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SÃO PAULO – A demora na definição do afastamento definitivo ou retorno da presidente Dilma Rousseff ao cargo máximo da república a partir do julgamento do processo de impeachment tem atrapalhado na resolução do impasse político e econômico que o Brasil vive. Essa é a avaliação do presidente do conselho consultivo do grupo Gerdau (GGBR4) e fundador do Movimento Brasil Competitivo, Jorge Gerdau Johannpeter, que acredita que Michel Temer ganharia um tempo precioso se conseguisse antecipar o julgamento pelo Senado, com início previsto em 25 de agosto. O executivo participou de café da manhã realizado pelo escritório de advocacia Giamundo Neto nesta quarta-feira (3), em São Paulo.
“Acho que o processo do impeachment é um grande fator de não solução das coisas”, disse a cerca de 30 empresários presentes. “Se fizermos a soma que essa demora do impeachment está nos custando… Por isso, o aceleramento desse processo é decisivo. A cada dia vem uma conta nova desse processo sem limites”. Na avaliação de Gerdau, o momento seria positivo para a gestão peemedebista tentar avançar em projetos econômicos, apesar dos desafios.
Em discurso de cerca de quarenta minutos, o executivo disse ter “razoável esperança” com Michel Temer e sua equipe econômica, mas não escondeu o ceticismo e preocupação com a dimensão dos problemas a serem enfrentados. “Vejam que loucura o presidente Temer está vivendo: ele tem uma equipe econômica de altíssima qualidade, uma série de ministros bons, mas a dependência do processo político continua a não andar”, observou. O empresário enxerga um momento peculiar nas relações entre os mundos político e econômico.
“Nunca tivemos uma dependência da área econômica tão forte ou total da área política. Ela tem certa lógica e é evidente que as linhas não andam separadas, mas a desorganização, a incompetência ou a complexidade do mundo fazem com que hoje o não andamento do processo político tenha nos levado a uma incapacidade de o governo avançar satisfatoriamente nos problemas econômicos”, analisou.
Para Gerdau, está na hora de o setor público adotar uma postura mais favorável ao modelo de governança, já consagrado na esfera privada. Ele entende que as instituições do Estado “deixam a desejar de forma impressionante” nesse critério. “Se não houver evolução do setor público, não vamos resolver nossos problemas econômicos e sociais. Esse problema de governança no setor público é caótico”, argumentou. Para Gerdau, o atraso brasileiro no processo de digitalização também pesa no baixo nível de competitividade do País no mercado global.
O presidente do conselho consultivo da siderúrgica também usou seu discurso para criticar a combinação de elevada carga tributária brasileira e o que chamou de ineficiência na esfera pública. O empresário também fez referência aos juros altos no país como impeditivos para ganhos de competitividade e crescimento econômico. “O custo do dinheiro hoje é uma coisa absolutamente impagável em termos de competitividade”, afirmou em referência às taxas significativamente mais baixas em comparação com outras economias do mundo.
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Apesar da percepção cautelosa sobre o futuro do país, o empresário comemora mudanças que o ingresso de Temer na presidência de forma interina trouxe. “No atual governo, temos uma pessoa que ouve, o presidente ouve, consequentemente os ministros ouvem. Quando o presidente não ouve, ninguém precisa ouvir”, afirmou. Gerdau ainda concluiu seu discurso com mensagem positiva: “temos campo de melhoria incrível, agora tem que entrar na cabeça da elite política o tema de governança. Sem isso, não avançamos”