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SÃO PAULO – A nomeação de Rogério Marinho, então secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, para o comando do Ministério de Desenvolvimento Regional, na última quinta-feira (6), gerou diferentes interpretações entre analistas políticos sobre seus significados.
De um lado, trata-se de um gesto político de prestígio pelo papel desempenhado por Marinho nas articulações pela aprovação da reforma da Previdência junto ao parlamento. Do outro, pode ser uma oportunidade de aproximação do governo com deputados e senadores ─ em um ano de novos desafios relevantes para a agenda econômica.
“É uma forma de melhorar a articulação política”, observa o analista político Carlos Eduardo Borenstein, da Arko Advice. Para ele, a pasta deverá ganhar ainda mais relevância neste ano eleitoral. A figura de Marinho pode ajudar no atendimento de demandas dos congressistas e realização de políticas conjuntas.
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Apesar disso, o ex-deputado federal terá o desafio de lidar com orçamento reduzido para um dos principais programas da pasta, o Minha Casa Minha Vida, que caiu de R$ 4,2 bilhões no ano passado para atuais R$ 2,8 bilhões.
“Marinho foi o principal articulador da reforma da Previdência e tem boa relação com o Congresso. Ele chega com apoio de Paulo Guedes e a tendência é que alie as políticas fim da pasta a uma aproximação com o Congresso que facilite o andamento de outras reformas”, observam os analistas da XP Política.
A mudança no ministério também ocorre em meio a um incômodo de parlamentares e mesmo de membros do governo com o desempenho de Gustavo Canuto, que ocupou o ministério até ontem. O ministro tinha dificuldades de interlocução com os pares na Esplanada e sua condução para o programa Minha Casa Minha Vida não era considerada satisfatória. Fora da pasta, ele foi realocado para a direção da Dataprev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social).
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Na avaliação do consultor político Thomas Traumann, uma segunda sinalização dada pela mudança é a da força política do ministro Paulo Guedes (Economia), que poderá ter maior interlocução com uma pasta relevante do governo. “A transferência do PPI ((Programa de Parcerias de Investimento) [da Casa Civil para a Economia] e agora a ida de Marinho [para o Ministério do Desenvolvimento Regional] mostram que ele é o mais influente ministro em décadas”, pontuou.
A dança das cadeiras vem em um contexto de cobrança maior por uma agenda social do governo. Em meio ao vácuo de políticas públicas nesse campo, a Câmara dos Deputados avançou sobre o assunto, com o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), colocando a deputada Tábata Amaral (PDT-SP) no comando da agenda. A pauta inclui temas como transferência de renda, proteção social dos trabalhadores e metas de redução da pobreza para Estados e municípios.
Em ano de eleições municipais, o governo tenta recuperar influência na área social, colocando um nome que ganhou prestígio no governo durante a tramitação da reforma previdenciária, tem boa interlocução com a área econômica e com o Congresso Nacional.
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A troca envolvendo Canuto e Marinho foi a quinta mudança na equipe ministerial do governo. Desde que assumiu o cargo, Bolsonaro trocou os titulares do Ministério da Educação (Ricardo Velez por Abraham Weintraub), da Secretaria Geral da Presidência (Gustavo Bebianno por Floriano Peixoto e, em seguida, por Jorge Oliveira) e Secretaria de Governo (Santos Cruz por Luiz Eduardo Ramos).
Para Borenstein, o movimento pode ensejar uma reforma ministerial mais profunda no futuro. “Essa mudança pode gerar pressões por reforma ministerial, em que pese a tendência de, no curto prazo, Onyx Lorenzoni e Abraham Weintraub se manterem em suas pastas. Pode haver pressões por mais mudanças na equipe”, afirma.