Presidente da CNI diz que Lula prometeu retirar MP das compensações

Segundo Ricardo Alban, acordo é que discussão sobre compensação para desonerações a 17 setores e municípios deve ocorrer no bojo de projeto de lei já em tramitação no Senado Federal

Marcos Mortari

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião no Palácio do Planalto, em Brasília (REUTERS/Ueslei Marcelino)
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião no Palácio do Planalto, em Brasília (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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Após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta terça-feira (11), o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, disse que ouviu do mandatário que a medida provisória (MPV 1227/2024) com iniciativas de compensação às desonerações da folha de salários de 17 setores e de milhares de municípios será retirada pelo Poder Executivo ou devolvida pelo Legislativo.

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Segundo o executivo, que também se reuniu com uma coalizão de mais de 20 frentes parlamentares que pressionavam o governo contra a MPV, a ideia é que a discussão agora se dê no bojo de projeto de lei que trata das desonerações, em tramitação no Senado Federal, sob a relatoria de Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo na casa.

O dispositivo vinha sendo alvo de fortes críticas do setor produtivo e de parlamentares, que já cobravam do presidente do Congresso Nacional, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que não iniciasse a tramitação da matéria e a remetesse de volta ao Palácio do Planalto, ampliando o impasse em torno dos benefícios fiscais aprovados pelos congressistas no fim do ano passado e que são objeto de controvérsia no Supremo Tribunal Federal (STF). A corte chegou a suspender os benefícios, mas suspendeu os efeitos por 60 dias para dar tempo ao governo e o parlamento costurarem uma solução de compensação para os impactos gerados com perda de arrecadação.

O texto prevê a limitação ao uso de créditos do PIS (Programa de Integração Social) e da Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) para o abatimento de outros tributos e a vedação ao ressarcimento em dinheiro do crédito presumido − iniciativas que, nos cálculos do Ministério da Fazenda, poderiam gerar aumento de arrecadação de R$ 29,2 bilhões.

“As palavras do presidente da República foram de que estaria sendo retirada ou devolvida, dentro de negociação que vai envolver o Executivo e o parlamento, a medida provisória 1227. E que o assunto seria abordado dentro da relatoria que está com o senador Jaques Wagner (PT-BA) da compensação da desoneração que foi feita. Só que foi garantido que não haveria mais a discussão com relação a PIS e Cofins e que essa discussão seria ampla dentro do Congresso para que possamos encontrar caminhos”, afirmou Ricardo Alban em entrevista a jornalistas.

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O movimento, caso confirmado, representa uma derrota política para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que defendia a medida provisória como forma de compensar os efeitos das desonerações não previstas na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024. A iniciativa, na avaliação da equipe econômica, é parte importante da busca pela meta de zerar o déficit primário ainda neste ano.

Durante a conversa com os jornalistas, Alban celebrou a união do setor produtivo contra a medida e indicou que a principal estratégia do governo para equilibrar as contas públicas, a partir de recuperação de receitas, estaria perto do limite. “A MP 1227 trouxe a oportunidade de chegar para o governo e dizer que não há mais espaço definitivamente para o aumento de carga tributária, que seja por aumento de imposto ou por retirada de estímulos ou incentivos”, afirmou.

Ele argumentou, ainda, que há outros caminhos para gerar a compensação necessária aos benefícios fiscais e citou estudo feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) a pedido da CNI que teria indicado potencial de arrecadação de mais de R$ 100 bilhões a partir de um olhar focado na economia informal e no combate a fraudes.

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“A Receita Federal não pode simplesmente trabalhar com base em exceções. Hoje temos uma cultura de que o que é equívoco é o que prevalece. Não pode ser assim. Nós temos que prevalecer e priorizar a economia correta, a economia formal, aquela que dá certo e sustenta o país, aquela que é arrecadadora dos impostos”, afirmou.

Segundo Alban, Lula se mostrou aberto ao diálogo com representantes do setor produtivo e foi favorável ao agendamento de reunião para ouvir os anseios do empresariado. O encontro deverá ocorrer após o mandatário retornar de viagem à Europa, onde participará de reuniões da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do G7, nos dias 13 e 14 de junho.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.