Qual foi a mensagem do encontro entre Joaquim Barbosa e o PSB para as eleições?

Bastidor da reunião mostra que ainda há muitas arestas a serem aparadas antes da foto do ex-presidente do STF ir para as urnas

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O encontro do recém-filiado Joaquim Barbosa e dirigentes, governadores e lideranças do PSB confirmou o que já se esperava: embora não tenha havido avanços em direção a uma candidatura — que tanto o ex-ministro do STF na esfera pessoal, quanto figuras relevantes na própria sigla, ainda apresentam arestas que precisam ser aparadas –, houve uma aproximação inicial.

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Enquanto governadores e lideranças regionais, sobretudo do Nordeste, apresentam resistências no lançamento de uma candidatura própria pelo PSB, a falta de traquejo político de Barbosa e sua indecisão reforçam a percepção de que o caminho ainda é longo, embora a largada tenha sido satisfatória. Barbosa pontuou entre 9% e 10% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha, divulgada no domingo (15).

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De um lado, Barbosa pode cativar eleitores insatisfeito com os nomes tradicionais, sobretudo com a imagem que carrega de combatente à corrupção, que carrega desde os tempos do julgamento do mensalão. Do outro, ele tem na sua biografia e possíveis acenos à agenda social ativos importantes para conquistar parte do eleitorado à esquerda. Com tantos órfãos de Lula, seu potencial pode crescer ainda mais. Soma-se a isso o sentimento majoritário de insatisfação com o sistema político e o crescente desejo por renovação. Porém, há uma série de desafios que ainda precisam ser enfrentados pelo ex-ministro.

“O principal problema da candidatura de Joaquim Barbosa tem dois nomes e sobrenomes: Paulo Câmara, governador de Pernambuco, e Márcio França, governador de São Paulo. Não parece ser racional que haja algum interesse destes dois em o PSB ter um candidato presidencial. Não só Paulo Câmara, como Ricardo Coutinho, da Paraíba, querem capitalizar a força do lulismo no Nordeste e já, inclusive, fechavam alianças com o PT por lá. E Márcio França é o candidato real de Geraldo Alckmin”, observou o analista político Leopoldo Vieira, da consultoria Idealpolitik, no programa Conexão Brasília.

“Então, Joaquim Barbosa entra nisso com pinta de outsider, mas até que ponto essas forças políticas vão permitir que esta candidatura deslanche”, complementou o especialista. A entrada do ex-ministro do STF como candidato à presidência está longe de ser unanimidade no PSB. Entre os deputados federais, há maior simpatia, ao passo que senadores e governadores oferecem maior resistência. Isso porque o lançamento de uma candidatura própria dificulta alianças regionais para eleições majoritárias.

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Com a memória fresca da experiência com Marina Silva em 2014, o PSB agora procura fazer as pazes com o tempo e movimentar-se no tabuleiro eleitoral de modo estratégico e sem queimar etapas. Assim como ocorre em outros partidos e candidaturas, nenhum movimento brusco será feito neste momento, sobretudo considerando a distância ainda para o pontapé inicial no período de campanhas. Além disso, o prazo final para o registro de candidaturas na Justiça Eleitoral será em pouco menos de quatro meses.

Caso, com o tempo, os obstáculos à candidatura comecem a ser superados — e aí um bom desempenho nas pesquisas eleitorais terá enorme relevância neste sentido –, o nome de Barbosa pode ganhar corpo dentro do PSB, embora hoje seja difícil imaginar governantes nordestinos do partido abrindo mão de uma narrativa lulista, tendo em vista a força eleitoral do líder petista na região. Em São Paulo, também há grandes problemas: o governador Marcio França, tentando reeleição, não quer deixar de fazer campanha para Geraldo Alckmin na corrida presidencial.

A ala do PSB que defende a candidatura do ex-presidente do STF gostaria de ver o cenário mais claro nesta direção em até um mês. A ideia seria construir uma campanha de arrecadação, tendo como referência o movimento feito pelo ex-presidente norte-americano Barack Obama.

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Caso estas barreiras sejam superadas, a candidatura de Barbosa é vista como de grande potencial político. “Seja pelo perfil do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, seja pelo vazio absoluto de candidatos naturalmente competitivos, Barbosa apresenta candidatura bastante viável do ponto de vista político”, observou a equipe de análise política da XP Investimentos.

As expectativas são de que o relator do “mensalão” faça sombra na candidatura de Marina Silva, com a diferença de contar com uma estrutura partidária melhor, e ainda roube votos de outros candidatos na centro-esquerda e na faixa do eleitorado que deseja votar em um outsider. Neste caso, até mesmo Bolsonaro pode acabar atingido. Há, inclusive, quem já comece a especular uma possível chapa Marina-Barbosa. Embora muito distante da realidade atual, a iniciativa teria grande potencial eleitoral.

Para o analista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, o caminho ideal, em termos de competitividade eleitoral, para Marina e Barbosa seria a articulação de uma chapa. “Marina e Joaquim Barbosa conversam com eleitores muito parecidos. Então, sem estrutura de campanha para dar suporte para que eles se destaquem, também há o risco de um roubar o voto do outro e limitar o potencial de crescimento”, afirmou o especialista.

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“Acredito que seria o ideal para ambos, em termos de materializar e ir ao segundo turno. O problema é que coalizão com quem tem tamanho razoável é sempre muito difícil de fazer. É preciso encontrar argumento político para dizer que eles têm muita chance juntos, mas um risco grande se separados, quando começar a campanha, com falta de dinheiro, falta de exposição”, observou Cortez. O cientista político é o responsável pelas análises apresentadas no Mapa Político, relatório semanal já disponível na Loja de Relatórios Infomoney. Clique aqui para conhecer.

Como até mesmo a candidatura ainda não é fato consumado, convém dar alguns passos atrás na leitura de conjuntura. “Em seu primeiro evento político, Barbosa acabou sendo Barbosa — ou seja, alguém de fora da política. Para ele, ter se disposto a sair de casa, participar de uma reunião com governadores e dirigentes e até esboçado uma comemoração sobre o resultado do Datafolha já é uma mensagem grande – mas aquém dos sinais aos quais a política está acostumada”, escreveu a equipe de análise política da XP Investimentos.

Uma cena que evidencia a falta de traquejo político do ex-magistrado ganhou linhas nas reportagens publicadas na imprensa nacional. Assim que chegou ao evento na sede do PSB em Brasília, Barbosa acabou ignorando homenagem preparada para ele pelo movimento negro do partido. Para escapar de jornalistas e já atrasado para o encontro, o ex-ministro fez outro caminho.

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“Para avançar casas no jogo eleitoral além do próprio potencial pessoal, precisa de sinais mais claros sobre o que pensa – este não era o momento adequado de fato, mas não pode tardar muito mais”, observaram os analistas da XP. “É importante ficar atento a forma de como Barbosa se movimentará nesta construção política, talvez a primeira de sua vida em nível tão sofisticado. Isso pode oferecer resposta eloquente sobre a habilidade – ou a falta dela – de Joaquim Barbosa entre políticos. Por enquanto, está ‘ok‘”.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.