Se não aprova Temer, por que o Brasil não vai às ruas? Imprensa externa tenta decifrar “mistério”

Diversas reportagens da imprensa internacional dos últimos dias aponta para apatia e cansaço do brasileiro - que pode beneficiar o presidente

Lara Rizério

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SÃO PAULO – As últimas pesquisas sobre o governo de Michel Temer mostram que a sua popularidade está no pré-sal. O Datafolha mostrou que o presidente é aprovado por apenas 7% da população, no percentual mais baixo desde o final do governo José Sarney em 1989. A Ipsos desta quinta mostrou um quadro ainda pior, com apenas 2% aprovando a gestão do presidente. 

Num cenário de tão baixa popularidade, era de se esperar que a população fosse em peso às ruas contra Temer, principalmente após a eclosão da crise política com a delação de Joesley Batista, que tornou o já impopular governo ainda mais impopular.

Porém, não é o que está acontecendo. Inclusive, a greve geral marcada para a próxima sexta-feira (30) tem como principal pauta a oposição às reformas do governo e não à saída do presidente. Além disso, deve contar com a participação maciça de centrais sindicais, com pouca adesão popular. 

Essa aparente apatia da população está chamando a atenção da imprensa internacional, que buscou explicar em reportagens nos últimos dias as razões por trás do não-protesto.

O americano The Wall Street Journal apontou algumas hipóteses, ressaltando que os brasileiros estão exaustos. Ansiosos por uma vida política estável e perto da normalidade, poucas pessoas estão protestando. ”Mais de três anos depois do início do grande escândalo de corrupção que gerou imensos protestos e levou à derrubada da ex-presidente brasileira, grande parte da sociedade está cansada da instabilidade política”, diz a publicação. Para o WSJ, Temer se beneficia deste cansaço e dessa apatia e pode conseguir se manter no poder.

A apatia também foi destacada por Vinicius Mariano de Carvalho, professor associado de Estudos Brasileiros no Brazil Institute, do King’s College London, em entrevista para a Rádio França Internacional. Segundo ele, a apatia é gerada pelo desgosto generalizado em relação à classe política brasileira, afetando a capacidade de mobilização popular, gerando apatia. ”Vamos nos mobilizar em favor do quê? Em favor da saída do Temer? E o que vem logo em seguida?”.

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Já o site em português Deutsche Welle fez uma compilação sobre as notícias sobre o Brasil dos principais jornais alemães e destacou esse tema. 

publicou um pequeno apanhado das reações dos principais jornais alemães aos mais recentes escândalos políticos no Brasil, com a denúncia contra o presidente Michel Temer. Um dos principais destaques percebidos é a perda da confiança na democracia e a falta de protestos contra o governo. 

“Desde o fim da ditadura militar, em 1985, houve seis presidentes e uma presidente. Todos estão, um pouco mais, um pouco menos, sob suspeita de corrupção. Dois foram derrubados por impeachment, dois outros estão sendo acusados. Alguém ainda se surpreende se os brasileiros estão perdendo a confiança na democracia? Surpreendente é que não haja milhões nas ruas para exigir a retirada de Temer. Por simpatia não pode ser, pois a popularidade dele anda em 7% – um recorde negativo. Por que, então, a população não se vira contra ele? Talvez porque não saiba o que ganharia com isso. Muitos têm a sensação de que, se expulsarem um charlatão, outro virá para o lugar dele”, apontou o Süddeutsche Zeitung. 

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A apatia é grande, conforme aponta a revista britânica The Economist na edição desta semana. “Os brasileiros, que foram às ruas aos milhões para exigir o impeachment de Dilma Rousseff, estão cansados de protestar”. Porém, faz um alerta para Temer: novas revelações “sensacionais” podem levar os brasileiros de volta às ruas. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.