O papel dos militares na suposta trama de golpe, segundo denúncia da PGR

Ex-ministros e generais da reserva são acusados de tentar manter Bolsonaro no poder após derrota nas urnas em 2022

Marina Verenicz

Encontro do presidente Jair Bolsonaro com Oficiais do curso de Política Estratégia e Alta Administração do Exército (Foto: Marcos Corrêa/PR)
Encontro do presidente Jair Bolsonaro com Oficiais do curso de Política Estratégia e Alta Administração do Exército (Foto: Marcos Corrêa/PR)

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A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou, nesta terça-feira (18), 23 militares por participação na suposta conspiração para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A investigação aponta que a trama envolvia uma organização criminosa estruturada em diferentes núcleos, visando deslegitimar o processo eleitoral e manter Jair Bolsonaro (PL) no poder.

Segundo o relatório da Polícia Federal (PF), os acusados articularam um golpe de Estado e a abolição do Estado Democrático de Direito, por meio da restrição ao funcionamento do Judiciário e da tentativa de intervenção militar. Entre os militares denunciados, sete ocupavam o posto de oficiais-generais, incluindo os ex-ministros Walter Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

A denúncia também afirma que a conspiração previa a prisão de autoridades, incluindo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, e chegou a considerar ações violentas, como atentados contra o presidente Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin.

Segundo a denúncia, os militares acusados integravam, de maneira consciente e voluntária, uma organização criminosa que operou desde pelo menos 29 de junho de 2021 até 8 de janeiro de 2023, utilizando-se de violência e grave ameaça para impedir o regular funcionamento dos Poderes da República e depor um governo legitimamente eleito.

Apesar da presença de militares no suposto plano, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que o Exército foi “vítima” do plano.

“É de ser observado que o próprio Exército foi vítima da conspirata. A sua participação no golpe foi objeto de constante procura e provocação por parte dos denunciados”, anotou Gonet ressaltando que os oficiais que resistiram sofreram ataques públicos.

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Entre os militares denunciados estão o próprio ex-presidente Bolsonaro e o seu então candidato a vice na chapa presidencial que concorreu em 2022, o general da reserva Walter Braga Netto, apontados como líderes do “núcleo crucial” da organização que teria planejado o suposto golpe de Estado. Os acusados e suas defesas negam a participação na suposta trama.

A estrutura da tentativa de golpe

A investigação aponta que a trama foi dividida em núcleos estratégicos:

Lista completa dos militares denunciados:

  1. Ailton Gonçalves Moraes Barros – Capitão reformado do Exército e aliado próximo de Bolsonaro.
  2. Almir Garnier Santos – Almirante da Marinha e ex-comandante da força naval.
  3. Angelo Martins Denicoli – Major da reserva do Exército.
  4. Augusto Heleno Ribeiro Pereira – General da reserva e ex-ministro do GSI.
  5. Bernardo Romão Correa Neto – Coronel do Exército.
  6. Cleverson Ney Magalhães – Coronel da reserva do Exército.
  7. Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira – General do Exército.
  8. Fabrício Moreira de Bastos – Coronel do Exército.
  9. Giancarlo Gomes Rodrigues – Subtenente do Exército.
  10. Guilherme Marques de Almeida – Tenente-coronel do Exército.
  11. Hélio Ferreira Lima – Tenente-coronel do Exército.
  12. Jair Messias Bolsonaro – Ex-presidente da República e capitão reformado do Exército.
  13. Marcelo Costa Câmara – Coronel do Exército e ex-assessor da Presidência.
  14. Márcio Nunes de Resende Júnior – Coronel do Exército.
  15. Mário Fernandes – General da reserva e ex-chefe substituto da Secretaria-Geral da Presidência.
  16. Mauro Cesar Barbosa Cid – Tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
  17. Nilton Diniz Rodrigues – General do Exército.
  18. Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira – General da reserva e ex-ministro da Defesa.
  19. Rafael Martins de Oliveira – Tenente-coronel da ativa do Exército.
  20. Reginaldo Vieira de Abreu – Coronel da reserva do Exército.
  21. Rodrigo Bezerra de Azevedo – Tenente-coronel do Exército.
  22. Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros – Tenente-coronel do Exército.
  23. Walter Souza Braga Netto – General da reserva e ex-ministro da Defesa.

Próximos passos da denúncia

A denúncia foi encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde a Primeira Turma, composta pelos ministros Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Flávio Dino, decidirá se os acusados se tornarão réus.

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Caso a denúncia seja aceita, terá início a ação penal, na qual os réus poderão apresentar suas defesas formais. O julgamento poderá resultar em absolvição, arquivamento ou condenação, com penas máximas de até 43 anos de prisão para Bolsonaro e seus aliados.