“Os empresários precisam ter um pouquinho de paciência”, diz ministro

Em entrevista ao InfoMoney, Marcos Pereira fala sobre eleições no Rio, perspectivas para o PRB e desafios para a indústria no governo Michel Temer

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A elevada capacidade ociosa, os juros altos e a desvalorização do dólar ante o real criam um cenário completamente hostil para novos investimentos na indústria mesmo em meio a um clima de maior otimismo por parte do empresariado com a possibilidade de aprovação de uma agenda de reformas em resposta à crise econômica. Marcos Pereira, atual comandante do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, acredita que uma nova onda de investimentos ainda deve demorar um pouco a chegar ao setor, ao passo que a volta de algum crescimento já é esperado para o ano que vem. Nesta entrevista, o ministro fala um pouco mais sobre os desafios da indústria em meio às adversidades conjunturais, os desafios do PRB — partido do qual é presidente nacional — na política e a tensa disputa eleitoral travada no Rio, onde seu candidato, Marcelo Crivella, lidera as pesquisas de intenção de voto contra o psolista Marcelo Freixo na reta final.

InfoMoney – A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) declarou que faltou coragem para o Banco Central promover uma redução mais profunda nos juros. Como acalmar os ânimos do empresariado?
Marcos Pereira – O diálogo é a característica do governo. Nós dialogamos com o empresariado, com os políticos, trabalhadores… Essa demanda da Fiesp não é de agora. Recentemente, participei de um seminário lá justamente após o [Henrique] Meirelles. Ao final de sua fala, nas perguntas, veio o tema dos juros. O ministro disse que isso era assunto do Banco Central. Enquanto foi presidente do BC, ele defendia a independência, então, agora, como ministro da Fazenda, até para manter a coerência, sustenta a mesma posição.

Acho que 0,25 [ponto percentual] é pouco, mas é um sinal, um gesto de que pode melhorar. Primeiro, é preciso tomar algumas medidas para que o BC tenha mais segurança de diminuir em um percentual maior. Eu já dizia isso para os empresários: “quando aprovar a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do teto dos gastos, o BC vai reduzir os juros, é natural”. E só de ela ter sido aprovada em primeiro turno já houve uma redução.

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Recebemos o país em uma situação extremamente difícil, que demanda um pouco de paciência para colocá-lo nos trilhos. Não é em 2 meses de governo definitivo ou em 6 meses de governo no total que vamos corrigir os erros de 6 ou 13 anos. Os empresários precisam ter um pouquinho de paciência. E não adianta reduzir [os juros] de forma incoerente e inconsistente para acontecer o que aconteceu da última vez em que baixamos os juros de forma impositiva até os 7%.

IM – Como o senhor tem percebido a reação do empresariado?
MP – O feedback que tenho é positivo. Em Weimar (Alemanha), o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Andrade, falou muito bem do Brasil, pontuando que já existe confiança no governo, que o presidente ouve, que há um diálogo. Eles estão apreensivos, porque sabem que a situação não é fácil, mas estão confiantes na retomada do crescimento do País. Existem sempre demandas, mas hoje há diálogo e pelo menos a possibilidade de serem ouvidos e darem suas opiniões. 

IM – A indústria está se recuperando? Quando poderemos ver mais investimentos do empresariado? A elevada capacidade ociosa, os juros altos e o câmbio apreciado prejudicam investimentos…
MP – Dada a capacidade ociosa que temos, acredito que investimentos só deverão chegar em 2018, mas o crescimento deve começar no ano que vem. 

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IM – A disputa pela prefeitura do Rio se intensificou no último fim de semana com a polêmica capa da revista Veja. Como presidente do PRB, o senhor vê uma perseguição à sigla por parcela da imprensa?
MP – A matéria em si não justificava uma capa daquelas, especialmente uma capa exclusiva para o Rio de Janeiro. Foi too much. A dose foi exagerada. Acho que mostra o desconhecimento, o preconceito [com Crivella]. Mas eles têm que tomar muito cuidado, não só a Veja como O Globo, que fez uma matéria ontem muito fraca sobre caixa dois em campanha do Crivella. Eu duvido.

Acredito que Crivella vai ganhar, nossas pesquisas mostram que ele está estável. Acho que a sociedade carioca está madura para separar esse socialismo radical do PSOL… Se o PT foi ruim, o PSOL será pior para o Brasil.

IM – Por quê?
MP – Por causa das posições radicais deles, especialmente desse rapaz [Freixo]. Se eles acusam o Crivella de ter escrito um livro intolerante — e ele já se desculpou por isso –, eles queimaram a bandeira de Israel. Queimar uma bandeira, que é um símbolo nacional, de qualquer país que seja, é um radicalismo exacerbado. Cadê as desculpas do PSOL?

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Eles são contra o Brasil. Estamos tentando resgatar o País enquanto eles dizem “fora, Temer”, como no primeiro discurso de Freixo no segundo turno. Não é porque sou do governo, mas nós temos que pensar em país. Ontem, li que o PMDB do Rio torce por uma vitória de Freixo, porque eles torcem por uma má gestão dele para voltarem ao poder. É esse o tipo de política que temos que tirar do Brasil: o político só pensa na próxima eleição. Temos que pensar nas próximas gerações, com políticas de Estado, e não de governo.

IM – O que explica a posição do PRB, que apoiou o governo Dilma e agora compõe a base da gestão Temer?
MP – Quando o partido foi criado, em 2005, José Alencar já era vice-presidente de Lula. Em 2010, aparentemente as coisas estavam bem, não tinha por que não apoiar Dilma, já que o presidente de honra do partido estava no governo. Em 2014, em meu discurso na convenção, disse que iríamos apoiar a reeleição de Dilma, mas a governabilidade dependeria de algumas coisas, entre elas: controle da inflação, retomada do crescimento da economia, baixa dos juros, estancar o aumento do desemprego e liberdade de imprensa.

Depois de ela não ter apresentado nada em 2015 e ter perdido condições de governabilidade, fomos o primeiro partido a sair. Isso nos custou, inclusive, o rompimento do então ministro dos Esportes com o partido.

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Participar do governo do presidente Temer foi uma discussão do partido. Por unanimidade, a bancada entendeu que deveria ajudar. É preciso resgatar esse histórico para mostrar que não há incoerência. Nós fomos o primeiro a sair e o primeiro a fechar a questão do impeachment, e, dos que compuseram o governo Dilma, foi o único que votou 100% favoravelmente ao impeachment — coisa que nem o próprio PMDB conseguiu fazer.

IM – Quais são as projeções para 2018? Haverá candidatura própria para a presidência da República?
MP – Está muito cedo ainda. Vamos esperar um pouco. 

IM – Qual é o saldo das eleições municipais para o PRB?
MP – Foram muito boas. O partido, entre os médios e grandes, foi o que mais cresceu. Passamos de 80 para 104 prefeitos e de 1207 para 1624 vereadores.

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IM – O partido já tem posição para a reforma da Previdência que virá?
MP – Não. Temos ideia de algumas coisas que virão, mas vamos discutir depois com a bancada. O conceito de que é necessário está presente. Agora, vamos discutir os detalhes.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.