Novo Bolsa Família é o grande gatilho para o mercado, diz analista político da XP

Para Richard Back, com o mundo político mais "heterodoxo", agentes econômicos esperam resultado do Auxílio Brasil para entender futuro do teto de gastos

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A pouco mais de um ano do primeiro turno das eleições, o apetite do mundo político por saídas heterodoxas na economia talvez tenha crescido na mesma proporção em que diminuiu a disposição de investidores por novas aventuras.

Esta é a avaliação que faz Richard Back, chefe de Estratégia Macro e Política da XP, que vê o mercado em compasso de espera e muito sensível ao noticiário de Brasília. Ele concedeu entrevista ao InfoMoney após anunciar os novos produtos da casa para as eleições de 2022 (veja os detalhes ao final da matéria).

Do projeto que trata da reforma do Imposto de Renda à PEC dos Precatórios, os agentes econômicos têm monitorado com atenção as movimentações do mundo político para entender como as contas públicas atravessarão o processo eleitoral e o que virá como resultado.

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Para o especialista, os caminhos utilizados pelo governo federal para tirar do papel o Auxílio Brasil ‒ novo programa de transferência de renda que deverá substituir o Bolsa Família, ligado às gestões petistas ‒ darão as mais importantes sinalizações sobre o futuro das regras fiscais, sobretudo do teto de gastos.

“Estamos vendo um pouco mais de desenvoltura no campo menos ortodoxo em Brasília. As pessoas estão com menos receio de falar coisas que não diziam quando Paulo Guedes (ministro da Economia) estava mais empoderado. Ele próprio tem dito que não apita mais tanto no governo como no passado”, observa.

Desde que foi instituído, em 2016, o teto de gastos, apesar de referido como “super âncora fiscal” pela equipe econômica do governo federal, acumulou “goteiras”, com a exclusão de recursos da cessão onerosa, os gastos com o novo Fundeb ou mesmo com o auxílio emergencial. Hoje, discute-se a possibilidade de retirar parte das despesas com precatórios da regra fiscal.

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No mercado, a liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ‒ um crítico aberto do teto de gastos ‒ nas pesquisas eleitorais e os esforços crescentes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de maximizar suas chances na disputa pela reeleição aumentaram o nível de ansiedade. Mas Back acha pouco provável uma ruptura neste momento.

“Isso dificilmente acontece. Mas vemos um carrinho por trás ou outro, como a história de discutir a política de preços da Petrobras”, afirma. “O governo tem que fazer coisas, mas coisas estruturais. Não adianta matar o mensageiro toda semana, tem que atacar os problemas. Isso não estamos vendo mais. É tudo no jeitinho. É um jeitinho para os precatórios, para fazer programa social, para fazer reforma do Imposto de Renda. É tudo no jeitinho para terminar o ano e para o máximo de benefício político em 2022”.

“O caso dos precatórios já vai para dois meses. O mercado não sabe ler o impasse, não sabe colocá-lo na conta. Com isso, entra em compasso de espera e os preços ficam muito sensíveis a qualquer notícia. Acho que o mercado tolera muito pouco desaforo. Estamos vendo estrangeiros olhando o Brasil um pouco torto. E os locais, que carregaram o mercado muitas vezes nos últimos anos, estão com muito menos estômago para tolerar desaforos fiscais que venham de decisões políticas. Isso deve ir para o preço muito mais do que já foi no passado: curva de juros empinando, dólar mais caro e Bolsa mais baixa”, avalia.

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Para Back, os agentes econômicos esperam o resultado do novo Auxílio Brasil para entender, na prática, o peso do teto de gastos na atual conjuntura. “O teto está ali, mas já está cheio de goteira. Mas, se o novo Bolsa Família ficar fora, o mercado chega nessa conclusão: [o teto] não vale mais para nada e é uma regra que vai acabar servindo para controlar reajuste de servidor público”, diz.

Quanto à corrida pelo Palácio do Planalto, o especialista vê pouco espaço para uma “terceira via” crescer a ponto de ocupar uma das vagas para o segundo turno no lugar de Lula ou Bolsonaro. “O espaço para a viabilização dessas candidaturas é muito curto, eles têm que existir com muita força e muito rápido”, observa.

“A vida do centro, com mais ou menos candidatos, é complicada. O cenário de 2022 deve ser muito parecido com o de 2018. É Primeira Guerra Mundial: uma trincheira de cada lado trocando bombas e quem está no meio morreu. Difícil ver outra coisa acontecendo”, afirma.

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O especialista vê hoje uma fotografia “muito ruim” para Bolsonaro na disputa, que, na sua leitura, tem tido dificuldade de se conectar com os reais problemas da população brasileira e apresentar soluções. Mas a presidência dispõe de instrumentos que devem fazer com que o mandatário se torne um candidato mais competitivo até o momento da eleição.

“Embora a foto seja ruim para Bolsonaro, o filme vai ser um pouco diferente. A cadeira tem muita força, muito dinheiro e poder. Bolsonaro tem militância, tem tamanho. É difícil ele não ir ao segundo turno”, avalia.

Já Lula ainda deve enfrentar alguma “correção” em seus índices. “[Hoje,] Ele não briga com ninguém, não apanha, está jogando solto, fazendo tudo no bastidor. E o antipetismo ainda vem a campo. Os ódios vão jogar mais [na eleição]“, pontua.

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Confira os destaques da entrevista:

InfoMoney: Com as pesquisas de hoje, muitos analistas veem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva um passo à frente na corrida eleitoral de 2022. O presidente Jair Bolsonaro aparece na segunda posição, à frente dos demais adversários, que tentam construir espaço para uma “terceira via” no pleito. Qual é a sua leitura do tabuleiro eleitoral a um ano da disputa?

Richard Back: A fotografia é muito ruim para Bolsonaro. Há uma série de problemas que ele precisa superar para ser mais competitivo como já foi. Mas acho que equilibra [até a eleição]. Embora a foto seja ruim para Bolsonaro, o filme vai ser um pouco diferente, porque a cadeira tem muito peso.

Gosto sempre de lembrar da Dilma em 2013. Ela teve muita dificuldade, manifestações, preços explodindo, e ganhou a eleição. A cadeira tem muita força, tem muito dinheiro, poder. E Bolsonaro tem militância, tem tamanho.

Na minha visão, Bolsonaro tem todas as possibilidades de ir [ao segundo turno]. Vai acertar o Auxílio [Brasil], vão fazer as coisas que tiverem que fazer, como Dilma em 2014. É difícil ele não ir ao segundo turno.

Mas Bolsonaro está muito desconectado do debate da vida das pessoas. As pessoas estão mais pobres, desempregadas, em uma situação mais complicada e, até poucos dias, ele estava discutindo voto impresso com o STF. Isso não conecta com a vida de ninguém. Mas ele vai se conectar.

Lula está lá em cima, mas tem uma correção por vir, porque ele não briga com ninguém, não apanha, está jogando solto, fazendo tudo no bastidor. E o antipetismo ainda vem a campo. Os ódios vão jogar mais [na eleição]. Vai ser uma eleição feia. A foto está correta, as pesquisas estão certas, mas o filme muda. Vai ser mais brigado do que parece.

IM: Três semanas atrás, o país estava discutindo a crise institucional e o risco de ameaças à democracia. A temperatura baixou após declarações de Bolsonaro e principalmente a carta articulada pelo ex-presidente Michel Temer. Na resposta anterior, o senhor destacou a necessidade de o presidente se conectar aos reais problemas da população. Como isso pode contribuir para reduzir a intensidade dos choques entre os Poderes?

RB: O Brasil gosta dessas discussões [de crises institucionais], para o bem ou para o mal. Em 2010, lembro que houve a discussão sobre o terceiro mandato de Lula. Agora, tinha essa do Bolsonaro ‒ ‘vai dar golpe’, ‘não vai dar golpe’. Particularmente, eu nunca comprei essas histórias de golpe, o que não significa que não possa haver bagunça.

Supondo que Bolsonaro ganhe a eleição, a bagunça é menor, porque ele já está ali e seria mais uma arrumação de poderes. Ele deve ter muita dificuldade no primeiro ano, porque o Congresso vai estar muito forte ‒ talvez mais do que agora ‒ e a eleição vai ser muito brigada. Não seria o mesmo clima de 2018. Há muito risco de o novo governo Bolsonaro ficar velho já no primeiro ano. É um problema para qualquer um, como foi para Dilma em 2015.

Se Lula ganhar, nunca acreditei na tese de que Bolsonaro vai liderar um golpe ou algo do tipo, mas acho que algum nível de bagunça podemos ver. Esses caminhoneiros que estavam com Bolsonaro no 7 de setembro ‒ e só não fizeram greve porque ele foi para cima e desmobilizou… Qual é o incentivo para não fazerem bagunça se Lula ganhar? Mas acho muito difícil um golpe clássico, com Bolsonaro pegando tanques e colocando o país de joelhos. Em 2021? Não acho.

Mas também temos que nos lembrar da tradição brasileira. Nossa história democrática não é nenhuma Brastemp. Muitos presidentes ganharam a eleição e tiveram que batalhar para assumir e batalhar para não cair. A ideia de que o Brasil é um país tranquilo é uma falácia, nossa história política é de briga, revolução, confusão. Acho que 2022 não vai ser muito diferente disso.

IM: As alternativas que Bolsonaro tem à disposição para maximizar suas chances de reeleição entraram especialmente no radar do mercado nas últimas semanas, com o debate sobre o Auxílio Brasil e mesmo os preços dos combustíveis. Até onde vai essa ambição e quais são os limites de tolerância do mercado para esses movimentos?

RB: Estamos vendo um pouco mais de desenvoltura no campo menos ortodoxo em Brasília. As pessoas estão com menos receio de falar coisas que não diziam quando Paulo Guedes estava mais empoderado. Ele próprio tem dito que não apita mais tanto no governo como no passado.

Romper o teto, mudar regras mais essenciais: isso dificilmente acontece. Mas vemos um carrinho por trás ou outro, como a história de discutir política de preços da Petrobras. Você pode e deve discutir qualquer assunto, é da democracia. Agora, não pode discutir os assuntos no calor do momento e com resoluções que são só contra a empresa. Parece que é a Petrobras que está decretando os preços. Ou essa coisa falsa de que os governadores estão cobrando mais ICMS. Estão coisa nenhuma, continua tudo igual. O preço das coisas é que aumentou.

Há, portanto, mais disposição em Brasília para fazer coisas esquisitas do ponto de vista econômico. Mas acho que não há muita capacidade de execução. A reforma do Imposto de Renda, por exemplo, cujo texto aprovado na Câmara é bastante questionável, e o Senado está segurando, discutindo com muito menos pressa. O Senado é um anteparo importante.

E tem a vida real: não adianta fazer 10 auxílios. Isso vai puxar a inflação e comer o poder de compra dos auxílios. Volta como bumerangue lá na frente. A inflação já está agressiva. Se aumentar agora, em maio já está comendo essa mesma renda.

O governo tem que fazer coisas, mas coisas estruturais. Não adianta ficar matando o mensageiro toda semana, tem que atacar os problemas. Isso não estamos vendo mais. É tudo no jeitinho. É um jeitinho para os precatórios, para fazer programa social, para fazer reforma do Imposto de Renda. É tudo no jeitinho para terminar o ano e para o máximo de benefício político em 2022.

O caso dos precatórios já vai para dois meses. O mercado não sabe ler o impasse, não sabe colocá-lo na conta. Com isso, entra em compasso de espera e os preços ficam muito sensíveis a qualquer notícia. Acho que o mercado tolera muito pouco desaforo. Estamos vendo estrangeiros olhando o Brasil um pouco torto. E os locais, que carregaram o mercado muitas vezes nos últimos anos, estão com muito menos estômago para tolerar desaforos fiscais, que venham de decisões políticas. Isso deve ir para o preço muito mais do que já foi no passado: curva de juros empinando, dólar mais caro e Bolsa mais baixa.

IM: Desde a vigência, o teto de gastos sofreu flexibilizações, seja com a exclusão de recursos da cessão onerosa, gastos com o novo Fundeb ou mesmo com o auxílio emergencial. Hoje, discute-se a possibilidade de retirar parte das despesas com precatórios da regra fiscal. O que seria o rompimento do teto para investidores locais e estrangeiros? Qual seria o sinal de que a regra não vale mais? Já que dificilmente haveria uma decretação formal para isso.

RB: O teto está ali, mas já está cheio de goteira. Mas, se o novo Bolsa Família ficar fora, o mercado chega nessa conclusão: [o teto] não vale mais para nada e é uma regra que vai acabar servindo para controlar reajuste de servidor público.

O grande gatilho para o mercado é como vai ficar a história do novo Bolsa Família. Se ficar dentro do teto, há um controle mais robusto. Se ficar fora, nós mesmos vamos dizer aos nossos clientes que está fora, não volta nunca mais e só não vão tirar mais coisas porque não dá tempo.

IM: Lula já fez diversas críticas ao teto de gastos, é uma pauta de muito peso para o PT. O que pode vir de política econômica em eventual governo Lula? Há espaço para alguma regra fiscal que repare eventual desmonte do teto?

RB: Lula ainda não montou um entorno. As pessoas estão falando por aí, mas não representam Lula tampouco a campanha. O que circula é uma ideia parecida com o que era o PAC, que saía do cálculo das despesas primárias. Temos bastante gente defendendo um programa de investimentos, para gerar emprego e o Estado dar um impulso. É mais ou menos o que Rogério Marinho (ministro da Integração Regional) estava propondo no ano passado.

Um eventual governo Lula também vem com uma pegada de reparação social, de ajudar as pessoas mais pobres, muito forte, como foi em 2002. Mas naquela época tinha o [Antonio] Palocci, que representava ideias muito próximas ao mercado e a situação econômica era muito mais fácil de manejar do que será em 2023. Essa veia social é muito forte, então dá para imaginar um programa social mais robusto fora do teto [de gastos] sem muita dificuldade.

Outro ponto importante é que os governadores do PT no Nordeste tendem a ter mais espaço com Lula, porque ele vai ter uma campanha muito forte lá. E esses governadores fizeram reforma da Previdência, teto de gastos… Não é gente que está chegando no Lula e pedindo revolução socialista, é gente que tem experiência de manejar orçamentos grandes e que tem experiência de superávit, de reforma. Acho vai ter algo de não brigar com a economia ou brigar com o mercado e a economia no limite do que precisam para fazer essas outras coisas que acham importantes para o programa.

Lula vai tentar compor esses interesses. Não adianta fazer um programa social com dólar a R$ 15,00. O dólar vai puxar a inflação e vai atingir as pessoas mais pobres. E inflação é um tema muito importante para o Lula. Todos que estão perto dele dizem que ele parte da análise econômica a partir do controle da inflação.

As pessoas confundem governo Lula com governo Dilma, mas tem muita diferença, principalmente no campo econômico. Lula foi muito mais conservador do que Dilma nessa área. Ele foi mais pró-mercado e a Dilma foi muito mais ideológica. O Lula I foi quase 100% pró-mercado. O Lula II já foi mais parecido com a Dilma. Lula III seria uma mistura do Lula II com preocupações do Lula I, mas muita gente do PT com vontade de reeditar uma Dilma.

IM: Bolsonaro é muito mal avaliado pelo eleitor no enfrentamento à Covid-19 e a CPI da Pandemia tem produzido munição que deverá ser usada contra o governo na campanha eleitoral. Como a variável Covid-19 entra nas projeções políticas da XP?

RB: As campanhas vão usar muito do material da CPI para bater em Bolsonaro. Assim como a pandemia em si, que tem um efeito político contra Bolsonaro evidente. Quem perdeu amigos, familiares… Há um bolo de coisas que não vai se dissipar. Isso tirou eleitores de Bolsonaro.

Ficou uma fração mínima dizendo que não ia se vacinar, que não estava preocupada com a pandemia nos momentos mais agudos. Ficou com ele a militância mais dura. O resto das pessoas espalhou. Podem voltar a votar em Bolsonaro por outras razões, mas ele perdeu muitos votos pela pandemia e vai apanhar na eleição do ano que vem.

A pandemia vai ser um debate importante [na eleição], mas tenho dúvidas se vai ser o debate central. A vacina vai ter avançado muito mais, a gente vai terminar o ano com a maioria das pessoas tomando a segunda dose, muita gente tomando a terceira.

Bolsonaro vai passar um pedaço do ano que vem se defendendo, porque vão tentar colocá-lo na defensiva muitas vezes com isso. Já é um problema para Bolsonaro, mas o maior dos problemas dele é a eleição. A Covid não necessariamente tira a eleição dele, mas a economia tira.

IM: E é possível ser um candidato competitivo em caso de risco de apagão? Qual é o peso da variável da crise hídrica no processo?

RB: Tem que ver se vai ter mesmo apagão, porque os especialistas em energia têm divergências se vai ter “apaguinho”, blecaute, luz em uma fase só ou apagão de verdade. Isso desorganiza bastante a economia. Se tiver apagão, complica muito fortemente a situação de Bolsonaro. Mas, ainda assim, acho que chega forte no ano que vem, porque ele tem um componente conservador e de eleitores conservadores que o carregam. Um percentual de 15% para 20%.

Não precisa de muita coisa para ele estar no segundo turno. Por isso, acho que esse debate da terceira via é meritório, tem espaço, mas sou muito cético que algum desses nomes consiga se construir com a força que se constroem Lula e Bolsonaro.

Se um desses candidatos consegue passar para 10/15%, começa a ficar sério. Mas está tão difícil isso acontecer que vai chegar em setembro de 2022 e quem não gosta de Lula e o vê como risco vai votar em Bolsonaro. Do outro lado a mesma coisa: quem não quer Bolsonaro reeleito de jeito nenhum vai votar em Lula.

Nós vimos isso na eleição de 2018. Meirelles, Marina, Alckmin: todo mundo derreteu. Não é novidade, vai acontecer de novo no ano que vem. O espaço para a viabilização dessas candidaturas é muito curto, eles têm que existir com muita força e muito rápido.

IM: E hoje os incentivos são muito baixos para a convergência em torno de uma candidatura.

RB: Não tem. E também tem a conta das bancadas: todo mundo tem que fazer bancada de deputados. As pessoas olham mais a movimentação dos candidatos à presidência, mas tem que ver se a conta de deputados faz sentido ou não, como fica a distribuição de fundo partidário para essas campanhas. Essa conta ainda não está feita.

Nem todos vão para a disputa, mas mesmo assim [é difícil]. Em um cenário pequeno com 5 candidatos ‒ Lula, Bolsonaro, Ciro, representante do PSDB e outro nome ‒, os últimos três vão brigar entre si para existir, porque os outros dois já existem. O Ciro existe um pouco mais do que eles, mas não é à toa que o vemos com bíblia na mão, dirigindo caminhão… Está fazendo qualquer coisa para aparecer, porque tem um elefante na esquerda chamado Luiz Inácio Lula da Silva, que vai dar trabalho para ele.

A vida do centro, com mais ou menos candidatos, é complicada. O cenário de 2022 deve ser muito parecido com o de 2018. É Primeira Guerra Mundial: uma trincheira de cada lado trocando bombas e quem está no meio morreu. Difícil ver outra coisa acontecendo. Infelizmente, porque para o debate da eleição seria ótimo se os outros candidatos tivessem tamanho.

Foi o que aconteceu na eleição da Alemanha. Os candidatos tinham mais ou menos o mesmo tamanho e tiveram que falar sobre o país, discutir os pontos. No Brasil, acho que vamos discutir mais a pancadaria entre as duas candidaturas grandes e, de vez em quando, discutir o Brasil quando der tempo.


COBERTURA ELEITORAL

O time de análise política da XP organizou uma nova estrutura para a cobertura das próximas eleições. Além da parceria com o Ipespe, que rendeu o primeiro produto de pesquisa com periodicidade fixa no país, a ideia é desenvolver novas ferramentas para embasar as análises da corrida ao Palácio do Planalto.

Back explica que o objetivo é lançar luz sobre o maior número possível de variáveis que possam ser decisivas no processo. “A ideia é funcionarmos como uma campanha eleitoral, mas sem entregar panfleto. Devemos funcionar como a inteligência de uma campanha eleitoral, inclusive com marqueteiro”, diz.

A XP Política trabalha na estruturação de cinco ferramentas principais de inteligência eleitoral para oferecer em 2022:

1. Sala de situação
Estruturação de um espaço físico na empresa, com telas, mapas e central de monitoramento de notícias, pesquisas e redes sociais. O espaço servirá para transmissões ao vivo, reuniões e recepção de visitantes.

2. Marqueteiros
Contratação de um time de marqueteiros com experiência em campanhas presidenciais para interpretar movimentos, discursos e gestos dos candidatos. Os especialistas ajudarão na construção de cenários eleitorais, na avaliação dos impactos de acontecimentos políticos sobre as campanhas e na avaliação de estratégias adotadas.

3. Monitoramento de redes sociais
Acompanhamento avançado do comportamento das redes sociais, com análise de sentimento geral, rankings e alertas de tudo que acontece nas principais plataformas digitais – variável fundamental para o resultado eleitoral em 2018.

Além do acompanhamento de Facebook e Twitter, também será oferecida análise sobre o comportamento de grupos abertos de Whatsapp, rede muito utilizada pelos eleitores no compartilhamento de informações ao longo do processo.

4. Acompanhamento setorial
Monitoramento e análise dos programas de governo, propostas e dos discursos diários dos candidatos e figuras relevantes das campanhas. Também será oferecido um acompanhamento dos principais assuntos de interesse do mercado e avaliações sobre a possível configuração do Congresso Nacional a partir de 2023.

5.Hub de pesquisas
A XP Política manterá a parceria com o Ipespe, dobrando o número de entrevistas em relação às últimas eleições, para 82.600.

Também haverá um aumento na periodicidade dos levantamentos: quinzenais a partir de janeiro; semanais de maio em diante; e diários no formato de trackings a partir de agosto, com divulgação de dados consolidados às sextas-feiras.

Outros institutos serão contratados para fazer pesquisas eleitorais quantitativas, de comportamento dos eleitores e percepção sobre os candidatos.

Pesquisas qualitativas, usadas pelas campanhas para avaliar preocupações, reações e impressões de grupos de eleitores, também serão oferecidas. Está nos planos a contratação de ao menos 68 sessões com grupos focais.

Completando a lista dos produtos, será construído, com as devidas ponderações científicas, um painel online com uma amostra de eleitores, para monitoramento dinâmico das reações ao longo do processo eleitoral e dos assuntos em destaque.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.