Nunes volta a ser alvo em debate, com críticas da educação a contratos emergenciais

Apesar de não estar envolvido no confronto mais tenso do debate, Nunes teve sua gestão confrontada em boa parte de encontro promovido por Estadão, Terra e Faap

Marcos Mortari Fábio Matos

Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

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O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, foi mais uma vez um dos principais alvos no segundo debate realizado, nesta quarta-feira (14), entre os postulantes ao comando da capital paulistana mais bem posicionados nas pesquisas de intenções de voto.

O debate, promovido por Estadão, Terra e Faap, reuniu 6 candidatos à prefeitura de São Paulo: além de Nunes, os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB); o apresentador de televisão José Luiz Datena (PSDB); o empresário e coach Pablo Marçal (PRTB) e a economista Marina Helena Santos (Novo), que havia ficado de fora do primeiro encontro dos candidatos promovido pela TV Bandeirantes.

Apesar de não estar envolvido no confronto mais tenso do debate, protagonizado por Pablo Marçal (PRTB) e Guilherme Boulos (PSOL) no segundo bloco, Nunes teve sua gestão criticada em diversos momentos por adversários à direita e à esquerda.

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Uma das áreas de maior questionamento à atual administração foi a Educação, com candidatos apontando para o contraste entre a cidade com maior orçamento no país e a queda para a 21ª posição no ranking nacional de alfabetização na idade certa, atrás de municípios com muito menos recursos. Também foram destacados problemas remanescentes da crise educacional na época da pandemia de Covid-19.

“São Paulo não pode ser a cidade mais rica do país e ter uma alfabetização que lhe coloca na 21ª colocação no ranking nacional, enquanto nós temos o Ceará na primeira posição, gastando R$ 5 mil para alfabetizar uma criança − e São Paulo gastando R$ 22 mil. Nós temos que ter a obrigação necessária de, aos 8 anos, entregar para os seus pais a criança sabendo ler e escrever”, disse Datena.

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“É lamentável o que está acontecendo hoje na cidade de São Paulo. 21º lugar, atrás de cidades como Palmas, Teresina, que são muito mais pobres e com muito menos recursos do que a nossa cidade para alfabetização na idade certa. Nós vamos fazer um programa de educação integral que vai envolver reforço escolar. Depois da pandemia, não houve um reforço adequado para as crianças e adolescentes que ficaram em EAD, e isso atrasou o processo de alfabetização”, pontuou Boulos.

O parlamentar também chamou de “confisco” a regra introduzida pela reforma previdenciária do município, o Sampaprev, que prevê a contribuição de 14% do salário de servidores aposentados ao Instituto da Previdência Municipal de São Paulo (Iprem), e disse que irá revogá-la caso seja eleito. “Vamos acabar com essa maldade, essa crueldade, que fizeram com os servidores aposentados”, declarou.

Já Tabata Amaral chamou de “catástrofe” a gestão Nunes na Educação. “A gente vai pior hoje do que no auge da pandemia. São Paulo foi a capital que mais caiu no ranking nacional de alfabetização: 19 posições. Eu também tenho o compromisso de expandir a rede de tempo integral. São Paulo vai muito mal: apenas 6% das crianças estão em tempo integral. Queremos chegar a 100% em até 8 anos”, disse.

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Também houve críticas no campo da direita, com a estreante Marina Helena usando a pauta da sexualização nas escolas para atacar Nunes. “Como mãe, eu me preocupo muito com a questão da sexualização das crianças na sala de aula. E eu queria saber, prefeito, a sua opinião sobre um canal no YouTube da prefeitura chamado Saúde para Todes, onde se fala de ideologia de gênero, gênero neutro, e, pior ainda, de um documento da sua prefeitura, assinado por você, em que se fala em bloqueio hormonal de puberdade para meninos e meninas trans a partir dos 8 ou 9 anos de idade”, disse.

Nunes, que conta com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para atrair o eleitorado conservador, tratou a questão como uma “agressividade” e disse que a postura da candidata era “lamentável”.

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Mais tarde, o próprio prefeito retomou o assunto e afirmou que a notícia não era verdadeira. “Quando fui vereador fui autor do substitutivo para tirar ideologia de gênero do plano municipal de educação. O que existe é na Secretaria de Saúde uma ação para tratamento dessas pessoas, e a nossa gestão é para cuidar de todos”, rebateu.

Outro foco de críticas diretas à administração de Ricardo Nunes veio da discussão sobre desigualdades na cidade e o aumento da população em situação de rua. “Essa é uma cidade desigual dentro de um país desigual. É uma prefeitura rica com um povo pobre. Se a economia tivesse andado tão bem nas suas mãos, a gente não teria 3 mil garotos morando na rua, entre 62 mil e 80 mil pessoas morando na rua. A gente não teria tanta gente desassistida nas periferias da cidade se o senhor tivesse feito o seu trabalho com a sua equipe”, criticou Datena.

“São Paulo está mais desigual do que nunca, está mais pobre do que nunca, está mais abandonada do que nunca. Os dados que o senhor apresenta podem ser muito legais no papel e para a sua equipe, mas na prática o senhor torna a cidade de São Paulo cada vez mais injusta, com uma política econômica completamente furada e que tem privilégio para gente rica e que massacra o cidadão de baixa renda. Parece que o senhor quer exterminar o cidadão de baixa renda e privilegiar o rico”, prosseguiu o apresentador.

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O apresentador também criticou Nunes pela relação com as empresas concessionárias de transporte público e disse que a tarifa zero concedida aos domingos é “bem mentirosa”. “O subsídio que a prefeitura dá a essas empresas de ônibus é um verdadeiro absurdo. São uns R$ 5 bilhões e vai passar para R$ 8 bilhões se o Ricardo foi eleito”, disse. O candidato acusou o atual prefeito de ser “refém” ou ter medo do crime organizado e suas relações com companhias de ônibus.

Outro flanco de críticas à administração vigente foi feita por Boulos ao planejamento urbano e o novo Plano Diretor, aprovado no ano passado. O parlamentar classificou as novas regras de “esculhambação”, que provocaram “um adensamento sem planejamento” na cidade. “Você que mora em bairros do centro expandido viu nos miolos de bairro um monte de prédio sendo erguido. Tirou lá 4 casas, ergueu um prédio de 20/30 andares. Onde tinha 4 casas agora tem 40, 100. E a rua é a mesma. Uma expansão sem planejamento para atender o interesse de meia dúzia de grandes construtores”, criticou.

Em outro momento, Tabata Amaral atacou a postura de Nunes em relação à transição ecológica. “Ele, quando herdou a prefeitura, teve a ousadia de alterar para baixo, simplificar, as metas [ambientais] que Bruno Covas havia estabelecido e ainda assim não conseguiu cumprir metade”, disse.

A parlamentar também voltou a criticar a falta de transparência em obras públicas da atual administração e o que apontou como ausência de planejamento nas realizações. “O que a gente vê é um prefeito recordista em obras sem licitação. São quase R$ 5 bilhões. Obras sem planejamento, com denúncia de superfaturamento. Obras em que vemos denúncias de combinação de preços para favorecer empreiteira que tenha amizade com alguém na prefeitura”, criticou.

“O que ouço na Vila Missionária ou de quem está no Capão [Redondo] é que ficamos 2 anos sem prefeito. Mas aí parece que lembrou que tinha eleição e saiu fazendo. Mal feito”, prosseguiu. Ao final de uma de suas interações com Nunes, Tabata sugeriu ironicamente o slogan “rouba e não faz”, em alusão ao bordão histórico em campanhas eleitorais “rouba, mas faz”, associado a candidatos conhecidos por episódios de corrupção, mas que ainda assim sustentavam apoio de eleitores.

Boulos foi em direção semelhante e disse que era preciso um prefeito “honesto” na cidade. “O que a gente hoje é que os subsídios aumentaram, praticamente dobraram, passando de R$ 6 bilhões esse ano, que é o que a prefeitura paga para as empresas. E, ao mesmo tempo, a frota disponível diminuiu. Quem está pagando essa conta é a população que precisa na ponta”, afirmou.

De Pablo Marçal, ataques vieram à ampla rede de apoios formada por Nunes para essas eleições. “Não dá para continuar com o prefeito Ricardo Nunes. Ele está com 12 partidos políticos, é o candidato mais caro que temos aqui”, criticou.

“A gente tem de moralizar essa gestão pública, tem de ter eficiência nessa gestão. A gente não precisa lotear a prefeitura igual você está fazendo, com 12 partidos políticos. O prefeito tem perfil de vereador, ele acabou sendo colocado aí. E, de fato, esse perfil atrapalha o avanço dessa cidade. Não estou atacando a índole dele, não estou falando nada da personalidade dele. Chama-se perfil”, prosseguiu.

“Pablo Marçal, essa é a maior cidade da América Latina. Aqui não é um jogo de videogame”, rebateu Nunes.

O atual prefeito é cabeça de chapa pela Coligação Caminho Seguro para São Paulo, formada por MDB, Republicanos, PL, PSD, PP, Solidariedade, Podemos, Avante, PRD, Agir, Mobiliza e União Brasil. Isso garantirá ao candidato a maior estrutura de campanha e mais exposição durante o horário de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV.

Nas respostas a parte das críticas, Nunes cobrava um debate mais qualificado, baseado em propostas para a cidade. “Eu vim para esse debate imaginando que os candidatos aqui vão vir com a verdade, com propostas. Mas eu queria pedir um alerta para você: essa coisa de ficar mentindo, criando história, para fazer recorte, para fazer rede social… A gente não vive de rede social, a gente vive da vida real. Não é fazendo corte. Isso aqui não é o Play Center, não é playground, a gente tem muita responsabilidade”, disse.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.