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SÃO PAULO – “Estamos no início de um novo ciclo de crescimento sustentado, e este ciclo será caracterizado por longa duração e baixa volatilidade”, disse Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e candidato à presidência pelo MDB, ao final de sua apresentação feita na abertura do 11º congresso Value Investing Brasil, realizado na zona sul de São Paulo nesta terça-feira (15). Por quase 90 minutos, a plateia de quase 150 investidores de ações viu Meirelles apresentar uma série de dados que evidenciam o quanto conseguimos evoluir após uma das maiores crises da nossa história e concluir que esse ritmo de progresso só será mantido se os brasileiros escolherem um caminho alternativo entre os candidatos “dos extremos” que estão liderando as pesquisas – e se colocou como essa alternativa.
“De um lado, temos Ciro e Marina, que querem desfazer boa parte das reformas feitas. Do outro, está o Bolsonaro, que embora tenha o Paulo Guedes pra falar com vocês investidores, possui um histórico de defesa ao intervencionismo. Tem que ter um caminho alternativo no meio disso. Por isso eu estou saindo como candidato do MDB”, disse Meirelles. O fato de não aparecer com mais de 1% nas pesquisas de intenção de voto não tira o seu otimismo: o ex-ministro da Fazenda cita dois pontos para justificar por que acredita que tem grandes chances de ganhar as eleições: tempo de TV e pesquisas “qualitativas”.
“Bolsonaro terá cerca de 10 segundos, e a Marina sequer possui tempo de TV pois a Rede não tem deputado eleito, ela precisará se aliar a algum partido”, afirma Meirelles, dizendo que MDB, PT, e PSDB são os que possuem vantagem nesse quesito. Sobre o outro ponto, Meirelles disse que foram feitas pesquisas qualitativas que identificaram que o brasileiro busca no próximo algumas características que ele acredita possuir, como competência, honestidade e experiência. “Eu não sou um aventureiro”, afirma.
4 anos de crescimento acima do potencial
Meirelles apresentou uma série de reformas que foram implementadas nestes quase 2 anos de governo Temer, dando destaque à importância futura da Lei do Teto dos Gastos, à mudança da TJLP pela TLP – que permitiu que a política monetária alcançasse também os “campeões nacionais” que pegavam empréstimos com o BNDES – e aos acordos para recuperação fiscal dos Estados, citando a situação do Rio de Janeiro como exemplo. “O Rio não abre concurso público para polícia militar há 10 ou 20 anos, isso impediu que metade da equipe fosse renovada. Ou seja, a crise de segurança do estado tem reflexo direto da crise fiscal”.
Ele também mostrou uma lista com 15 reformas que ainda estão em andamento (ver abaixo). Dentre elas, Meirelles enfatizou o cadastro positivo, que tem potencial para reduzir o spread bancário em 4 pontos percentuais, e a simplificação tributária, que pode reduzir a quantidade de horas que o brasileiro trabalha por ano para pagar seus impostos (atualmente próximo de 2.000 horas/ano) para algo próximo do visto no Chile, onde a população ativa trabalha menos de 400 horas anuais para honrar seus tributos.
Reformas em andamento
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- Simplificação tributária e reforma do PIS/Cofins
- Desestatização da Eletrobras
- Redução da desoneração da folha
- Cadastro positivo
- Distrato
- Duplicata eletrônica
- Reforço das agências reguladoras
- Nova lei de finanças públicas
- Atualização da Lei Geral das Telecomunicações
- Extinção Fundo Soberano
- Regulamentação do Teto remuneratório
- Recuperação e Melhoria Empresarial das Estatais
- Depósitos voluntários do Bacen
- Autonomia do Bacen
- Marco Legal de licitações e contratos
Esses itens da agenda em andamento, somados ao “duplo mergulho” de 3,5% do PIB em 2015/2016, devem levar o Brasil a um ciclo de 4 anos de crescimento acima do potencial, para o fechamento do hiato do produto, explica o ex-ministro. O grande risco, ele reforça, está mesmo nas eleições: “basta ver que temos candidatos falando que acham um absurdo a reforma trabalhista ou a criação do teto dos gastos…”.
Internacional: nem Trump preocupa
Nem mesmo o cenário internacional o preocupa: para o ex-ministro, as economias do mundo todo estão em uma tração positiva de crescimento e a preocupação estaria em uma formação de bolha de ativos no longo prazo, caso o Fed e o BCE (Banco Central Europeu) ficassem “behind the curve” na hora de retirar os estímulos monetários concedidos. “Isso foi assunto da reunião anual do FMI ano passado, mas isso para mim é um risco bem pequeno, percebe-se um grande cuidado dos principais BCs”.
Nem mesmo Donald Trump traz cautela a Meirelles: para ele, o presidente dos Estados Unidos mais fala do que faz, e embora a fala traga preocupação, o risco não tem se materializado. “Por isso, para mim, o grande risco é a eleição”, reitera mais uma vez o agora candidato à presidência Henrique Meirelles.
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