Próximas duas semanas serão decisivas para o Brasil, diz diretor-executivo da Eurasia

Segundo diretor-executivo do grupo, medidas de Trump e pacote de cortes de gastos do governo serão definitivos para o país

Estadão Conteúdo

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As duas próximas semanas serão decisivas e definitivas para o Brasil. Nesta quarta-feira, 13, o diretor-executivo da Eurasia Group, Christopher Garman, comentou que, de um lado, estará o pacote de medidas de cortes de gastos que o governo deverá anunciar após a reunião do G20 e, de outro, as decisões que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, deve sinalizar.

Garman, que participou recentemente do Fórum Estratégias de Investimento 2025, realizado pela Bradesco Asset e pela Bradesco Global Private em São Paulo, afirmou estar mais otimista agora do que antes em relação ao pacote de cortes de gastos. Segundo ele, isso se deve ao fato de que o Palácio do Planalto está preocupado com as repercussões na economia brasileira das medidas que Trump pode implementar em seu segundo mandato.

Para Garman, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está ganhando mais força para convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ala política do governo sobre a necessidade de cortar despesas para evitar o aumento da inflação e, consequentemente, o aumento da Selic.

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O executivo da Eurasia lembra que, para países com vulnerabilidade macroeconômica, como o Brasil, que enfrenta grandes inquietações fiscais, a valorização do dólar em relação aos seus pares na região é um complicador adicional.

“Portanto, acreditamos que, se entrarmos em 2025 e as medidas anunciadas por Trump forem realmente implementadas, o real se desvalorizará ainda mais, o que trará mais inflação e colocará o Banco Central brasileiro em uma situação difícil. O Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e futuro presidente do BC, está prometendo ao presidente Lula que irá parar de importar juros em algum momento no futuro, mas isso pode não ser viável. Juros reais altos por um período prolongado podem prejudicar a economia mais do que o normal. Tudo isso pode reduzir o crescimento e impactar a popularidade do presidente Lula devido à inflação e ao câmbio mais valorizado”, disse Garman, acrescentando que isso seria desfavorável para Lula em 2026, ano em que ele pode tentar a reeleição.

“Portanto, eu aconselho as fontes do Palácio do Planalto a esquecerem essa ideia de que a direita está em ascensão e que a vitória de Trump fortalecerá a base bolsonarista. O que fez Trump vencer foi a inflação. Foi um surto inflacionário pós-Covid que elevou a taxa a 8%. A principal preocupação nos Estados Unidos era o custo de vida. Essa foi a razão que gerou desconfortos na Europa, na Índia e na África do Sul. Assim, se Lula vencer, será mais por esse fator e menos por contágio ideológico”, afirmou.

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Neste momento, de acordo com Garman, a maior preocupação da Eurasia é com a China, pois os indicados até agora por Trump para seu governo são opositores ferrenhos da nação asiática.

Tarifas de Trump

Para Garmam, apesar de acreditar que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, vá cumprir as promessas de campanha, será difícil para o republicano colocar uma tarifa linear de 10% a 20% para todos os produtos de fora que entram na economia norte-americana.

Trump, para efeito de reforço de informações, prometeu uma tarifa de importação média para os produtos chineses que entram na economia americana de até 60% de um alíquota hoje de, em média, 11,3%. Ele prometeu colocar também uma tarifa linear de 10% a 20% em todos os produtos da economia americana.

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“Difícil fazer isso. Achamos que a tarifa média de importação chinesa vai de 20% a 30%, não dá para 60%. O linear vai ser faseada”, disse o cientista político da Eurasia, para quem o presidente americano não terá também como deportar 11 milhões de imigrantes ilegais.

“Pode esquecer isso. Não tem capacidade pessoal, não dá para contar com os Estados e municípios. A gente acha uma deportação modesta, de 1,5 milhões, razoável e em três anos. Mas se você pega as repercussões econômicas disso, ainda são grandes”, disse.

De acordo com Garman, tem projeções de que mesmo fazendo um terço do que ele está prometendo, gera mais inflação, pode reduzir o PIB ao longo do tempo e pode arriscar a interromper a trajetória e cortes de juro pelo Federal Reserve (Fed).

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“Os mercados estão reagindo para o lado positivo da agenda, como desregulação e menos impostos, que acho que virá. As repercussões que podem ser inflacionárias são mais incertas. Mas na nossa visão, a gente acha que vem algo mais forte do que muitos do mercado estão estimando”, afirmou Garman.

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