Mercado vê risco crescente de mudança no teto de gastos em 2021, diz XP

Levantamento com 81 investidores institucionais mostra que 54% acreditam que regra fiscal seja flexibilizada, descumprida ou extinta no ano que vem

Marcos Mortari

(Foto: Edu Andrade/ASCOM/Ministério da Economia)
(Foto: Edu Andrade/ASCOM/Ministério da Economia)

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SÃO PAULO – O quadro de pressão fiscal e inflação baixa tem levado agentes do mercado financeiro a monitorar mais de perto a possibilidade de modificações no teto de gastos, regra fiscal criada em 2016 para limitar a evolução das despesas públicas. É o que mostra um levantamento divulgado pela XP Investimentos nesta terça-feira (4).

A sondagem, realizada entre 3 e 4 de agosto, mostra que, em um universo de 81 investidores institucionais, chegou a 54% o grupo dos que acreditam na possibilidade de violação, alteração ou extinção da medida já no ano que vem. O resultado corresponde a uma alta de 4 pontos percentuais em comparação com os números de junho.

“Apesar de a pesquisa mostrar que as pessoas já têm alguma expectativa de que o teto não seja cumprido em toda sua extensão, acho que, se partirmos para uma discussão séria de que vai acontecer, os preços dos ativos devem refletir de alguma maneira. Acredito que isso não está no preço hoje”, observa Victor Scalet, estrategista macro da XP.

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De acordo com o levantamento, 44% dos investidores consultados esperam que a regra fiscal seja alterada de alguma maneira para permitir uma despesa adicional. Dois meses atrás, o grupo correspondia a 29% dos entrevistados.

Apesar da percepção de risco ao teto de gastos, apenas 1% dos entrevistados acreditam na extinção da regra fiscal em 2021. Outros 9% apostam que os gastos violarão o teto. Em junho, este grupo correspondia a 19% dos investidores ouvidos pelo levantamento.

Os detalhes estão no gráfico abaixo (em inglês):

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Questionados sobre o principal fator que pode afetar negativamente o balanço de riscos do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, a maioria dos entrevistados apontou para a questão fiscal (73%). Na sequência, aparecem inflação (11%), crescimento (10%) e reformas (4%).

Dos 81 investidores institucionais que participaram do levantamento, 40% são gestores, 33% economistas e 21% traders. A maioria (73%) trabalha em gestoras e em bancos e instituições financeiras (23%).

Os questionários foram aplicados eletronicamente e os resultados foram divulgados de forma agregada, preservando o anonimato dos participantes.

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O levantamento também mostra que a maioria dos entrevistados aposta em um corte de 25 pontos-base na Selic (77%) e que a decisão deverá marcar o fim de um ciclo de afrouxamento monetária, com a taxa básica de juros encerrando o ano em 2% (65%). A média das projeções para o Ibovespa ao final do ano é de 112.500 pontos, e para o dólar, R$ 5,16.

“Risco zero”

De encontro a preocupações dos agentes do mercado com a situação fiscal do país, a equipe econômica do governo tem tentado reforçar o compromisso com o teto de gastos e garantir que é possível cumprir a regra fiscal no ano que vem.

Em entrevista ao InfoMoney, o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, disse que a política econômica do governo “não mudou um centímetro” e que não há risco de o teto de gastos ser fragilizado.

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“Nesta equipe econômica, a possibilidade de fragilizar o teto de gastos é zero. Absolutamente zero”, afirmou.

“É irracional fragilizar o teto de gastos, pelo simples fato de que temos três regras fiscais a cumprir: meta de primário, regra de ouro e o próprio teto de gastos. A primeira foi dispensada pelo decreto de calamidade pública. A segunda foi dispensada pela PEC do Orçamento de guerra. Então, estamos com a terceira. É a âncora, que já era importante desde 2016”, pontuou.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.