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No último debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo (SP) antes do primeiro turno, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que disputa a reeleição, foi o principal alvo dos adversários desde o início, mas foram o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o influenciador Pablo Marçal (PRTB) que protagonizaram os embates mais quentes.
Críticas à postura da atual administração em áreas como Saúde, Educação e Segurança Pública dominaram boa parte do evento promovido pela TV Globo na noite desta quinta-feira (3), que reuniu os 5 candidatos mais bem posicionados nas pesquisas de intenções de voto. Contratos de emergência sem licitação e uma possível conexão de servidor com o crime organizado também foram explorados pelos participantes para confrontar Nunes em um momento delicado para sua campanha.
O debate foi realizado poucas horas após pesquisa Datafolha mostrar que, em uma semana, as intenções de voto em Nunes caíram de 27% para 24%, mesmo patamar de Marçal, que cresceu 3 pontos percentuais no período.
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A três dias do primeiro turno, que ocorre no próximo domingo (6), Nunes evitou confrontos diretos com Marçal, mas não se furtou de críticas ao adversário e sobretudo acenos ao eleitorado mais conservador. Logo no início do debate, enfatizou o que chamou de posição “liberal” de sua administração na economia, com cortes de impostos e concessão de benefícios para atrair empresas para a cidade.
Mais adiante confrontou Tabata e Boulos em pautas relacionadas à segurança pública, levantando bandeiras relacionadas ao combate duro a o crime organizado – inclusive com menção ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu principal cabo eleitoral no pleito atual – e às drogas.
Já Marçal reforçou aposta na imagem de candidato “outsider”, promovendo duros ataques à política tradicional. O influenciador e empresário se vendeu como único nome genuinamente de direita no pleito contra adversários de extrema-esquerda (como classificou Boulos), esquerda (como chamou Tabata) e centro-esquerda (como se referiu a Nunes e Datena). E disse que, sem recursos do fundo eleitoral e tempo para propaganda no rádio e na televisão, foi alvo de campanha destrutiva impetrada pelos adversários.
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No início do debate, Marçal adotou tom mais contido, com as críticas aos adversários mais concentradas ao campo das ideias e propostas, em uma tentativa de frear seu elevado índice de rejeição – de 53%, segundo a última edição da pesquisa Datafolha. Mas a postura foi mudando com a evolução das interações com os candidatos – sobretudo nos enfrentamentos com Boulos, a quem buscou associar a imagem de “extremista”.
Nos confrontos mais duros, chamou o adversário de “esquerdopata” e disse que ele “flerta com o crime”, lembrando o personagem dos debates anteriores. As interações duras entre Boulos e Marçal reacenderam nos bastidores uma percepção de que este seria o segundo turno desejado pelas duas campanhas, já que as pesquisas apontavam favoritismo para Nunes contra ambos.
Já Boulos adotou uma estratégia de se descolar de qualquer imagem de candidato radical e fez duras críticas à atual administração. Logo no início do debate, protagonizou uma “dobradinha” com Tabata Amaral (PSB) para fustigar o candidato à reeleição. Mas no terceiro bloco sofreu uma “invertida” da colega de Câmara dos Deputados, que voltou a cobrá-lo sobre mudanças de posições – ponto que foi explorado posteriormente tanto por Marçal quanto por Nunes.
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Em outro flanco, Boulos avançou contra Marçal em uma tentativa de reforçar sua rejeição, primeiro lembrando da postura agressiva em outros momentos da campanha, e depois colocando o adversário contra o eleitorado feminino. Ao final, em meio a novas insinuações sobre uso de drogas, ainda exibiu exame toxicológico e cobrou o adversário a fazer o mesmo e o provocou a fazer um exame psicotécnico (veja mais abaixo).
Leia tudo e assista a trechos do debate:
- Em queda no Datafolha, Nunes é alvo de Datena, Tabata e Boulos no último debate
- Marçal reforça tom de “outsider”, e Boulos reage: “Usa política para ganhar dinheiro”
- Em escalada contra Boulos, Tabata critica deputado por mudanças de posição
- “Esquerdopata maluco”, diz Marçal após Boulos compará-lo a Doria
- Em resposta a Marçal, Boulos mostra exame toxicológico e é advertido em debate
Debate é marcado por confronto entre Boulos e Marçal
Dois dos três primeiros colocados na corrida pela prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos e Pablo Marçal protagonizaram os principais confrontos diretos durante o debate da Globo. Depois de um início em tom ameno, o clima começou a esquentar no terceiro bloco. “Marçal tumultuou a eleição toda e agora quer posar de bonzinho. É o lobo em pele de cordeiro. O Marçal acusar alguém de extremista é igual a Suzane Von Richthofen acusar alguém de assassinato”, ironizou.
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O candidato do PSOL comparou Marçal ao ex-prefeito e ex-governador de São Paulo João Doria (sem partido), eleito em 2016 para a prefeitura da capital com um discurso “antipolítica”, vestindo o figurino de “outsider”. O coordenador da campanha de Marçal, Filipe Sabará, fez parte da gestão de Doria na prefeitura.
“Por acaso, ele [Sabará] é filho do Doria? O Doria pariu ele?”, rebateu Marçal. “Você [Boulos] é um socialista de iPhone que recebeu R$ 30 milhões do fundo eleitoral”, completou.
Na sequência, Boulos respondeu dizendo que “o lobo” estaria “aparecendo na pele de cordeiro”. “Ele juntou o time do Doria com ele”, afirmou. “Outra coisa que eu queria perguntar. Ficou claro seu desprezo pelas mulheres. Eu vi um vídeo seu dizendo que as mulheres teriam o crânio menor que o dos homens. Por que você odeia tanto as mulheres?”, disparou Boulos.
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Marçal não escondeu a irritação e deixou de lado a postura mais moderada dos primeiros blocos do debate. “Isso é um papinho de um esquerdopata maluco, como você. Sou casado com uma mulher. Quem não gosta de mulher é alguém aqui que tem B.O. por agressão de violência doméstica. Quer colocar na minha conta?”
Exame toxicológico em rede nacional
No quarto bloco do debate, um novo embate entre Boulos e Marçal terminou com o deputado exibindo, em rede nacional, um exame toxicológico. Desde o início da campanha, Marçal vinha tentando associar Boulos ao consumo de drogas, sem apresentar provas.
Ao responder a uma pergunta de Marçal sobre outro assunto – invasão de propriedades privadas na cidade –, o candidato do PSOL mostrou o exame e disse que, assim, colocava um ponto final nas acusações do adversário.
Um pouco antes, Marçal havia afirmado: “Você imagina alguém falando que quer descriminalizar polícia, drogas… Que deve conhecer melhor a cidade na questão de ‘biqueiras’. Se você quer uma cidade segura, como vai votar em um cara do PSOL?”.
Boulos, então, decidiu exibir o exame diante das câmeras. “Hoje, mais uma vez, [Marçal] tentou me associar ao uso de droga, de ‘biqueira’. Fez isso outras vezes usando um homônimo, alguém que tinha o nome parecido com o meu”, afirmou.
“No debate passado, usou uma passagem minha na adolescência, de depressão, tentando associar ao uso de droga. É um lobo em pele de cordeiro. Eu sou pai de duas filhas e não aceito ter a honra atacada desse jeito. Para a gente encerrar de uma vez por todas esse tipo de acusação, está aqui: fiz o exame toxicológico e vai subir agora nas minhas redes sociais. Faça o seu, Marçal. Faça também, Marçal, um psicotécnico”, disparou Boulos.
Após mostrar o laudo do exame, o deputado federal foi advertido pelo jornalista Cesar Tralli, mediador do debate na Globo. De acordo com as regras do programa, assinadas pelas campanhas de todos os candidatos, não era permitido exibir nenhum tipo de documento.
Tabata cobra coerência de Boulos
Em meio à disputa pelo voto do eleitorado mais à esquerda na capital paulista, Tabata Amaral cobrou Boulos por mudanças de posição em relação a alguns temas.
A deputada do PSB cobrou coerência de Boulos em temas como o uso de armamento pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) e o apoio às creches conveniadas na cidade.
“O eleitor tem o direito de sabe quem você é de verdade”, disse a deputada a Boulos. “Você sempre foi contra as creches parceiras, agora diz que é a favor, mas o PSOL é contra. Você era contra a GCM ter armamento, agora é a favor, mas o PSOL é contra. Quem vai prevalecer? O Boulos dos marqueteiros ou o Boulos do PSOL?”, questionou.
Na resposta, o candidato do PSOL negou que tenha sido incoerente. “Tabata, lamento que você traga questões tão importantes nesse tom. Em relação a creches conveniadas, eu defendo que a rede parceira tenha as mesmas condições da rede direta”, afirmou Boulos.
“Eu nunca defendi GCM sem armamento. Isso não é verdade. Defendo que a GCM tenha seu armamento e faça o seu trabalho. E eu, inclusive, vou dobrar o efetivo da GCM. O que eu não defendo é um tipo de policiamento que trate diferente quem mora na periferia e quem mora nos Jardins.”
Na réplica, Tabata insistiu na acusação de que o adversário teria mudado de ideia sobre esses temas. “Não tem nenhum problema achar A ou B. O que não dá dá é ficar revendo tudo o que você pensa, na véspera da eleição, por uma questão eleitoral”, disse.
“Defendo escola pública de qualidade, mas vou defender com a mesma veemência os empreendedores, o controle das contas públicas, o combate ao crime e o combate à corrupção”, concluiu Tabata.