Nunes diz que não houve tentativa de golpe no 8/1 e compara com MTST e Boulos em 2015

Prefeito de São Paulo e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB) diz que Guilherme Boulos (PSOL), seu principal adversário, é "agressivo, invasor e depredador"

Fábio Matos

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Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que declarou seu apoio indicou o pré-candidato a vice na chapa, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que disputará a reeleição em outubro deste ano, afirmou, nesta segunda-feira (15), que os ataques violentos de 8 de janeiro de 2023 em Brasília (DF) não foram uma tentativa de golpe de Estado.

Naquela oportunidade, apenas uma semana depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), simpatizantes de Bolsonaro revoltados com o resultado eleitoral de 2022 invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).

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Segundo o prefeito de São Paulo, os atos de vandalismo são condenáveis e devem ser repudiados, mas não configuram uma ameaça real ao regime democrático no Brasil.

“Oito de janeiro nós podemos comparar também com 23 de setembro [de 2015]. Se entrarmos no Google e colocarmos ‘Boulos invade ministério’, vai sair a foto do Boulos em cima da mesa em um prédio público do Ministério da Fazenda [em ato contra o ajuste fiscal proposto pelo governo Dilma Rousseff, na época]. Não tem diferença em relação a invasões de prédio público”, comparou Nunes, citando o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), seu principal adversário na corrida eleitoral paulistana.

“Eu me posicionei veementemente de forma contrária à depredação do patrimônio público no 8 de janeiro. Agora, essa questão do dia 23 de setembro é algo para podermos refletir”, completou o prefeito, em sabatina promovida pelo UOL e pelo jornal Folha de S.Paulo.

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O episódio mencionado por Nunes ocorreu no dia 23 de setembro de 2015, no primeiro ano do segundo mandato da então presidente Dilma Rousseff. Boulos, na época, era líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e participou da invasão ao prédio do Ministério da Fazenda na capital paulista. Também houve atos do MTST em Brasília.

“Sou um defensor extremista da democracia. Se tem algo de extremo em mim, é que vim do extremo da cidade, da periferia, e sou um defensor da democracia”, prosseguiu Nunes. O 8 de janeiro foi um atentado contra o patrimônio público, que eu repudio”, disse o prefeito.

Questionado se os ataques de 8 de janeiro de 2023 poderiam ser classificados como tentativa de golpe, Nunes respondeu: “Daquelas pessoas que estavam ali, eu não acredito. Então, foi tentativa de golpe o Boulos ter invadido, em 2015, o prédio do Ministério da Fazenda”.

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“Aquelas pessoas que a gente viu ali, a grande maioria humildes, ambulantes e aposentados… eu não consigo imaginar. Cometeram um erro gravíssimo e têm de pagar por isso. Mas está muito distante de a gente poder dizer que aquelas pessoas tinham a intenção de dar um golpe de Estado”, afirmou Ricardo Nunes.

Atentado contra Donald Trump

O prefeito de São Paulo e pré-candidato à reeleição também comentou o atentado sofrido pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, no domingo (14), durante um comício de sua campanha à Presidência do país, na Pensilvânia. O republicano levou um tiro na raspão na orelha, mas passa bem.

Indagado se a tentativa de assassinato de Trump poderia ter alguma influência na eleição em São Paulo, Nunes respondeu: “Na eleição municipal de forma direta, não. Mas, de forma indireta, sim”.

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“A gente precisa ter ações como essa como um exemplo daquilo que não se pode fazer. Não é aceitável nem razoável qualquer tipo de comportamento que gere uma agressão como essa. A fala mais sensata que eu vi é a colocação do Vaticano, pedindo paz e contra qualquer tipo de agressão a qualquer político ou a qualquer pessoa”, afirmou o prefeito.

Nunes também relembrou a facada sofrida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em setembro de 2018, durante a campanha eleitoral, em Juiz de Fora (MG).

“Traz para o cenário nacional uma comparação de algo que aconteceu nos EUA. Não vejo como algo fora do contexto. Foi lamentável aquela facada, e eu também vi postagens de pessoas de esquerda, inclusive o rapaz da rachadinha, dizendo que teria sido algo forjado tanto aqui quanto lá. Olha o nível de ódio”, disse Nunes, referindo-se ao deputado federal André Janones (Avante-MG), acusado de ter praticado “rachadinha” em seu gabinete.

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O processo contra Janones foi arquivado pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, após parecer favorável ao arquivamento apresentado pelo deputado Guilherme Boulos.

Apoio de Bolsonaro

Durante a sabatina, Ricardo Nunes elogiou Bolsonaro e se disse “grato” pelo apoio do ex-presidente da República à sua candidatura.

“Trabalhei muito para ter o apoio do presidente Bolsonaro. Estou grato e feliz por ter o apoio do presidente Bolsonaro. Você não vai achar nenhuma crítica minha ao presidente Bolsonaro. Ao contrário: muitas vezes eu coloquei minha gratidão ao presidente Bolsonaro, que foi a gente acabar com a dívida de R$ 25 bilhões em uma negociação. Já o Pablo [Marçal, pré-candidato do PRTB e também alinhado ao bolsonarismo] tem uma série de vídeos no passado criticando [Bolsonaro]”, disse o prefeito.

Apesar dos elogios ao aliado, Ricardo Nunes rechaçou o rótulo de “bolsonarista”. “Eu sou ricardista, sou um apaixonado pela cidade. Eu me filiei ao MDB no dia em que tirei o título de eleitor, com 18 anos. Fui vereador por 2 mandatos, vocês acompanharam minha atuação na Câmara Municipal de São Paulo, muito ativo, levando bons projetos e dialogando com todos. Eu sou do diálogo, respeitando sempre os posicionamentos contrários”, afirmou o prefeito.

“Não tenho que concordar em tudo com o presidente Bolsonaro, assim como ele não precisa concordar comigo em tudo, como não concorda. Cada um tem um pensamento. Agora, estamos vivendo um momento político no qual é de fundamental importância que a gente vença essa extrema-esquerda”, prosseguiu Nunes.

O emedebista elogiou o ex-coronel da Polícia Militar e ex-chefe das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Ricardo Mello Araújo (PL), indicado por Bolsonaro para ser seu vice, mas garantiu que o ex-presidente não fez nenhuma exigência ao atual prefeito.

“O presidente Bolsonaro não me pediu absolutamente nada em relação a espaço de governo. Eu te dou a minha palavra em relação a isso”, disse Nunes. “É natural do processo da política virem contribuições dos partidos. Na montagem do novo governo, que não deve mudar tanto, a gente deve receber sugestões.”

Nunes foi indagado sobre as investigações da Polícia Federal (PF) sobre a possível utilização indevida da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), durante o governo Bolsonaro, supostamente para monitorar e espionar adversários políticos.

“Eu não concordo, obviamente. Estamos em um Estado Democrático de Direito. Esse regime prevê a presunção de inocência. Devemos ter cautela com essas questões”, afirmou Nunes.

“Imagine você ser bombardeado para depois acabar descobrindo que não houve nenhuma ilegalidade. Tem um processo legal, vai se defender, vai colocar… acho que a gente vai ter o tempo correto de fazer essa análise.”

Boulos

Na entrevista, o prefeito de São Paulo não poupou críticas a Guilherme Boulos, seu principal rival na eleição municipal. Nunes citou o pedido de arquivamento do processo contra André Janones por suposta “rachadinha”.

“Ele [Boulos], como relator do processo disciplinar do deputado Janones, fez com que a rachadinha se tornasse legal. Uma coisa absolutamente ilógica”, afirmou.

“É um risco para a cidade ter alguém agressivo, invasor, depredador e que valida a rachadinha. E fala isso como se fosse normal”, disse o prefeito.

Datena

Ricardo Nunes também falou sobre outro possível concorrente no pleito de outubro, o ex-apresentador de TV José Luiz Datena (PSDB).

O prefeito foi questionado se a decisão dos tucanos de lançar candidato próprio em São Paulo teria sido uma “traição” a ele.

“Eu não diria traição, mas acho que é uma injustiça. O Bruno [Covas, ex-prefeito de São Paulo, morto em 2021] não poderia disputar a reeleição, e eu fui um vice escolhido pelo Bruno. A tendência natural era a de que eu fosse o candidato agora, apoiado pelo Bruno Covas. O governo não mudou praticamente nada, teve pequenas mudanças”, alegou Nunes.

“Como o PSDB fará uma crítica ao governo no qual ele tem predominância? É preciso ter sempre coerência”, criticou o prefeito.

Nunes demonstrou, entretanto, ceticismo em relação à candidatura de Datena – que se tornou célebre por desistir de candidaturas a cargos eletivos.

“Pretendo ter o apoio do PSDB. Sempre tem chance, até os últimos momentos. Se o Datena for confirmado candidato, obviamente que não. Mas, se ele não for candidato, entendo que tem uma grande chance. A base e a militância do PSDB estão praticamente toda com a gente”, afirmou.

De acordo com a mais recente pesquisa do Datafolha, divulgada na há uma semana, Nunes e Boulos estão tecnicamente empatados na liderança da corrida eleitoral em São Paulo, com 24% e 23% das intenções de voto, respectivamente, bem à frente do terceiro colocado – José Luiz Datena (PSDB), que tem 11%. No segundo turno, Nunes está em vantagem sobre Boulos.

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União Brasil

O prefeito de São Paulo se disse surpreso com a possibilidade de o União Brasil, um dos maiores partidos da coligação, desistir de apoiá-lo para embarcar na candidatura do empresário e influenciador digital Pablo Marçal (PRTB).

Em tese, o União Brasil tem um pré-candidato a prefeito, o deputado federal Kim Kataguiri, mas ele não tem apoio interno na legenda para levar adiante a candidatura. Nas últimas semanas, a direção do União em São Paulo, sob o comando do vereador Milton Leite (presidente da Câmara Municipal), tem se aproximado de Marçal, em meio ao descontentamento do partido com a escolha de Mello Araújo para vice de Nunes.

“Com Milton Leite, nossa relação institucional é ótima. Todas as ações que eu precisei para colocar a cidade no desenvolvimento e em outro patamar financeiro, eu tive o apoio da Câmara Municipal, liderada pelo presidente Milton Leite. Agora, evidentemente, é uma decisão dele”, afirmou Nunes.

“Eu fiquei sabendo pela imprensa. Ele [Leite] estava viajando, acho que já voltou. O que eu preciso fazer agora é sentar com ele e olhar no olho, perguntar o que está acontecendo”, explicou o prefeito.

“Eu não tive nenhuma conversa com o presidente Milton Leite depois que saíram as matérias. Eu fiquei surpreso de ver uma conversa pela imprensa.”

Cracolândia

Entre os temas abordados na sabatina, Ricardo Nunes falou sobre a Cracolândia, uma das maiores preocupações de todos os principais candidatos à prefeitura da maior cidade do Brasil.
O prefeito negou que tenha aumentado o fluxo de usuários de drogas e dependentes químicos na região da Cracolândia, no centro de São Paulo.

“Não é real que aumentou o fluxo. Pelo contrário. Em 2015 e 2016, havia 4 mil usuários. Hoje são menos mil. Diminuiu bastante, e do ano passado para cá também”, disse Nunes.

“A Cracolândia é um problema sério, de 30 anos. As pessoas são usuárias de crack. Temos hoje um trabalho junto com o governo Tarcísio [de Freitas, governador do estado], e tem mais de 2,5 mil pessoas em tratamento”, continuou o prefeito.

“Dessas pessoas que estão lá, 39% estão há mais de 10 anos e 57% há mais de 5 anos. Essas pessoas têm dificuldade de aceitar o tratamento. Todos os dias a nossa equipe de assistência social e da saúde tenta convencê-los para que possam ir para o tratamento. Existe um trabalho diário de convencimento. Paralelo a isso, duas coisas: polícia em cima de traficante e reurbanização”, completou.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”