Reta final: 10º debate em SP tem “banco de tempo”, Nunes no alvo e ataques de Marçal

Participaram do debate o prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição; o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL); o empresário e influenciador Pablo Marçal (PRTB); e a deputada federal Tabata Amaral (PSB)

Fábio Matos

Décimo debate entre os principais candidatos à prefeitura de São Paulo (Foto: Reprodução/YouTube)
Décimo debate entre os principais candidatos à prefeitura de São Paulo (Foto: Reprodução/YouTube)

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Com um formato diferente de todos os debates anteriores, o encontro desta segunda-feira (30) entre os quatro principais candidatos à prefeitura de São Paulo (SP) teve como principal novidade o chamado “banco de tempo”, por meio do qual os participantes tinham de administrar um tempo de 20 minutos para falar durante todo o programa.

Participaram do debate o prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição; o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL); o empresário e influenciador Pablo Marçal (PRTB); e a deputada federal Tabata Amaral (PSB) — os quatro primeiros colocados nas últimas pesquisas de intenção de voto.

Os candidatos José Luiz Datena (PSDB) e Marina Helena (Novo), quinto e sexto colocados de acordo com as pesquisas, não foram chamados para o debate.

Nunes é o maior alvo

Assim como ocorreu em debates anteriores desta campanha, o prefeito Ricardo Nunes, que aparece numericamente à frente nas últimas pesquisas, foi o principal alvo de todos os adversários.

Logo no início do programa, Nunes foi cobrado por adversários sobre sua mudança de posição em relação à exigência do chamado “passaporte da vacina”.

Em entrevista recente, Nunes disse que a atual gestão errou ao exigir dos cidadãos a apresentação de um documento que comprovasse a vacinação contra a Covid-19, no auge da pandemia. Nunes era vice de Bruno Covas (PSDB), que morreu em 2021.

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“A pandemia foi uma grande tragédia que afetou todos nós. O Brasil deu muito azar de ter um presidente da República [Jair Bolsonaro] extremamente ideológico que fez com que a vacinação da população fosse atrasada”, apontou Tabata Amaral.  

“São Paulo deu sorte porque, naquela época, o nosso prefeito era Bruno Covas, que teve coragem e independência. Infelizmente, Bruno Covas não está mais aqui e eu fui pega de surpresa quando vi o Ricardo Nunes, que está em busca do apoio de Bolsonaro, mudar de ideia e dizer que é contra o passaporte da vacina”, criticou a candidata do PSB.  

“Dá para confiar em pessoas que estão constantemente mudando suas posições para tentar lhe convencer, fazendo cálculo eleitoral?”, questionou Tabata.

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Na sequência, Pablo Marçal também usou a palavra para criticar a mudança de comportamento de Nunes.

“Essa mudança da postura do Ricardo Nunes foi nas últimas semanas porque deputados federais cobraram isso dele e ele ignorou esses deputados”, afirmou.

“Muitos dos que estão mudando não estão mudando porque aprenderam, mas porque começaram a despencar na pesquisa eleitoral”, observou Marçal.

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Em sua defesa, o prefeito de São Paulo disse que é necessário ter “humildade” para reconhecer erros.

“A pandemia começou já faz 5 anos. Em todo o processo, você vai aprendendo e não há problema nenhum em ter humildade para ir ajustando”, afirmou Nunes.

“Ninguém acerta em tudo. Não existe mudança de posicionamento. Bruno e eu fizermos uma grande ação durante a pandemia. A única questão é que hoje eu vejo que não tem sentido você usar o passaporte para entrar em uma igreja ou em um restaurante”, justificou o prefeito.

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Leia tudo sobre o debate:

Marçal volta a associar Boulos a drogas

Retomando uma postura mais agressiva e provocativa, Pablo Marçal voltou a associar o adversário Guilherme Boulos  ao suposto uso de drogas. O influenciador perguntou diretamente a Boulos se o candidato do PSOL já havia consumido cocaína, maconha ou outras substâncias ilícitas.

“Nunca usei cocaína, para que fique muito claro. Não uso drogas. E, já que ele quer saber, maconha um provei uma vez, na adolescência, e me deu uma dor de cabeça danada. E nunca mais”, rebateu Boulos.

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“A baixaria do Marçal não tem limite. É impressionante quando alguém vem para a campanha só para atacar e tumultuar. Ele inventou a mentira, trabalhando com um homônimo, um cara chamado Guilherme Bardauil Boulos, para confundir o eleitor”, prosseguiu Boulos, mencionando um homônimo usado por Marçal para fazer a acusação contra o candidato do PSOL. “Não vou ficar em bate-boca com um cidadão desse.”

Marçal, por sua vez, disse que Boulos “não dá conta de ser esse Lulinha paz e amor” na eleição. “Ele vai mostrar as garras”, afirmou o candidato do PRTB.

“Os princípios do Guilherme são depredar patrimônio público, apoio à rachadinha, à descriminalização de todas a drogas. Imaginem liberar droga, se a gente não está conseguindo controlar as pessoas em relação a apostas”, concluiu.

Boulos diz que Nunes e Marçal são apostas de Bolsonaro

Apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Boulos reeditou a tentativa de nacionalizar o debate municipal e tentou associar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tanto a Nunes quanto a Marçal.

“Nesta eleição, a gente tem dois laranjas do Bolsonaro. O Bolsonaro botou um ovo em cada cesta, apostou em dois cavalos, para ver os dois brigando e ver qual deles chega ao segundo turno. E, com isso, botar a mão sobre São Paulo, só que eu não vou permitir”, afirmou Boulos.  

“No fim do dia, [Nunes e Marçal] representam o projeto bolsonarista da extrema-direita para São Paulo”, completou o candidato do PSOL.

Nunes acusa Boulos de atacar a classe média

Ricardo Nunes, por sua vez, acusou Boulos de ter feito duras críticas à classe média paulistana e, agora, estar buscando os votos desse público.

“É preciso saber se a pessoa mantém o seu posicionamento ou se ela se passa por alguém que não é. Você [Boulos] fala mal da classe média. Você falou várias vezes que é a favor da liberação de drogas, da desmilitarização da polícia, a favor do aborto. A pessoa precisa ter um posicionamento”, disse o prefeito.

“Fazer essa crítica toda à classe média e agora querer o voto da classe média?”, indagou Nunes.

“Mulher não vota em mulher”, diz Marçal

Em uma discussão ríspida com Tabata Amaral, rebatendo declarações da deputada nas quais a candidata do PSB pedia os votos do eleitorado feminino em São Paulo, Marçal disse que “mulher não vota em mulher”.

“Tabata, se mulher votasse em mulher, você ganharia no primeiro turno. A mulher não vota em mulher. A mulher, ela é inteligente, ela tem sabedoria, ela tem experiência. Ela não vai votar em você”, afirmou Marçal.

“Se fosse isso, pobre votaria em pobre, negro votaria em negro”, completou o candidato do PRTB.

Tabata, por sua vez, lamentou a declaração do adversário e disse que “justamente a mulher, no debate, é a adulta na sala”. “Esses marmanjos não conseguem responder minhas perguntas nem endereçar pergunta a mim”, criticou Tabata.

“Vi uma notícia de que Pablo Marçal foi recebido na periferia com protesto com cadeiras. Não defendo violência, mas a única coisa que disparou nesta eleição foi a rejeição de Pablo Marçal, adivinha entre quem? Especialmente, entre mulheres da periferia. A gente está sempre sendo subestimada”, completou a deputada.

Marçal, então, elogiou propostas da candidata do PSB, mas disse que Tabata não tem chances de ser eleita prefeita.

“Seu plano de governo é brilhante. O problema é que não vai ser executado, que você não vai vencer a eleição”, ironizou Marçal. “O esforço da Tabata é o de parecer a mais sábia. Mas a sabedoria dela é a mais baixa, porque sabedoria é experiência.”

Guilherme Boulos também comentou as declarações de Marçal, classificando sua fala como “preconceituosa”.

“Lamento a fala preconceituosa, insinuando que quem vota em mulheres teria menos inteligência. É triste ouvir isso de quem quer governar uma cidade como São Paulo.”

Nunes, Marçal e Tabata discutem religião

O debate de Folha/UOL teve um bate-boca entre alguns dos candidatos à prefeitura da capital paulista envolvendo preferências religiosas.

O primeiro a falar em Deus foi Marçal. “Derrubaram as minhas redes sociais. Mesmo assim, as ondas continuaram, porque aí vem uma onda de perseguição e todas as coisas, como diz a Bíblia, cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados segundo seu propósito”, afirmou.

O prefeito Ricardo Nunes rebateu o adversário do PRTB e também entrou na seara religiosa.

“Pablo Henrique, essa coisa de querer falar de religião é muito ruim. Sabe o que fica feio para você? Você ir lá na Assembleia de Deus, falar com um grande líder, e depois ficar apostando que ele apoia você e não te apoia. Ficar mentindo, isso é ruim”, provocou.

Em seguida, Tabata criticou ambos os candidatos por falarem de Deus no debate. “Sabe por que eu não fico esbravejando sobre a minha fé? Porque eu não preciso. A relação que eu tenho com Deus é com Deus, é com a minha comunidade, é com a minha igreja”, disse Tabata.

 “E eu realmente não acho que essa instrumentalização da fé seja boa nem para nós cristãos, nem para o que está acontecendo”, completou.

Marçal, na sequência, criticou a adversária. “Ela [Tabata] fez o discurso mais longo, o discurso cristão mais longo que já teve em debate político, e eu quero te dar os parabéns, Tabata. Quando a gente não domina o assunto, a gente ataca ele.”

Marçal fala de suposta agressão à esposa de Nunes

Na reta final do debate, Marçal voltou a falar sobre as especulações em torno de uma suposta agressão do prefeito Ricardo Nunes à sua esposa.

Em fevereiro de 2011, Regina Carnovale Nunes teria registrado um boletim de ocorrência contra Nunes, que era vereador na época, na 6ª Delegacia da Mulher, na zona sul de São Paulo. Em 2020, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, no entanto, a esposa do atual prefeito disse não se lembrar de ter feito o BO. Nunes sempre negou que tenha agredido Regina.

“Ricardo Nunes, por favor, eu não vou tocar nesse assunto se você explicar ele em definitivo, porque você não responde nenhuma pergunta que qualquer um dos candidatos fazem para você. A pergunta é: por que que a sua esposa registrou o boletim de ocorrência por violência doméstica?”, indagou Marçal.

Ricardo Nunes acusou o adversário de baixar o nível do debate. “Olha, pessoal, isso é tática dele. Tática de quem deu golpe a vida inteira. Eu não vou cair no golpe dele. Eu vou manter a minha estabilidade e respeito a você. Ele vai atacando, atacou o pai da Tabata, atacou o Boulos, atacou o Datena. Eu não cairei nisso”, respondeu o prefeito.

“Olha aqui, Pablo Henrique… por que é Pablo Henrique? É o que aparece no inquérito em que você foi condenado. Como você é baixo. Esse cara é só mentira”, prosseguiu Nunes.

“[Marçal] Falou que Trump mandou carta, é mentira, foi para Camizungo na África, fazer vídeo, filmagem, falar que ia fazer 300 casas, arrecadou R$ 3 milhões, tem 26 casas lá feitas. Isso é uma farsa. Envolvido com tudo que tem de coisa ruim”, completou Nunes.

No último dia 17, pouco depois de ser mencionada por Marçal em outro debate, a esposa do prefeito publicou um vídeo em sua conta no Instagram negando que tenha sido vítima de violência por parte do marido.

“Nunca vim aqui no Instagram para falar de política. O meu nome foi falado agora há pouco pelo ‘M’ de mentiroso, Marçal. Ele citou meu nome perguntando se meu marido me batia com uma mão ou com as duas mãos”, disse Regina no vídeo divulgado pelas redes sociais.

“Não, Pablo, meu marido nunca me bateu. Ao contrário de você, que usava as suas duas mãos para roubar os velhinhos e os idosos com os golpes que aplicava pela internet. O que meu marido faz com as duas mãos é trabalhar incansavelmente pela cidade de São Paulo”, completou a primeira-dama da capital paulista.

Maratona de debates

Após o encontro promovido por Folha e UOL, nesta segunda, ainda está programado mais um debate na campanha eleitoral em São Paulo. Com isso, o primeiro turno da disputa municipal terminará com 11 debates realizados.

Nesta semana, a última antes do primeiro turno, haverá ainda o debate da TV Globo, na quinta-feira (3), a partir das 22 horas. A eleição acontece no dia 6.

No segundo turno, até o momento, quatro debates estão marcados (veja lista abaixo).

Veja quando serão os próximos debates em São Paulo:

1º turno

2º turno

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”