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Ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore avalia que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seguem caminho parecido na condução da política econômica: o do populismo.
“O mesmo erro cometido por um populista de direita, chamado Bolsonaro, que promoveu uma expansão fiscal muito grande, está sendo cometido por um populista de esquerda, chamado Luiz Inácio Lula da Silva”, afirmou Pastore em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Pastore se mostrou pessimista com o futuro da economia brasileira, defendeu a não alteração das metas de inflação, elogiou a atuação do BC e disse que o governo Lula deveria melhorar as contas públicas para permitir uma queda da taxa básica de juros. A seguir os principais trechos da entrevista:
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Como o sr. vê a discussão de mudar a meta de inflação?
O governo está brigando a guerra errada ao pensar em mudar a meta. As taxas de juros não estão altas porque o Banco Central favorece os rentistas, como tem sido afirmado pelo presidente (Lula). Elas estão altas porque existe uma política fiscal expansionista que vem tirando a potência da política monetária e, para reduzir a inflação, o Banco Central é obrigado a manter a taxa de juros mais alta por mais tempo. Esse é o diagnóstico do problema. Para crescer o Brasil, tem de baixar juros. Para baixar juros, o país precisa de disciplina fiscal. Mas isso não foi endereçado até agora.
Quais podem ser as consequências de uma alteração da meta de inflação?
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Recentemente, nós vimos várias pessoas dizendo que o Brasil tem uma meta muito baixa. Isso não é verdade. A grande maioria dos países tem metas iguais ou menores do que a do Brasil. Não há nada de exagerado em ter esse tipo de meta. Se a meta for aumentada, a desancoragem de expectativas tende a crescer. E, na medida em que cresce a desancorarem das expectativas, você tende a retardar o momento no qual a taxa de juros cai.
No cenário atual, quando os juros podem cair?
A taxa de juros só vai cair na hora que a inflação vier para baixo, na hora que as expectativas de inflação vierem para baixo. Eu acho que isso vai demorar muito tempo. Vamos colocar em uma outra dimensão: existe uma política fiscal expansionista, porque o governo acha que crescimento econômico é feito com aumento de gastos. Ele não está disposto a cortar gastos. Até agora, também não enunciou reformas tributárias que aumentem a receita. O déficit público vai continuar. Isso gera uma subida da taxa de juros ao longo de toda a curva, eleva a taxa de juros da dívida pública e piora a dinâmica de dívida, o que traz um novo aumento do prêmio de risco. O que estou querendo colocar é o seguinte: o caminho que o governo está adotando é um que agrava a situação fiscal, gera uma desaceleração da economia maior do que aquela que precisava acontecer, sem que a inflação caia o que poderia cair.
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O Brasil está fadado a ter anos de baixo crescimento?
O governo tem de mudar a política econômica. O mesmo erro cometido por um populista de direita, chamado Bolsonaro, que promoveu uma expansão fiscal muito grande, está sendo cometido por um populista de esquerda, chamado Luiz Inácio Lula da Silva, com uma expansão fiscal grande demais para o país. Ele tem de atacar isso. Na hora que fizer isso, a taxa de juros começa a cair, e o país volta a crescer. Ele está com o diagnóstico errado. O problema é muito simples: o governo tem o diagnóstico errado da situação econômica.
O sr. acha que vai ser possível insistir até quando nesse diagnóstico?
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Eu esperaria que eles pudessem mudar a cabeça, mas eu acho que não vão mudar. Eu vejo que essa situação econômica vai se agravar, e nós vamos convergir para uma tensão política no final desse ciclo. A minha visão é muito negativa sobre a perspectiva da economia brasileira.
Mas para dimensionar essa visão negativa: será uma crise parecida com a recessão enfrentada em 2015 e 2016?
A política econômica é a mesma do governo Dilma. Não tem diferença, está seguindo o mesmo caminho.
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Nesse cenário, não há avanço, não sai uma reforma tributária, por exemplo?
Eu não sei como é a relação do governo com o Congresso. Agora, é mais difícil aprovar uma reforma tributária se a economia estiver frágil economicamente. Os setores que estão sentindo essa fragilidade, como o comércio varejista e o setor de serviços, se opõem a mexidas como essa. Isso dificulta a aprovação da reforma tributária.
Qual posição o presidente do BC tem de adotar no meio desse conflito com o governo?
O que ele (Roberto Campos Neto) está fazendo é o que tem de fazer. Não tem de mudar nada. Não vejo erros técnicos cometidos pelo Banco Central. Eu vejo erros de diagnósticos cometidos pelo governo.