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O candidato governista Daniel Scioli, da Frente para a Vitória, reconheceu a derrota para Mauricio Macri, oposicionista da Aliança Cambiemos, no segundo turno das eleições presidenciais na noite deste domingo (22). Em uma declaração pública, Scioli disse que saúda com todo seu afeto “o povo que com a vontade popular elegeu um novo presidente: Mauricio Macri.
Às 23h10 deste domingo, 84,95% das urnas haviam sido apuradas. Macri teve 52,57% dos votos válidos e Scioli 47,43%. Segundo a Justiça Eleitoral argentina, o segundo turno argentino teve 1,20% de votos em branco, 1,29% de votos nulos e 0,05% de votos impugnados.
Essa eleição marcou o fim de 12 anos da era kirchnerista, marcadas por crescimento econômico, distribuição de renda e políticas de defesa dos direitos humanos – mas também pelo confronto com o Poder Judicial, a oposição e a imprensa nacional, os organismos financeiros internacionais e governos de países desenvolvidos – mas também países amigos, como o Uruguai.
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A era kircherista foi inaugurada em 2003 por Nestor Kirchner. Ele foi o primeiro presidente eleito desde a crise de 2001, a maior na recente história argentina, que resultou na queda de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, na moratória da divida externa e na renúncia do então presidente Fernando de La Rua (da UCR), dois anos antes de terminar o mandato. Nas duas semanas seguintes, os argentinos tiveram cinco presidentes, todos eles do Partido Justicialista (Peronista) – o ultimo deles, Eduardo Duhalde, administrou a saída da crise e convocou eleições presidências e o vitorioso foi o candidato dele, Nestor Kirchner.
Apesar de ser do mesmo partido que Carlos Menem (que privatizou a economia nos anos 90 e atrelou o peso ao dólar, acabando com a hiperinflação, mas desencadeando a recessão), Kirchner adotou um modelo econômico diferente – graças, em parte à alta nos preços das commodities, exportadas pelo pais. Sem créditos externos (a Argentina ficou fora do mercado financeiro internacional depois da moratória), ele saldou a divida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), para não depender do organismo internacional que sujeita seus empréstimos ao cumprimento de seus planos econômicos.
Nos quatro anos de governo de Kirchner, a economia argentina cresceu em média 8,5%. O governo renegociou a dívida com 93% dos credores e investiu em planos sociais para reduzir a pobreza (que na crise atingiu 60% da população). Outra bandeira kirchnerista foi a dos direitos humanos: Nestor Kirchner reabriu processos contra os responsáveis pelos crimes cometidos na ditadura (1976-1983), que duram ate hoje.
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Mas a lua-de-mel com a população argentina terminou com a posse de Cristina Kirchner, mulher e sucessora de Nestor Kirchner. Ele morreu em 2010, um ano antes da reeleição de Cristina, no primeiro turno e com mais da metade dos votos. Ela manteve a politica de distribuição de renda, mas não foi capaz de controlar a inflação (de dois dígitos anuais) e em 2011 impôs controles cambiais, limitando a compra de qualquer moeda estrangeira, para evitar a fuga de divisas do pais.
O novo presidente assume com um Banco Central com escassas reservas (US$ 26 bilhões). “Mas apenas US$ 4 bilhões desse total estão disponíveis para ser usados, se for necessário”, disse o economista Fausto Spotorno.
O novo presidente assume com o desafio de corrigir a economia que, desde 2012, não cresce ao ritmo “chinês” de mais de 8%. Outro problema é a divida externa: uma minoria (7%) dos credores externos não aceitou as propostas de renegociação do governo argentino. Alguns desses credores (os chamados fundos abutres) compraram os papeis da dívida argentina a preços baixos e entraram na Justiça norte-americana para cobrar o devido, sem desconto.
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Eles ganharam o processo e conseguiram impedir que o governo argentino pagasse a maioria dos credores, que aceitou a renegociação. Com isso, o país continua em moratória e sem acesso aos mercados financeiros internacionais. O grande desafio do próximo presidente é conseguir o apoio politico necessário para reconciliar os argentinos, depois de doze anos de “kirchnerismo”, que dividiu o pais entre amigos e inimigos do governo.