Milei Paulista, Joana d’Arc, Gabigol: conheça os candidatos “diferentões” de 2024

A menos de 2 meses das eleições municipais, partidos apostam em "outsiders" como candidatos às Câmaras de Vereadores. Entre possíveis "puxadores" de voto, estão personalidades do showbiz, atletas e celebridades

Fábio Matos

Como o "Milei Paulista", o empresário e youtuber Paulo Kogos tentará ser eleito vereador em São Paulo (SP) pelo União Brasil (Foto: Reprodução/Instagram)
Como o "Milei Paulista", o empresário e youtuber Paulo Kogos tentará ser eleito vereador em São Paulo (SP) pelo União Brasil (Foto: Reprodução/Instagram)

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A menos de 2 meses das eleições municipais, cujo primeiro turno acontece no dia 6 de outubro, com quase 156 milhões de eleitores aptos a votar em todo o país, os partidos políticos apertaram o passo para solicitar à Justiça Eleitoral o registro das candidaturas a prefeito, vice-prefeito e vereador, cujo prazo se encerrou nesta quinta-feira (15).

De acordo com dados oficiais da plataforma de Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais (Divulgacand), do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mais de 30 mil candidatos a prefeito e a vice-prefeito apresentaram seus pedidos de registro.

Para vereador, foram 423.125 nomes com registro solicitado para disputar o pleito deste ano. Pela regra eleitoral, os partidos ou federações podem lançar um total de candidatos até 100% das vagas a serem preenchidas em cada Câmara Municipal mais um − número mais enxuto do que no último pleito, quando o teto era de 150%. O que não restringiu o lançamento de candidaturas “fora do baralho”.

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Como costuma ocorrer a cada eleição, os partidos muitas vezes apostam nos chamados “outsiders” – figuras conhecidas do grande público e que não fazem parte do dia a dia político-partidário – para angariar uma legião de votos e alavancar o desempenho das legendas na corrida municipal. Isso porque, no sistema proporcional (utilizado para eleger vereadores, deputados federais, estaduais e distritais), a distribuição de assentos leva em consideração primeiro o total de votos recebidos pelas siglas.

Entre os chamados “puxadores” de voto, não faltam personalidades do showbiz, figuras que pertencem ao mundo da televisão e do entretenimento e celebridades, que disputam espaço com nomes mais tradicionais do habitat político.

“Milei Paulista”: do YouTube às urnas

Em São Paulo (SP), maior colégio eleitoral do país (com mais de 9 milhões de eleitores), um dos candidatos “diferentões” a vereador é o empresário e youtuber Paulo Kogos, que disputará a eleição pelo União Brasil (partido fruto da fusão entre DEM e PSL).

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Seja nas redes sociais ou em aparições públicas, Kogos se apresenta como o “Javier Milei Paulista” – em alusão ao presidente da Argentina, um dos símbolos da nova direita latino-americana, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Até mesmo em sua foto, disponível na página de registro da candidatura no site do TSE, o empresário se assemelha muito à figura de Milei, com os cabelos desgrenhados, longas costeletas e trajes em tom formal, como se fosse, de fato, um chefe de Estado. Kogos também já apareceu vestindo uma faixa presidencial argentina, para imitar o líder do governo do país vizinho. O nome nas urnas, porém, não terá qualquer vínculo com o chefe de Estado.

Aos 38 anos, o influenciador digital costuma dizer que se situa no “extremo da extrema-direita”. Ele também se define como “libertário”, “anarcocapitalista” e “católico sedevacantista” – que não reconhece a autoridade do papa Francisco, sumo pontífice da Igreja Católica, frequentemente associado por setores da direita ao campo progressista. Em postagens antigas nas redes sociais, Kogos já chamou Francisco de “terrorista” e “maçom fantasiado”. Nas eleições de 2022, ele se candidatou a deputado estadual em São Paulo, pelo PTB, mas não foi eleito.

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Homônimos e apelidos curiosos

Como acontece, normalmente, a cada 4 anos, sobretudo nas disputas para vagas nas Câmaras Municipais, as eleições de 2024 estão repletas de candidatos que se aproveitam de nomes mais famosos ou figuras icônicas da história para se lançarem na disputa eleitoral. 

No município de Ipiranga (PR), por exemplo, a dentista Joana d’Arc Correia Rodrigues, de 42 anos, é candidata a vereadora pelo PL. Ela é homônima da lendária Joana d’Arc (1412-1431), camponesa francesa que acabou sendo canonizada pela Igreja Católica. A Joana d’Arc “original” é considerada heroína na França, por causa de seus feitos durante a Guerra dos Cem Anos. 

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Em Piratini (RS), o vereador Jimmy Carter Porto Gonçalves (MDB), de 45 anos, buscará a reeleição. Ele tem o mesmo nome do 39º presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, que governou o país entre 1977 e 1981. O ex-presidente americano, eleito pelo Partido Democrata e que exerceu um único mandato na Casa Branca, tem 99 anos. 

Na cidade de Balsas (MA), Gabriel Alves Macelino (PP), de 27 anos, tentará a sorte nas urnas, pela primeira vez, sob a alcunha de “Repórter Gabigol”. Ele é jornalista e redator e utiliza um apelido que tornou célebre um dos mais conhecidos jogadores de futebol do Brasil, o atacante Gabriel Barbosa, ídolo do Flamengo. 

Ex-esposa de sertanejo, defensora dos animais e ex-lutador de MMA

Entre os candidatos a ocupar vagas na Câmara Municipal da maior cidade do Brasil estão nomes como a ativista, apresentadora e escritora Marina Zatz de Camargo, que ganhou notoriedade como Luisa Mell. Aos 45 anos, a defensora da causa animal também aparece na chapa de candidatos do União Brasil e é apontada como uma potencial “puxadora” de votos da legenda.

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Luisa Mell foi apresentadora de programas de TV como Late Show, Estação Pet e TV Fama, além do Comunidade dos Bichos, na Rádio Bandeirantes. A prioridade de seu eventual mandato no Legislativo paulistano, como não poderia deixar de ser, é a atuação em prol dos animais.

Luisa Mell, ativista da proteção aos animais, será candidata a vereadora pelo União Brasil em São Paulo (SP) (Foto: Divulgação)

Também concorrendo a uma vaga de vereadora pelo União Brasil, Zilu de Almeida Godoy Camargo é ex-esposa do cantor sertanejo Zezé di Camargo e mãe da cantora Wanessa Camargo. Aos 66 anos, ela estreará nas urnas.

Zilu se separou de Zezé em 2012, depois de quase 30 anos de matrimônio. O antigo casal teve uma série de desavenças públicas, e o caso foi parar na Justiça. Ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), Zilu declarou possuir um total de R$ 8,6 milhões em bens.

Ainda na capital paulista, o PL (partido de Bolsonaro), que apoiará a candidatura à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB), apresentou uma chapa com mais de 50 candidatos a vereador. A legenda aposta, entre outros nomes, no ex-lutador de MMA Felipe Sertanejo, que já participou do programa A Fazenda, da TV Record, um dos principais reality shows da TV brasileira. Segundo o presidente nacional do PL, o ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, a legenda tem o objetivo de conquistar cerca de 10 cadeiras na Câmara de Vereadores de São Paulo – em 2020, foram apenas dois eleitos. Hoje, a bancada do partido conta com 5 vereadores, entre os quais Fernando Holiday, ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), que não se candidatará à reeleição.

Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, brutalmente assassinada, em 2008, com apenas 5 anos. (Foto: Reprodução/Instagram

Mães de Isabella Nardoni e Yves Ota e pai de Liana Friedenbach concorrem

A disputa por cadeiras na Câmara Municipal da capital paulista também contará com nomes que se tornaram conhecidos dos brasileiros em função de tragédias que os acometeram e sensibilizaram o país. O caso mais emblemático é o de Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, brutalmente assassinada, em 2008, com apenas 5 anos.

De acordo com as investigações da polícia, Isabella foi atirada de uma janela do 6º andar de um prédio na zona norte de São Paulo. O pai da menina, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, foram condenados por homicídio. Hoje, cumprem pena em regime semiaberto.

Candidata a vereadora pelo Podemos, Ana Carolina promete colocar o enfrentamento à violência infantil no topo de prioridades de seu eventual mandato. A plataforma é a mesma da empresária Keiko Ota, que, assim como o marido, já tem expeciência na política – mãe do garoto Ives Ota, sequestrado e morto em 1997, aos 8 anos, ela já teve 2 mandatos na Câmara dos Deputados, entre 2011 e 2019.

Seu marido, Masataka Ota, foi vereador na capital paulista também por 2 mandatos consecutivos, de 2013 a 2020. Ele morreu em fevereiro de 2021, aos 63 anos, vítima de câncer. Candidata a vereadora pelo Podemos em 2024, Keiko também teve passagens por PSB e PMDB/MDB.

Outro candidato a vereador com experiência política é o advogado Ari Friedenbach, que tentará se eleger pelo PSOL. Sua filha, Liana Friedenbach, foi assassinada em novembro de 2013, aos 16 anos, junto com o namorado, Felipe Caffé, que tinha 19. O casal acampava em uma área de mata em Embu Guaçu (SP).

Os adolescentes foram sequestrados e mortos por Paulo César da Silva Marques, conhecido como Pernambuco, e Roberto Aparecido Alves Cardoso, o Champinha. Ari foi eleito pela primeira vez em 2012, pelo PPS (atual Cidadania). Em seu único mandato, foi defensor da redução da maioridade penal, mas acabou mudando de posição e agora é contrário a essa alteração na legislação.

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O tenente-coronel do Exército Marcelo Ustra da Silva Soares (PL) será candidato a vereador na capital gaúcha e conta com o apoio de Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução/redes sociais)

Primo de Ustra disputará em Porto Alegre

No Rio Grande do Sul, o tenente-coronel do Exército Marcelo Ustra da Silva Soares (PL) será candidato a vereador na capital gaúcha e conta com o apoio de Jair Bolsonaro.

Ele é primo do ex-coronel da ativa Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado por ter chefiado centros de tortura durante o período da ditadura militar no Brasil (1964-1985), e bisneto de Celanira Martins Ustra, avó de Brilhante Ustra.

No pedido de registro feito junto à Justiça Eleitoral, o candidato apresentou como nome de urna “Tenente Coronel Ustra”.

Nas redes sociais, Marcelo exalta a biografia do primo e diz que Ustra era o “pavor de Dilma Rousseff”, ex-presidente da República (2011-2016). Dilma foi uma das vítimas de torturas comandadas pelo militar nos porões da repressão.

A expressão “o pavor de Dilma Rousseff” foi utilizada pelo então deputado federal Jair Bolsonaro, em 2016, no plenário da Câmara dos Deputados, durante a votação do impeachment que acabaria afastando a petista da Presidência da República.

Marcelo Ustra fez parte do governo Bolsonaro (2019-2022), integrando o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Recentemente, ainda como pré-candidato do PL a vereador, acompanhou o ex-presidente em compromissos públicos em Porto Alegre.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”