Planalto rebate Tarcísio e Caiado em Israel: “Distorcem a posição do Brasil”

Em nota, governo Lula lamenta posição dos governadores de São Paulo e Goiás, que foram a Israel e criticaram declarações do presidente brasileiro

Fábio Matos

Os governadores Ronaldo Caiado (Goiás) e Tarcísio de Freitas (São Paulo) estiveram com o presidente de Israel, Isaac Herzog (Foto: Instagram/Reprodução)
Os governadores Ronaldo Caiado (Goiás) e Tarcísio de Freitas (São Paulo) estiveram com o presidente de Israel, Isaac Herzog (Foto: Instagram/Reprodução)

Publicidade

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se posicionou sobre a visita dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), a Israel, na qual ambos estiveram reunidos, na terça-feira (19), com o presidente israelense Isaac Herzog, em Jerusalém.

Na ocasião, Caiado pediu “desculpas”, em nome da população brasileira, pelas declarações de Lula em fevereiro, quando o presidente da República comparou a ação militar de Israel contra o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza ao Holocausto da Alemanha nazista de Adolf Hitler, quando o povo judeu foi perseguido e dizimado. Tarcísio também disse que as falas de Lula não representam a posição “do povo brasileiro”.

Em nota, o Palácio do Planalto informou que o governo federal “lamenta” o comportamento dos dois governadores. “Lamentamos que governadores, no exterior, distorçam a posição do Brasil sobre o tema, em momento em que o mundo todo se preocupa com os civis palestinos”, diz o comunicado.

Continua depois da publicidade

De acordo com a nota, Lula condenou, desde o início, os ataques perpetrados pelo Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023, que deflagraram a guerra em Gaza.

“O presidente condenou os ataques do Hamas repetidas vezes e não fez fala contra o povo judeu e, sim, contra ações do atual governo de Israel, que também foram criticadas por governos do mundo inteiro, inclusive Europa e Estados Unidos”, diz o Planalto.

No mesmo dia da declaração de Lula, no mês passado, Netanyahu afirmou que o presidente do Brasil havia cruzado “uma linha vermelha” de forma “vergonhosa e grave”. “Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender”, criticou Netanyahu. Lula se tornou “persona non grata” no país.

Continua depois da publicidade

Na quarta-feira (20), durante a festa pelos 44 anos do PT, Lula voltou a classificar a ação militar israelense em Gaza como “genocídio”. “Chega de matar mulheres e crianças! Chega! Aquilo não é guerra, é genocídio. Temos que ter coragem de dizer essas coisas ou não vale a pena nossa passagem pelo planeta Terra”, disse Lula, aplaudido pelos militantes do PT. “Não é possível que estejamos assistindo a essa carnificina. Cadê a ONU, que deveria existir para evitar que essas coisas acontecessem?”, questionou.

“Herdeiros” do bolsonarismo

Tanto Tarcísio quanto Caiado são cotados como possíveis candidatos à Presidência da República nas eleições de 2026. Ambos integram o campo conservador e podem se credenciar a herdar o espólio político de Bolsonaro, que também é disputado por nomes como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente.

Os governadores de São Paulo e Goiás prestigiaram Bolsonaro no ato a favor do ex-presidente que reuniu centenas de milhares de pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, no dia 25 de fevereiro – apenas Tarcísio discursou.

Continua depois da publicidade

Além da possibilidade de disputar o Planalto, Tarcísio pode se candidatar a um eventual segundo mandato como governador de São Paulo em 2026. Apesar de ter garantido sua permanência no Republicanos, ele é cobiçado por partidos como o PL, de Bolsonaro, e o PP.

Caiado, por sua vez, já foi reeleito em Goiás e deixou clara sua intenção de concorrer à Presidência da República mais uma vez daqui a dois anos. Ele já disputou o Palácio do Planalto em 1989.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”