia de Covid-19.

Lula participou da inauguração da fábrica de polipeptídeo sintético da EMS, em Hortolândia (SP), no interior paulista. A fábrica trabalha com tecnologia de ponta para produzir e comercializar moléculas de liraglutida e semaglutida, destinadas ao tratamento de obesidade e diabetes.

A fábrica da EMS recebeu investimento de R$ 70 milhões. Ao todo, R$ 48 milhões vieram por meio de financiamento com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O Brasil não tem noção da tecnologia e da inovação do que significa essa empresa. Aqui tem uma fábrica capaz de produzir coisas e competir com qualquer país do mundo em igualdade de condições, sem complexo de vira-lata, de cabeça erguida”, elogiou Lula.

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“Nós voltamos ao governo em um momento de negacionismo jamais visto na história do país. Eu nunca imaginei viver em um país em que algumas pessoas ousaram dizer que a vacina fazia as pessoas virarem jacaré”, afirmou Lula, sem citar expressamente o nome de Bolsonaro.

Em seu discurso, o presidente da República responsabilizou o governo Bolsonaro por “pelo menos metade das mortes” registradas no país por causa da Covid-19. “O governo tem responsabilidade [pelas mortes] pelo descaso com que tratou a saúde. E até pela qualidade dos ministros da Saúde que ele [Bolsonaro] indicava”, criticou Lula. “Por falta de sensibilidade, este país sofreu muito. E nós não vamos permitir mais que isso aconteça.”

Lula também disse que, sob o governo Bolsonaro, o Brasil se tornou quase um “pária” internacional. “Este país passou um período sem ninguém querer vir aqui e sem ninguém querer receber quem governava aqui. Em 1 ano e 8 meses, eu já me reuni com 54 países africanos, 27 países da UE e 33 países da América Latina e do Caribe”, comparou o petista.

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Segundo Lula, “o Brasil vive, outra vez, um bom momento”. “Na crise de 2008, quando o mundo estava quebrado por desarranjos econômicos nos Estados Unidos e na União Europeia, eu disse que o Brasil seria o último país a entrar na crise e o primeiro a sair. E aconteceu exatamente o que a gente previa: a crise aqui foi uma marolinha”, afirmou.

PAC

Em seu pronunciamento, Lula também destacou a importância do Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), que, em sua visão”, “unifica todo o governo”.

“Se você não tem um projeto que unifica todo o governo, a tendência natural é cada ministro querer fazer o seu projeto. Todo mundo quer inventar, todo mundo quer ser o bom da fotografia”, brincou Lula. “Eu resolvi fazer um PAC e chamei os 27 governadores de estado, independentemente se gostavam de mim ou não. E nós fizemos o PAC.”

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Amazônia

Outro tema abordado por Lula no discurso foi a preocupação do governo federal com a preservação da Amazônia.

“As pessoas precisam compreender que o Brasil é dono do território da Amazônia. Nós temos soberania sobre ele. Não queremos transformar a Amazônia em um museu ou um santuário. O que nós queremos é preservar a Amazônia”, afirmou o presidente.

“Assumimos o compromisso de desmatamento zero até 2030 e vamos cumprir. Mas também vamos cobrar dos países ricos que paguem aos países que ainda têm floresta pela manutenção da floresta em pé. Eles têm de pagar a parte que eles já destruíram na época da industrialização”, defendeu Lula.

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Crítica à Anvisa

Na parte final do discurso, Lula fez uma cobrança pública à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que o órgão seja mais ágil na liberação de novos medicamentos.

“Eu vim aqui inaugurar e saio daqui com uma demanda. É preciso a Anvisa andar um pouco mais rápido para aprovar os pedidos que estão lá porque não é possível o povo não poder comprar remédio porque a Anvisa não libera”, disse Lula.

“Essa é uma demanda que nós vamos tentar resolver. Quando algum companheiro da Anvisa perceber que algum parente dele morreu porque um remédio que poderia ser produzido aqui não foi produzido porque eles não permitiram, aí a gente vai conseguir que ela seja mais rápida e atenda melhor aos interesses do nosso país”, concluiu o presidente.

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Além de Lula, participaram da inauguração da fábrica da EMS o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB); os ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), Nísia Trindade (Saúde) e Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovações); e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, além da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja.

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Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”