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SÃO PAULO – Um grupo de oito jovens de várias partes do Brasil e também no exterior montou um projeto para fiscalizar as despesas dos políticos brasileiros. A plataforma consiste em um “robô” que identifica o mau uso da verba pública.
A equipe brasileira está espalhada por Brasília, Porto Alegre, São Paulo, Campinas e Itália e atua em conjunto há três meses. “Cada um trabalha do seu local, mas fazemos reuniões diariamente para discutir o andamento do projeto”, contou em entrevista ao Infomoney Pedro Vilanova, um dos integrantes do grupo, responsável pela comunicação e investigação.
Ele conta que o projeto surgiu de uma ideia de Irio Musskopf, líder técnico do time, que reuniu a equipe para analisar as despesas dos parlamentares. Após estudos dos dados da Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar a que cada deputado federal tem direito, eles começaram a desconfiar de uma brecha gigantesca, que possibilitava que muitos políticos gastassem o reembolso a qual têm direito de forma irregular.
A operação foi chamada de “Serenata do Amor”, nome inspirado no polêmico “caso do Toblerone”, na Suécia – um escândalo da década de 1990 que denunciou uma ministra após a compra de um chocolate. Ela foi obrigada a entregar o cargo diante da exposição da corrupção e do mau uso do dinheiro público.
No Facebook, a equipe de jovens brasileiros se denomina como “um grupo de hackers que faz uso da habilidade de análise de dados e criação de inteligência artificial a fim de detectar corrupção, envio de dossiês para o MP (Ministério Público) e jornais”.
Robô e crowdfunding
O projeto foi posto em prática em novembro de 2016, depois que a equipe conseguiu angariar o dinheiro necessário para a construção de um “robô”, por meio de um financiamento coletivo. “Os registros que a Câmara dos Deputados tinha eram muitos, com dados desde 2011, e era impossível para um ser humano analisar tudo de forma mecânica. E depois de estudos e análises dos dados, vimos que seria mais viável criar um robô e por isso lançamos em setembro o crowdfunding”, explica Vilanova.
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Batizada em homenagem à “robô faxineira” do desenho “Os Jetsons”, Rosie é responsável por identificar os casos de mau uso do dinheiro e monta relatórios com as notas fiscais consideradas “estranhas”, a partir de hipóteses selecionadas pelo time: gastos superfaturados, compras de bebidas alcoólicas e refeições e despesas quase simultâneas em cidades distantes.
O robô audita os reembolsos recebidos pelos parlamentares a partir da Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar. “A Rosie identifica um desses elementos, separa, e entrega um relatório. São muitos casos, mesmo com esse filtro. A partir disso, manualmente analisamos cada um e enviamos as denúncias à Câmara”, detalha Vilanova.
Resultados
Em um mês de trabalho, surgiram as primeiras 40 denúncias que foram enviadas para a Câmara. Em três as anomalias detectadas por Rosie chegam a 3.500. Em meio a tantas suspeitas, a equipe decidiu por fazer um mutirão em janeiro. Foram auditados 849 casos, que geraram 629 denúncias contra 216 deputados. Ao todo, mais de R$ 378 mil em reembolsos desde 2011 foram contestados junto à Câmara.
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O projeto já conseguiu algumas restituições em 2016. A primeira delas, trata-se da devolução de cerca de R$ 700 pelo deputado Celso Maldaner (PMDB-SC), referentes a 13 refeições em um único dia de 2011.
Ainda assim, Vilanova explica que apesar de o relatório divulgar todas as informações sobre os deputados envolvidos no mau uso do dinheiro público, “a ideia não é focar nos nomes, muito menos em partidos, para não enviesar o projeto”.
Corrupção
Eduardo Cuducos, sociólogo e desenvolvedor do time, afirma que o verdadeiro foco do projeto é o combate à corrupção. “E a corrupção não vê partido, vê indivíduos usando os próprios cargos e posicionamentos políticos para proveito próprio”, afirmou.
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Quanto ao prosseguimento da plataforma, Vilanova, conta que a equipe já lançou um novo crowdfunding, mas que ainda não tem um objetivo definido. “Temos vontade de investigar muitas coisas, como passagens aéreas, hotéis, combustível, pensamos também em ampliar essa mesma lógica da Rosie para empresas privadas, municípios menores e até para o Senado. Mas tudo depende de quanto vamos conseguir angariar, e por enquanto estamos concentrados na ‘Serenata do Amor'”, revela Vilanova.
De acordo com a Câmara do Deputados, a cota parlamentar autoriza reembolso ao deputado com gastos em refeições, combustíveis, material de divulgação do mandato, passagens aéreas, hospedagem e outros. Em 2016, os 513 deputados foram reembolsados em R$ 211,2 milhões com este tipo de gasto.