O outsider que pode despontar na eleição sem Lula no páreo – e o que pode perder força

Para consultores políticos da Eurasia, Joaquim Barbosa ganha apelo, enquanto que, na margem, Huck pode perder um pouco de espaço

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A candidatura vista como praticamente minada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cria um caminho mais fácil para que um nome de centro, como o de Geraldo Alckmin, chegue ao segundo turno das eleições, apontou a consultoria de risco político Eurasia Group em relatório.

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A eleição, contudo, não será sem riscos para o mercado, ainda mais levando em conta os outros nomes que ganharão força caso a saída do petista da disputa seja confirmada. “O caminho para um candidato pró-mercado conquistar a presidência (que hoje o nome mais provável seria o de Geraldo Alckmin) continua a ser difícil. Mesmo com Lula fora da corrida, muitos candidatos têm chances reais”, apontam os consultores políticos.

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Para eles, “algum tipo” de candidato reformista vencerá: “mas as chances de que seja um candidato reformista com credenciais mistas (os mercados poderiam duvidar das convicções deles) e com grandes dificuldades de se relacionar com o Congresso não é pequeno”. De qualquer forma, eles também ressaltam que a candidatura de Lula não está completamente morta e veem 30% de chances do petista poder se candidatar, apontando ainda que a defesa pode entrar com recursos no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e STF (Supremo Tribunal Federal). 

Três razões justificariam o ambiente de maior cautela do mercado, sendo que um deles remete novamente à questão dos “outsiders”, aponta a Eurasia, que ressalta que um nome de fora da política pode se sobressair em um ambiente de raiva com os políticos nacionais. 

Neste sentido, há dois nomes “outsiders” que podem ter um papel importante na disputa, sendo que um deles pode ter mais razões para disputar agora, segundo a consultoria. Para a Eurasia, o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa, que tem um convite em aberto para concorrer para o PSB, tem maiores incentivos para concorrer com Lula fora da disputa. 

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“Ele é de origem humilde, foi o herói para combater o escândalo do mensalão enquanto presidia o Supremo e tem um perfil que pode agradar quem apoia Lula” , afirma a Eurasia ao reforçar que Barbosa não tem só o potencial de surfar na onda anti-establishment, como é um nome visto como forte no combate à corrupção. Esta é uma demanda fundamental dos brasileiros que todas as pesquisas estão apontando. 

Sobre a reconsideração de ser um “reformista com sinais mistos”, a Eurasia ressalta que Barbosa já defendeu publicamente a necessidade de fazer uma reforma da previdência, “mas certamente geraria dúvidas sobre sua capacidade de realizar reformas fiscais profundas”.

Outro outsider que está no radar é o apresentador de TV Luciano Huck. Ele é visto como pró-mercado com credenciais de “outsider” e anunciou em dezembro sua decisão de não concorrer, mas ainda há rumores de que ele pode mudar de ideia. Sem Lula na disputa, ele também poderia tentar conquistar os apoiadores do petista. Porém, aponta a Eurasia, “as chances de Huck concorrer estão parcialmente ligadas ao grau de desespero dentro de partidos centristas de não ter um candidato competitivo”.

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Assim, com o PSDB sentindo-se mais confiante sobre as chances de Alckmin, o número de líderes políticos que tentarão fazer com que o apresentador volte a considerar uma candidatura presidencial pode diminuir um pouco. “Não contamos que ele estaria fora, mas não está claro para nós que a saída de Lula aumenta suas chances de disputar. Na margem, elas diminuíram”, apontam os analistas. 

Bolsonaro, Marina e Ciro

Os dois outros pontos ressaltados pela Eurasia é que o deputado Jair Bolsonaro segue competitivo mesmo com Lula fora da disputa. ” Alguns especialistas apontaram que o nome de Bolsonaro, que detinha de 18% a 21% das intenções de voto na última pesquisa nacional da Datafolha, aumentou nas pesquisas devido à sua forte retórica anti-PT e anti-Lula. Como tal, a provável desqualificação de Lula tiraria um saco de pancadas da disputa e, consequentemente, desinflaria a sua candidatura presidencial.

Tal avaliação subestima os catalisadores por trás do sucesso de Bolsonaro, aponta a Eurasia. A análise das redes sociais sugere que Bolsonaro tem uma base de apoio profunda e fiel que varia de 10% a 15% da população, e muito disso tem a ver com os profundos níveis de desencantamento contra o establishment político brasileiro. Segundo a consultoria, “Bolsonaro não é o candidato anti-Lula. Ele é o candidato anti-establishment e a saída de Lula não diminuirá seu apelo”, aponta. Para a Eurasia, ele certamente enfrentará grandes dificuldades em qualquer cenário no segundo turno, mas ele é um candidato competitivo para chegar à etapa final da eleição.

Outro ponto considerado mostra ainda que o último levantamento realizado pelo Instituto Datafolha, em novembro de 2017, mostrou que a ex-senadora Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) são os candidatos com mais chances de herdar os votos do ex-presidente Lula.

No último Datafolha sem Lula no páreo, Marina e Ciro aumentaram suas respectivas intenções de voto em seis e cinco pontos percentuais, respectivamente. “Enquanto Ciro Gomes está adotando uma retórica de campanha claramente anti-reformista, Marina Silva é uma ‘quase-reformista’, mas há ceticismo severo sobre sua capacidade de reunir uma coalizão no Congresso”, apontam os analistas políticos da Eurasia. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.