Mudanças sobre horizonte da meta precisam passar por ministros e Lula, diz Haddad

Ministro repetiu que declarações do governo sobre os juros não se trata de "pressão sobre o BC", mas uma discussão do momento adequado

Estadão Conteúdo

Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda
Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou, nesta sexta-feira (19), que, antes de tomar uma decisão final sobre a mudança do horizonte da meta de inflação de ano-calendário para contínua, vai conversar com os outros ministros da área econômica, assim como com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. “O decreto não é meu, é presidencial. Tenho de levar em consideração do presidente. E não vou fazer isso sem conversar com a ministra Simone (Tebet, do Planejamento) e com o vice-presidente da República (Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria Comércio e Serviços)”, disse, após participar de evento do Banco Central, em São Paulo.

Haddad vem defendendo que a meta contínua é melhor do que a meta-calendário, que demanda o cumprimento do alvo a cada fim de ano.

Para ele, o regime de metas por ano no Brasil é uma “especificidade praticamente única”, com paralelo em poucos países, como a Turquia.

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“Isso é uma coisa que engessa o regime de tal maneira que traz constrangimentos desnecessários, como se sentar no CMN todo ano para decidir se a meta sobe ou desce. Não é assim no mundo inteiro”, disse o ministro, completando que a discussão sobre a mudança do nível da meta, hoje em 3% no longo prazo, é na “reunião do CMN”.

Construção de relação do BC com êxito

O ministro da Fazenda afirmou ainda que a construção da relação com o Banco Central após a autonomia do órgão tem tido “êxito”, como mostrou a indicação de novos diretores da autoridade monetária, que, segundo ele, foi bem aceita pelo Congresso e pelo próprio BC.

O governo indicou o número 2 da Fazenda, Gabriel Galípolo, para a Diretoria de Política Monetária, e Ailton Aquino, para a Diretoria de Fiscalização, mas os nomes ainda precisam ser sabatinados pelo Senado.

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Autonomia e Selic

Para Haddad, a autonomia do BC, na medida que o órgão está preservado por lei, dá mais liberdade para a autoridade monetária interagir com o governo e com outros atores “para formar juízo para ministrar a taxa de juros para melhor proveito da sociedade”. “Vamos continuar interagindo com o BC.”

O ministro ainda repetiu que as declarações do governo sobre os juros não se trata de “pressão sobre o BC”, mas uma discussão do momento adequado de queda de juros.

Haddad reforçou que já vê espaço para o início do corte da taxa Selic, mas que a decisão é de competência do BC, que o governo “busca respeitar”. “A Fazenda leva números que mostram que há espaço por comportamento de juros futuros e inflação. A economia está desaquecendo, de taxas muito elevadas, mas sem pressão inflacionária. São dois braços que têm que trabalhar juntos.”