Padilha: não há pré-disposição do governo em mudar relação com o Banco Central

Declarações são aceno de pacificação após ataques consecutivos de Lula à autonomia da autoridade monetária

Marcos Mortari

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) empossa Alexandre Padilha (PT) como Ministro de Relações Institucionais (Foto: Ricardo Stuckert)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) empossa Alexandre Padilha (PT) como Ministro de Relações Institucionais (Foto: Ricardo Stuckert)

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Após duas críticas consecutivas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à autonomia do Banco Central em 24 horas, o Ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), afirmou, na tarde desta quinta-feira (19), que o governo não tem intenção de mudar a relação com a autoridade monetária.

“Como disse o presidente Lula, na sua experiência de governo, deu plena autonomia ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O presidente não vai mudar de postura agora, ainda mais com uma lei que estabelece regras nesse sentido”, afirmou pelo Twitter.

“A gente sabe, no entanto, que nem todo presidente é tão respeitoso quanto Lula. Logo, não há nenhuma pré-disposição por parte do governo de fazer qualquer mudança na relação com o Banco Central”, prosseguiu.

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“O governo sabe que a política monetária e o papel de análise da macroeconomia do Banco Central são de extrema importância. E, também por isso, a convivência respeitosa entre as instituições vai continuar sendo a ordem dessa gestão”, concluiu.

Os juros elevados têm sido alvo de críticas por diversos integrantes do novo governo, que enxergam a política monetária em curso como adversária à agenda de retomada do crescimento do país.

Ontem (18), em entrevista à GloboNews, Lula disse que é uma “bobagem” achar que um presidente do BC independente fará mais do que o que foi feito quando o chefe do Poder Executivo assumia e podia indicar um novo comando para a instituição.

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Durante a conversa, o mandatário também questionou a meta de inflação, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 3,5% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo – o que permite intervalo de 2% a 5%.

“Por que o banco é independente e a inflação está do jeito que está e o juro está do jeito que está? Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7%. Quando você faz isso, você é obrigado a arrochar mais a economia para poder atingir aqueles 3,7%. Por que precisava fazer 3,7%? Por que não fazer 4,5%, como nós fizemos?”, indagou.

Poucas horas mais tarde, nesta quinta-feira (19), Lula levantou questionamentos sobre o atual patamar da taxa básica de juros (a Selic). “A inflação está em 6,5%/7,5%, por que o juro está a 13,5%? Qual é a lógica? Qual é a lógica da desconfiança que o mercado tem de tudo que a gente fala de investimento? Eu não vejo essa gente falar uma vez em dívida social”, disse.

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Em 2022, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), considerado o indicador oficial de inflação do país, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fechou em alta acumulada de 5,79% – acima do limite da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 5%, pelo segundo ano consecutivo.

Já a Selic está em 13,75% ao ano – patamar que se mantém desde agosto de 2022, encerrando um forte ciclo de altas de 11,75 pontos percentuais em pouco mais de 8 meses. Isso significa uma taxa real de juros hoje próxima a 8%, nível considerado elevado quando comparado a pares internacionais.

Agentes econômicos costumam associar essa situação ao contexto de incertezas fiscais no país, diante da indefinição de um novo arcabouço fiscal e as sinalizações de aumento de despesas públicas sem as devidas contrapartidas pela atual administração. A percepção de risco de piora na relação dívida/PIB faz com que o mercado cobre prêmios mais elevados.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.