PSDB vive guerra interna antes da convenção e rival de Datena diz que é pré-candidato

Na véspera da convenção municipal do PSDB em São Paulo (SP), que teoricamente definirá o nome do candidato do partido à prefeitura da capital paulista, o ex-presidente do diretório paulistano da legenda, Fernando Alfredo, apresentou um requerimento de pré-candidatura a prefeito e disse que pretende disputar com o ex-apresentador de TV José Luiz Datena a indicação tucana na cidade.

Até então, Datena vinha sendo anunciado como o único pré-candidato do PSDB à sucessão do prefeito Ricardo Nunes (MDB). A convenção da sigla está marcada para sábado (27), agora sob clima de tensão e indefinição.

Baixe uma lista de 11 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de crescimento para os próximos meses e anos

Em carta destinada ao presidente da federação partidária PSDB-Cidadania em São Paulo, Mário Covas Neto, Alfredo contesta a legitimidade de Datena e põe em dúvida a capacidade do jornalista de unir todas as correntes da legenda na capital.

Inicialmente, Datena vinha sendo cotado para ocupar a vaga de candidato a vice na chapa liderada pela deputada federal Tabata Amaral (SP), pré-candidata do PSB à prefeitura.

Em abril deste ano, apenas 4 meses depois de se filiar ao PSB, o apresentador mudou para o PSDB, em um acordo que supostamente atrairia os tucanos para a chapa da parlamentar.

Na carta, Fernando Alfredo reproduz trecho do documento de fundação do PSDB, em 1988, e afirma que sua pré-candidatura nasceu “longe das benesses dos gabinetes oficiais e das salas de reunião dos donos do poder, mas perto do pulsar das ruas, da militância e dos não favorecidos”.

Nos bastidores, a iniciativa de Alfredo é considerada uma tentativa de sabotar a candidatura de Datena. O ex-presidente municipal do PSDB é próximo do prefeito Ricardo Nunes e integra uma ala dos tucanos que defendem que o partido apoie a candidatura do emedebista à reeleição.

Alfredo e esse grupo de tucanos alegam que Nunes era vice do ex-prefeito Bruno Covas (PSDB), reeleito em 2020 e morto em 2021. Além disso, afirmam os dissidentes, Datena não oferece nenhuma segurança de que será, de fato, candidato a prefeito – o ex-apresentador acumula uma série de desistências em sua trajetória política.

Em eleições anteriores, para diversos cargos, Datena chegou a afirmar que seria candidato, mas acabou desistindo na última hora. Em 2020, ele esteve muito próximo de ser companheiro de chapa do então prefeito Bruno Covas (PSDB), que buscava renovar o mandato. Então filiado ao MDB, ele teve uma série de conversas com Covas, que se animava com a possibilidade de ter o apresentador como vice.

Na reta final, Datena recuou mais uma vez, alegando que a TV Bandeirantes havia lhe pedido para permanecer na emissora. O jornalista já passou por 11 partidos em sua trajetória política. Antes de trocar o PSB pelo PSDB, Datena já fez parte de PT, PP, PRP, DEM, MDB, PSL, PSD, União Brasil e PSC – em uma verdadeira “montanha-russa” partidária.

“Até eu desconfio [da própria candidatura a prefeito]. Se continuar essa sacanagem de que o partido está conversando com outras pessoas para colocar dentro do partido sem me avisar, eu não vou ser candidato. Se o Biden pode desistir a qualquer momento, por que eu não posso? Desde o começo, falei: se me sacanearam, eu desisto mesmo”, disse Datena, no início da semana, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

Leia também:

• Datena: “Se o Biden pode desistir a qualquer momento, por que eu não posso?”
• Tabata rebate Datena: “Ele é bem grandinho para ser empurrado para o colo de alguém”
• Datena ainda não crava candidatura: “Se alguém me sacanear, vai ficar pelo caminho”
• Nunes diz que não houve tentativa de golpe no 8/1 e compara com MTST e Boulos em 2015
• Boulos diz que Ricardo Nunes “vendeu a alma para Bolsonaro” e “não tem o que mostrar”
• Marçal faz “profecia” sobre Nunes e diz que Bolsonaro abandonará campanha do prefeito

Direção do PSDB garante apoio a Datena

Apesar da resistência do grupo liderado por Fernando Alfredo, José Luiz Datena conta com o apoio dos atuais dirigentes do PSDB em níveis municipal, estadual e nacional. O presidente nacional do partido, Marconi Perillo (GO), já está em São Paulo e garante que a legenda confirmará a candidatura de Datena neste fim de semana.

O atual presidente do diretório municipal do PSDB na capital, o ex-senador José Aníbal, também assegura que não há espaço para disputa interna neste momento e que Datena será o candidato tucano nas eleições de outubro. Aníbal é considerado o grande fiador do nome do jornalista e é cotado, inclusive, para compor a chapa como vice.

O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), uma das principais lideranças nacionais do PSDB, também confirmou presença na convenção e apoia a indicação de Datena.

Apesar do favoritismo do ex-apresentador, Fernando Alfredo afirma que chegará à convenção tucana, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), com um grupo de pelo menos mil pessoas que defendem uma alternativa a Datena. Alfredo diz que, caso não possa disputar a indicação, irá à Justiça contra o partido.

“O Datena, nos últimos dias, tem feito críticas sistemáticas ao PSDB. E isso revoltou militantes e filiados históricos. A turma tem se organizado para ir à convenção neste sábado. Vamos para a convenção apresentar uma alternativa ao nome dele, até porque eu duvido que ele vá até o final. É um triste momento para a história do PSDB”, afirmou, em entrevista ao jornal O Globo.

Após a definição das candidaturas, os partidos políticos terão até o dia 15 de agosto para solicitar à Justiça Eleitoral o registro dos nomes escolhidos. Em tese, mesmo depois da convenção do PSDB, Datena pode desistir da disputa.