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SÃO PAULO – Três meses antes de assumir o Ministério da Fazenda, Henrique Meirelles recebeu R$ 167 milhões por serviços prestados por seu grupo de consultoria a grandes empresas de relevância internacional, como Lazard, J&F (do empresário Joesley Batista) e KKR. As informações são de uma reportagem publicada pelo portal BuzzFeed, que também diz que o ministro recebeu ainda outros R$ 50 milhões quatro meses depois de ser empossado na Fazenda. Não há provas de irregularidades cometidas pelo ministro a partir dos dados apresentados.
Segundo a reportagem, que levantou documentos produzidas pela empresa do ministro registrados na Junta Comercial de São Paulo, as duas transações foram feitas a partir de contas no exterior da empresa de consultoria de Meirelles, com nome de HM&A.
O ministro ressalta que todos os valores foram declarados em imposto de renda e as tributações municipais e federais foram pagas. Ele argumenta que o recebimento de recursos se deu fora do país a pedido das próprias empresas.
Ainda segundo Meirelles, os R$ 167 milhões pagos antes da nomeação como ministro referem-se a “serviços prestados ao longo de quatro anos, em projetos de duração variável completados em 2015”. As movimentações começaram a ser feitas em 1º de fevereiro, mediante depósito em uma ou mais contas correntes bancárias, que, segundo ata da reunião, eram “mantidas em instituições financeiras nacionais ou estrangeiras, no Brasil ou no exterior”.
Conta a reportagem que, em 11 de maio, dia da sessão que selou o afastamento provisório de Dilma Rousseff pelo Senado Federal, Meirelles renunciou o cargo de presidente da empresa de consultoria. Um dia depois, ele foi anunciado ministro da Fazenda. Posteriormente, foi feito balanço parcial da movimentação financeira da empresa em 2016, até 30 de abril (mês que antecedeu sua posse na pasta) e, mais tarde, a distribuição de R$ 50 milhões de lucro.
A distribuição se deu por meio transferência para o ministro da custódia de cotas da empresa em um fundo de investimento intitulado Sagres Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado Investimento no Exterior, atualmente administrado pelo Bradesco. Segundo a reportagem, Meirelles possui posição relevante no fundo, que tinha patrimônio líquido de R$ 77 milhões em setembro de 2016.
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Apesar da posição, Meirelles diz que não interfere no fundo. Em resposta a questionamento feito pelo BuzzFeed se não confiava nas instituições financeiras brasileiras, o ministro respondeu: “O ministro confia integralmente nas instituições financeiras brasileiras. O ministro aconselha investidores a deixar seus recursos no Brasil porque o país oferece melhores relações de risco/retorno. Os recursos são administrados por gestor independente sem interferência do ministro, figura conhecida como blind trust, para evitar conflitos de interesse”.
Meirelles justifica a segunda distribuição de lucros, referente aos primeiros quatro meses de 2016 com o natural encerramento de balanço em abril — que costuma ocorrer no meio empresarial –, além de “deixar claro e transparente o corte em relação ao período anterior à nomeação para o Ministério”.