Morre o ex-ministro Delfim Netto aos 96 anos

Economista foi o “todo poderoso” na área econômica durante boa parte da ditadura militar

Equipe InfoMoney

Delfim Netto (Divulgação)
Delfim Netto (Divulgação)

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Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento, e ex-deputado federal por cinco mandatos consecutivos, morreu nesta segunda-feira (12) em São Paulo, aos 96 anos.

Ele estava internado desde a última segunda-feira (08) no Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista, em decorrências de complicações no seu quadro de saúde.

Delfim Netto deixa filha e neto. Não haverá velório aberto e seu enterro será restrito à família.

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Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Delfim é um dos principais personagens da economia brasileira e influenciou governos direta ou indiretamente há quase seis décadas.

Foi o “todo poderoso” na área econômica durante boa parte da ditadura militar (1964 a 1985) e, após a redemocratização, permaneceu como figura de destaque nos meios econômico e político.

Ele assumiu o cargo de ministro da Fazenda do governo do general Artur da Costa e Silva em 1967. Na época, quando a sede do ministério ainda era no Rio de Janeiro, Delfim anunciou que duas de suas prioridades eram o controle da inflação e a aceleração do crescimento da economia.

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Ele reduziu e tabelou as taxas de juros, manteve o congelamento salarial, política que já vinha da gestão anterior de Otávio Gouveia de Bulhões; foi instituído um sistema de controle de preços que resultaria na instalação do Conselho Interministerial de Preços (CIP) e foi criada a Secretaria da Receita Federal.

Quando assumiu o cargo, a inflação do país variava entre 30% a 40% ao ano. Já em 1967, a taxa caiu para 23% e o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 4,8%. Em 1968, a economia avançou 9,3%, puxada pela indústria, que cresceu 15,5%. Era o início do período de bonança conhecido como “milagre econômico”, que se estenderia até 1973. 

Em 1973, porém, veio o choque do petróleo e acabou o “milagre”. Os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) embargaram as vendas para grandes economias, principalmente os Estados Unidos, em protesto ao apoio a Israel na Guerra do Yom Kipur, contra Egito e Síria. As nações exportadoras já vinham regulando a produção e pressionando os preços. O valor do barril quadruplicou em poucos meses e abalou a economia global.

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Delfim continuou à frente da Fazenda no governo do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), com ainda mais poderes

O período de Delfim como superministro da Fazenda terminou em 1974, com a posse do general Ernesto Geisel (1974-1979), quando foi substituído por Mário Henrique Simonsen. Como prêmio de consolação, o economista foi convidado a ser embaixador do Brasil em Paris. De volta ao Brasil, Delfim foi nomeado ministro da Agricultura pelo general João Batista Figueiredo, presidente de 1979 a 1985.

Ainda em 1979, assumiu como ministro do Planejamento, com a renúncia de Mário Henrique Simonsen. A pasta havia sido turbinada, com responsabilidades que antes eram da Fazenda. Delfim foi novamente alçado ao comando da economia brasileira.

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O cenário, porém, era bem diferente. O mundo enfrentava o segundo choque do petróleo, com a paralisação da produção no Irã em meio à revolução liderada pelo aiatolá Khomeini. O preço da commodity disparou e permaneceu em alta por muitos anos. Ao mesmo tempo, o Banco Central dos EUA, o Fed, aumentou os juros de 3% para 20% para tentar conter a inflação no país. No Brasil, a dívida externa explodiu e a inflação foi para as alturas.

Com uma crise atrás da outra na economia, os anos 1980 ficaram conhecidos como a “década perdida”.

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