O pior emprego do Brasil? Prefeitura de São Paulo se revela “triturador” de políticos

Onze prefeitos já governaram a maior cidade do país pós-redemocratização. Embora seja "trampolim" político, cargo costuma trazer dissabores como cobrança implacável da opinião pública e elevada rejeição

Fábio Matos

Sede da prefeitura de São Paulo: cidade é desafio enorme para políticos de todas as colorações partidárias (Foto: Divulgação/Guilherme Cunha/SMTUR)
Sede da prefeitura de São Paulo: cidade é desafio enorme para políticos de todas as colorações partidárias (Foto: Divulgação/Guilherme Cunha/SMTUR)

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O próximo prefeito de São Paulo (SP), que assumirá o cargo em 1º de janeiro de 2025, sabe que terá um enorme desafio pela frente. Governar uma megalópole de quase 11,9 milhões de habitantes (de acordo com dados do IBGE) tem se revelado uma tarefa inglória, em meio a uma infinidade de problemas complexos, diretamente proporcionais à magnitude da maior cidade da América Latina.

Desde a redemocratização do país, em 1985, São Paulo já teve 11 prefeitos (veja lista completa abaixo) – do ex-presidente Jânio Quadros ao atual mandatário e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB). Nesse período, o eleitor paulistano se mostrou “eclético”, elegendo representantes de diversas colorações partidárias, à esquerda e à direita. Invariavelmente, todos foram duramente cobrados pela opinião pública e esbarraram em dificuldades em seus mandatos ou na sequência de suas carreiras.

Segundo especialistas ouvidos pelo InfoMoney, a prefeitura de São Paulo pode servir tanto como um “trampolim” para qualquer administrador público, pela projeção nacional que lhe confere, quanto como uma âncora, capaz de afundar as pretensões político-eleitorais do chefe de plantão do Executivo municipal.

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“São Paulo é a maior plataforma de problemas da América Latina. É muito complexo administrar uma cidade que tem mais de 11 milhões de pessoas atribuindo ao município boa parte de suas dificuldades cotidianas, seja de mobilidade, saúde, educação ou zeladoria. Tudo é sempre atribuído diretamente ao prefeito, a figura mais próxima e que tem o maior nível de intervenção na vida do munícipe”, afirma Fábio Zambeli, vice-presidente da consultoria Ágora Assuntos Públicos. “Por mais que o prefeito se organize para criar algumas bandeiras da gestão e demonstrar sua efetividade administrativa, a agenda negativa é muito maior do que a positiva. O prefeito até pode conseguir construir uma marca e alcançar boa aprovação por algum tempo, mas é muito difícil perenizar uma agenda positiva que se reverta em popularidade.”

Diagnóstico semelhante é traçado por Bruno Soller, especialista em comunicação política pela George Washington University. “É um ‘abacaxi’ enorme, pela dimensão da cidade e dos seus problemas. Dos quase 12 milhões de habitantes, pelo menos 12% vivem com menos de R$ 1 mil de renda média familiar. Há uma desigualdade social muito grande e uma série de desafios, tanto do ponto de vista econômico-social quanto do ponto de vista urbanístico”, aponta.

Apesar do ônus, pondera Soller, a visibilidade alcançada pela importância do cargo é um bônus que não deve ser desprezado. “Ser prefeito de São Paulo dá uma projeção nacional indiscutível. E não precisa nem ser prefeito: a disputa eleitoral já projeta os candidatos nacionalmente. É o caso do Pablo Marçal [terceiro colocado na eleição de 2024], que começa a figurar entre os mais lembrados em pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República em 2026”, exemplifica.

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Zambeli lembra que “quase todos os prefeitos de São Paulo depois da redemocratização tiveram relevância nacional”. “Marta [Suplicy], [José] Serra, [João] Doria, Bruno Covas, [Paulo] Maluf, [Luiza] Erundina…o Jânio já tinha uma história política. Mas todos esses personagens foram atores de ponta da política nacional, e a passagem pela prefeitura foi fundamental para isso”, afirma. “O prefeito de São Paulo tem uma visibilidade maior do que muitos governadores e ministros, até pela presença no noticiário, mesmo que negativa. Isso leva a uma taxa de conhecimento muito alta.”

Eleições 2024: saiba tudo sobre as disputas pelas prefeituras em todo o Brasil

A seguir, o InfoMoney traz um breve resumo sobre as administrações que se sucederam em São Paulo nas últimas quatro décadas, em uma alternância de poder entre as mais variadas correntes ideológicas que, ao fim e ao cabo, se encontram em um denominador comum: o inevitável desgaste político experimentado por aqueles que responderam, em diferentes momentos, pelos destinos de milhões de paulistanos.

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Veja a lista dos 11 prefeitos de São Paulo pós-redemocratização e seus respectivos períodos de governo:

EleiçãoPrefeitoAssume comoInícioFim
1985Jânio QuadrosPrefeito eleito1/1/198631/12/1988
1988Luiza ErundinaPrefeita eleita1/1/198931/12/1992
1992Paulo MalufPrefeito eleito1/1/199331/12/1996
1996Celso PittaPrefeito eleito1/1/199731/12/2000
2000Marta SuplicyPrefeita eleita1/1/200131/12/2004
2004José SerraPrefeito eleito1/1/200531/3/2006*
2004Gilberto KassabVice eleito31/3/200631/12/2008
2008Gilberto KassabPrefeito eleito1/1/200931/12/2012
2012Fernando HaddadPrefeito eleito1/1/201331/12/2016
2016João DoriaPrefeito eleito1/1/20176/4/2018**
2016Bruno CovasVice eleito6/4/201831/12/2020
2020Bruno CovasPrefeito eleito1/1/202116/05/2021***
2020Ricardo NunesVice eleito16/05/202131/12/2024
* Deixou o cargo para concorrer ao governo do estado;
** Deixou o cargo para concorrer ao governo do estado;
***Morreu no exercício do cargo.

Jânio Quadros

Ex-presidente da República, Jânio Quadros foi o primeiro prefeito de São Paulo eleito democraticamente após 21 anos de ditadura militar. Quando tomou posse, em 1º de janeiro de 1986, Jânio já tinha em seu currículo dois anos como prefeito da capital, entre 1953 e 1955, e um mandato como governador do estado (1955-1959), além dos sete meses em que ocupou a Presidência da República — renunciou em agosto de 1961. Na eleição de 1985, em São Paulo, Jânio contrariou os prognósticos e superou o favoritismo de Fernando Henrique Cardoso apontado por quase todos os institutos de pesquisa. FHC, como se tornaria conhecido anos depois, chegou a posar para fotos sentado na cadeira de prefeito. Ao tomar posse, Jânio “desinfetou” a poltrona. Morreu em 16 de fevereiro de 1992, aos 75 anos, três anos após deixar a prefeitura.

Erundina, Marta e Haddad

Os três prefeitos de esquerda eleitos em São Paulo tiveram gestões marcadas por investimentos sociais, por um lado, e fortes críticas e rejeição de parte da população, por outro. Eleita em 1988, então no PT, Luiza Erundina fez os mutirões habitacionais, avançou na regularização fundiária, construiu hospitais e renovou a frota de ônibus. Sem maioria na Câmara Municipal, no entanto, não conseguiu aprovar projetos como o aumento do IPTU para subsidiar a gratuidade do transporte público. Também fracassou na tentativa de aprovar um Plano Diretor e criar as subprefeituras. Rejeitada pela maioria dos paulistanos, Erundina concorreu à prefeitura outras quatro vezes (1996, 2000, 2004 e 2016), sem sucesso. Depois de deixar o cargo, venceu apenas eleições para a Câmara dos Deputados – são sete mandatos consecutivos desde 1999.

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Também pelo PT, Marta Suplicy se elegeu prefeita de São Paulo em 2000, derrotando Paulo Maluf no segundo turno. Sua principal marca foi a construção dos Centros Educacionais Unificados (CEUs) na periferia da cidade, além da criação do Bilhete Único. Enfrentou sucessivas greves no setor de transportes e recebeu uma avalanche de críticas por ter criado novas taxas, como a do lixo e a da iluminação pública. Voltou a disputar a prefeitura em 2004, 2008 e 2016, mas acabou derrotada em todas as tentativas. Assim como Erundina, só se elegeu para cargo no Legislativo — foi senadora entre 2011 e 2019.

“Além de tudo isso, tivemos uma questão do abandono da cidade que foi usada como argumento em diversas ocasiões. A Marta foi acusada de abandonar São Paulo por uma questão pessoal, quando ela viajou a Paris justamente em um momento em que a cidade enfrentou uma grande enchente”, aponta Bruno Soller. “O interessante é que a Marta, até hoje, tem sua gestão como uma das mais bem avaliadas de São Paulo, mas ela deixa a prefeitura com uma rejeição pessoal muito grande.”

O também petista Fernando Haddad, por sua vez, venceu a eleição de 2012, batendo José Serra (PSDB) no segundo turno. Expandiu as ciclovias e faixas exclusivas de ônibus pela cidade, diminuiu o limite de velocidade em algumas das principais vias da capital e foi à Justiça para tentar implementar o IPTU progressivo. Terminou o governo com a pior avaliação entre os prefeitos de São Paulo que tentaram a reeleição. Em 2016, ao tentar renovar o mandato, não chegou sequer ao segundo turno. Disputou cargos majoritários em 2018 (Presidência da República) e 2022 (governo de São Paulo) e foi derrotado nas duas eleições. Desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é ministro da Fazenda.

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“Muitos prefeitos que saíram com avaliação negativa e popularidade arranhada, como a Marta e o Haddad, tiveram de fazer medidas de arrecadação. A Marta lançou a taxa do lixo e ficou estigmatizada como ‘Martaxa’. O Haddad tentou implementar o IPTU progressivo e perdeu na Justiça. Essas medidas visavam a aumentar a arrecadação e melhorar o caixa do município”, recorda Fábio Zambeli.

Maluf e Pitta

O malufismo viveu seu auge em meados dos anos 1990, a partir da vitória de Paulo Maluf sobre Eduardo Suplicy (PT) na eleição de 1992 para a prefeitura da capital. Ex-prefeito e ex-governador “biônico” de São Paulo, nomeado pelos militares, Maluf finalmente conquistaria uma ampla vitória pelo voto popular, com mais de 58% de apoio do eleitorado paulistano. Implementou programas sociais como o Leve Leite, o Cingapura e o Plano de Atendimento à Saúde (PAS), fez uma série de obras viárias por toda a cidade, extinguiu a CMTC e criou a SPTrans (para organizar o sistema de ônibus municipais) e aproveitou o forte apoio popular para aprovar leis controversas, à época, como a proibição do fumo em restaurantes e a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança. Em 1996, segundo o Datafolha, Maluf ostentava o maior índice de aprovação, em último ano de mandato, entre todos os prefeitos de São Paulo desde a redemocratização.

A maré começaria a virar a partir da escolha do candidato à sucessão (ainda não havia reeleição no Brasil). O então prefeito indicou o secretário de Finanças, Celso Pitta, para a disputa do pleito de 1996. Durante o horário eleitoral, Maluf imortalizou uma promessa feita aos paulistanos: “Votem no Pitta. E, se ele não for um grande prefeito, nunca mais votem em mim”. Dito e feito. O sucessor de Maluf teve uma gestão considerada até hoje uma das mais desastrosas da história da cidade, marcada por denúncias de corrupção em série (algumas das quais feitas por sua ex-esposa, Nicéia Pitta), e escândalos como a “máfia da propina” e o dos precatórios. Alvo de dois pedidos de impeachment, que não prosperaram, Pitta concluiu o mandato inviabilizado politicamente (com mais de 80% de rejeição), e não se candidatou à reeleição, que já vigorava no país. Em 2008, foi condenado e preso pelo escândalo dos precatórios, por desvio de verbas e lavagem de dinheiro – mais tarde, deixou a cadeia e passou a cumprir prisão domiciliar. Pitta morreu em 2009, aos 63 anos, vítima de câncer.

Também bombardeado por denúncias de corrupção, Maluf jamais voltou a ser eleito para algum cargo majoritário. Ainda disputou a prefeitura de São Paulo em 2000, 2004 e 2008, mas viu sua votação minguar a cada eleição. Em 1998, concorreu ao governo do estado, mas foi derrotado por Mário Covas (PSDB) no segundo turno. Foi eleito deputado federal três vezes (2006, 2010 e 2014). Em 2017, Maluf foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 7 anos e 9 meses de prisão por lavagem de dinheiro no período em que foi prefeito. A partir de 2018, passou a cumprir prisão domiciliar e, em 2022, ganhou liberdade condicional. Em 2005, já havia sido preso pela Polícia Federal (PF) por formação de quadrilha, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas – passou 40 dias detido. Hoje, Maluf tem 93 anos.

Serra e Doria

Assim como o PT, o PSDB também governou São Paulo três vezes – e as duas primeiras tiveram algumas semelhanças entre si. A começar pelo interesse dos prefeitos eleitos – José Serra, em 2004, e João Doria, em 2016 – de alçarem voos mais altos na política, mirando a Presidência da República. No segundo turno do pleito de 2004, Serra derrotou Marta Suplicy, que se candidatava à reeleição, com quase 55% dos votos. Era sua terceira tentativa de se tornar prefeito de São Paulo (já havia concorrido em 1988 e 1996). Assumiu o cargo já tendo sido deputado constituinte, senador da República, ministro do Planejamento, ministro da Saúde e candidato à Presidência, em 2002. Como prefeito, extinguiu a “taxa do lixo” criada por Marta e anunciou que congelaria todos os recursos previstos no Orçamento de 2005 para investimentos, exceto os definidos pela Constituição. Serra integrou o Bilhete Único ao metrô, criou a Virada Cultural e apresentou o projeto Nova Luz, de revitalização do entorno da Estação da Luz, no centro da cidade. Aprovado por 42% da população, de acordo com o Datafolha, deixou a prefeitura após cumprir apenas 1 ano e 3 meses de mandato, em março de 2006, para disputar – e vencer – a eleição para o governo do estado. A partir daí, caiu em desgraça junto a uma grande parte do eleitorado paulistano.

“As rejeições que alguns dos mandatários tiveram não foram só por questões administrativas, necessariamente. Houve problemas políticos e de ordem pessoal”, analisa Bruno Soller. “O José Serra, quando sai da prefeitura, se candidata a governador do estado e vence a eleição. O fato de ele ter largado a prefeitura no meio do caminho deixou um arranhão na sua imagem como alguém que teria abandonado a cidade. É exatamente o mesmo fenômeno que aconteceu com o João Doria, mais recentemente”, compara.

Dez anos após a saída de Serra da prefeitura, coube a João Doria, um outsider que se apresentava como “gestor, e não político”, reconduzir o PSDB ao comando do Executivo municipal. Com uma trajetória avassaladora na campanha, o tucano foi o primeiro prefeito de São Paulo eleito no primeiro turno desde que a eleição em dois turnos foi instituída: ele obteve mais de 53% dos votos válidos logo na primeira rodada de votação, muito à frente do então titular do cargo, Fernando Haddad, que ficou com 16,7%. No primeiro dia de governo, Doria fez plantão na Avenida 9 de Julho, vestido com uniforme de gari, ao lado de secretários, para ajudar na limpeza e sinalizar que faria um “trabalho duro” à frente da prefeitura. Em sua gestão, aumentou o limite de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros, criou o programa de zeladoria urbana SP Cidade Linda, construiu Centro Temporários de Acolhimento (CTAs) destinados à população de rua e declarou “guerra” à Cracolândia, prometendo acabar com a região tradicionalmente ocupada por dependentes químicos e traficantes de drogas – o que não conseguiu cumprir. Assim como Serra, deixou a prefeitura após 1 ano e 3 meses para concorrer a governador. Dois dias depois da renúncia, o Datafolha divulgou uma pesquisa que apontava que 47% dos paulistanos consideravam sua gestão ruim ou péssima. Eleito governador em 2018, tentou se lançar candidato do PSDB ao Planalto em 2022, mas não angariou apoio dentro do próprio partido e desistiu. No mesmo ano, alvo de elevadíssima rejeição do eleitorado, se desfiliou do PSDB e abandonou a vida político-partidária, voltando à iniciativa privada.

Kassab, Covas e Nunes

Três dos 11 prefeitos de São Paulo pós-redemocratização assumiram, inicialmente, como vice-prefeitos eleitos. Em 2006, com a saída de José Serra da prefeitura, Gilberto Kassab (no PFL, à época, que se tornaria Democratas) assumiu o cargo, para o qual seria reeleito em 2008, derrotando Marta Suplicy, com mais de 60% dos votos válidos. Em seu período como prefeito, entre 2006 e 2012, Kassab sancionou a Lei Cidade Limpa, que proibia anúncios publicitários em muros, coberturas e laterais de lotes urbanos e também vetava publicidade em bicicletas, motos, ônibus e carros. Se, no primeiro ano de mandato, obteve aprovação de 61% dos paulistanos, chegou ao último ano com a gestão avaliada como boa ou ótima por apenas 22% da população (dados do Datafolha). Teve o nome fortemente associado a José Serra (de quem foi vice), que já não gozava, àquela altura, de boa reputação entre os eleitores. No pleito de 2012, coube justamente ao tucano defender o legado do governo Serra/Kassab, mas Serra foi derrotado por Haddad no segundo turno. Depois da prefeitura de São Paulo, Kassab nunca mais se aventurou em disputas eleitorais e se consolidou como um articulador político, trabalhando nos bastidores do poder – e participando de diversos governos, à direita e à esquerda. Foi ministro das Cidades do governo Dilma Rousseff; ministro da Ciência e Tecnologia no governo Michel Temer; secretário da Casa Civil de São Paulo no governo João Doria; e hoje ocupa a Secretaria de Governo e Relações Institucionais na gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo. Seu partido, o PSD, criado em 2011, foi o que mais elegeu prefeitos no primeiro turno das eleições deste ano (877), um crescimento de 33%.

Outro prefeito eleito após administrar a capital como vice foi Bruno Covas (PSDB), que governou entre 6 de abril de 2018 e 16 de maio de 2021 (quando morreu, aos 41 anos, vítima de câncer). Neto do ex-governador Mário Covas, Bruno foi deputado estadual, secretário estadual do Meio Ambiente e deputado federal antes de se eleger vice-prefeito, em 2016, na chapa liderada por Doria. Com a saída do titular para concorrer a governador, assumiu a prefeitura em 2018, para ser eleito em 2020, derrotando Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno, com quase 60% dos votos. Sua gestão foi marcada pelo enfrentamento da pandemia de Covid-19, que teve o epicentro nacional em São Paulo. Defendeu a vacinação e o isolamento social e implementou medidas de restrição de deslocamento e até o bloqueio parcial de ruas e avenidas. Em 2020, no auge da pandemia, o governo Covas era aprovado por 25% dos paulistanos, reprovado por 27% e considerado regular por 45%, segundo o Datafolha.

Após a morte de Covas, quem assume a prefeitura de São Paulo é seu vice, o empresário Ricardo Nunes (MDB), líder comunitário na zona sul e vereador desconhecido da Câmara Municipal, na qual esteve entre 2013 e 2020. No Legislativo, atuou junto à bancada religiosa e em defesa de pautas conservadoras. Concorre à reeleição no próximo domingo (27), contra Guilherme Boulos, e tenta superar a pecha atribuída pelos adversários de que foi responsável por uma gestão sem grandes “marcas” na maior cidade do país em quase 3 anos e meio de governo. Entre as principais propostas do candidato do MDB, estão a expansão das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), a modernização da infraestrutura dos hospitais municipais e a manutenção do equilíbrio das contas públicas.

Alívio financeiro

Apesar dos obstáculos, o futuro prefeito de São Paulo assumirá a cidade com Orçamento recorde, estimado em R$ 122,7 bilhões, e cerca de R$ 13 bilhões disponíveis para investimentos, de acordo com o Projeto de Lei de Orçamentária Anual (Ploa) de 2025 encaminhado à Câmara dos Vereadores. Na gestão Nunes, houve a renegociação da dívida de R$ 25 bilhões do município com a União, ainda sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por meio da venda do Campo de Marte, que gerava uma despesa mensal de R$ 280 milhões.

“Ter as contas organizadas é um ativo importante para qualquer prefeito, principalmente em São Paulo”, observa Zambeli. “Depois da renegociação da dívida do município, que passou pelas gestões de Serra e Kassab e foi assinada no governo Haddad, houve um alívio muito importante para as contas públicas.”

Para Bruno Soller, embora a saúde financeira da cidade possa “ajudar muito” o próximo prefeito, tudo dependerá de sua “capacidade de gestão”. “Não adianta só ter dinheiro. Pode virar um banco e não reverter isso para a sociedade ou pode gerar investimentos errados. Tem de se ver como será essa administração orçamentária e as prioridades que o próximo prefeito definirá para a futura gestão. Mas, obviamente, é um problema bom para se resolver, com dinheiro no caixa.” 

Veja imagens dos prefeitos de São Paulo desde a redemocratização:

Jânio Quadros, ex-presidente da República, foi o primeiro prefeito de São Paulo pós-redemocratização (Foto: Acervo/Câmara Municipal de São Paulo)
Luiza Erundina, então no PT, foi eleita prefeita de São Paulo em 1988. Ela foi a primeira mulher a governar a cidade (Foto: Reprodução/redes sociais)
Celso Pitta (à esq.) e seu “mentor político”, Paulo Maluf, em ato durante a campanha eleitoral de 1996 (Foto: Reprodução)
Eleita em 2000, Marta Suplicy governou São Paulo de 2001 a 2004 e não conseguiu se reeleger. Com gestão bem avaliada, ela enfrentou uma rejeição pessoal muito alta (Foto: Reprodução)
José Serra foi eleito em 2004, deixou a prefeitura para concorrer ao governo do estado e quem assumiu foi Gilberto Kassab (à dir.), reeleito em 2008 (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Hoje ministro da Fazenda do governo Lula, Fernando Haddad (PT) foi eleito em 2012 e governou entre 2013 e 2016. Com péssima avaliação, ele foi o primeiro prefeito de São Paulo que, na campanha pela reeleição, não conseguiu sequer ir ao segundo turno (Foto: Reprodução/TV Globo)
João Doria, então no PSDB, foi eleito prefeito de São Paulo no primeiro turno, em feito inédito desde a instituição dos dois turnos nas eleições. Ele abandonou a prefeitura após pouco mais de 1 ano, se elegeu governador, mas não foi “perdoado” pelo eleitor paulistano (Foto: Divulgação/PMSP)
Bruno Covas (PSDB) foi mais um vice que assumiu a prefeitura após a saída do titular. Na eleição seguinte, em 2020, foi eleito prefeito. Em maio de 2021, aos 41 anos, morreu em decorrência de um câncer (Foto: Divulgação/PMSP)
Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (SP) e candidato à reeleição (Foto: Reprodução/ Instagram)

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”