Michel Temer: ‘O que aconteceu no país não foi polarização, foi radicalização’

Temer criticou a postura tanto de Lula quanto de Bolsonaro após o resultado do pleito: 'deveriam lançar palavras de harmonia'

Anderson Figo

Ex-presidente Michel Temer na abertura de conferência do Lide em Nova York (Reprodução)
Ex-presidente Michel Temer na abertura de conferência do Lide em Nova York (Reprodução)

A disputa entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas Eleições 2022 foi marcada pela radicalização, e não pela polarização, afirmou o ex-presidente Michel Temer (MDB) na abertura da conferência brasileira organizada pelo Grupo Lide (Líderes Empresariais), nesta segunda-feira (14), em Nova York.

“Quando você vai ao texto constitucional — eu peço desculpa pelas obviedades, mas hoje, mais do que nunca, repito, é importante dizer o óbvio — vocês encontram uma regra que diz o seguinte: todos são iguais perante a lei, não podendo haver distinção de sexo, raça, credo religioso etc. E qual é a ordem que o povo deu às autoridades constituintes? Unam-se todos. Não significa que você não possa ter divergências de natureza programática, ideológica, conceitual. Diferenças no plano das ideias”, disse.

Leia também:

“Hoje se fala muito em polarização. Ao meu modo de ver, a polarização está muito mais ligada à ideia de embate de ideias do que o que aconteceu no país. O que aconteceu foi radicalização. A polarização é útil, ela significa o embate de ideias. A radicalização importa na violência, muitas vezes física, verbal, como temos assistido em todos os momentos. E, lamentavelmente, também neste instante aqui em Nova York. Então, o que houve, na verdade, foi uma radicalização. O país terá paz, tranquilidade, quando todos, as autoridades constituídas, passarem a cumprir rigorosamente a Constituição e pregá-la, divulgá-la”, completou.

Temer criticou a postura tanto de Lula quanto de Bolsonaro após o resultado do pleito. “Neste momento em que se deu a eleição, eu penso que tanto o presidente atual quanto o presidente eleito deveriam lançar palavras de harmonia, em obediência ao texto constitucional. Eu não tenho verificado isso. Lamento dizê-lo, mas tanto do lado de quem hoje ocupa o poder, quanto daquele que foi eleito, e digo isso para efeitos didáticos, nenhuma crítica especial, mas para o meu paladar político, o presidente eleito ao invés de fazer críticas ao presidente atual com palavras um pouco agressivas, deveria dizer: olha aqui, compreendo bem a angústia do presidente eleito, eu devo reconhecer que é razoável a angústia dele, mas eu peço a colaboração de todos os brasileiros para que nós possamos tranquilizar o país”, disse Temer.

O ex-presidente defendeu que os Poderes tenham uma relação harmoniosa e que respeitem a Constituição. Sem citar nomes, Temer falou que “a ideia do autoritarismo é o confronto com a Constituição, o que gera uma intranquilidade absoluta no país”. “Eu fui presidente por um brevíssimo período e tive a cautela de seguir um exemplo do ex-presidente Juscelino Kubistchek, que dizia, em primeiro lugar: eu não tenho compromisso com o erro; segundo ponto, eu quero pacificar o país.”

Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.