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Em áudios publicados na edição desta semana da revista Veja, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirma que foi coagido por integrantes da Polícia Federal (PF) durante seus depoimentos no âmbito do inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado no Brasil.
Nos áudios obtidos pela revista, Cid ataca o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que é o relator das ações que tramitam na Corte sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 – quando militantes e simpatizantes de Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, em Brasília. O magistrado também é relator dos polêmicos inquéritos das milícias digitais e das fake news.
“Eles [investigadores] queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu”, afirma Cid em uma das gravações. Segundo a Veja, trata-se de uma conversa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro com um amigo. A interação durou cerca de uma hora. O diálogo teria sido captado na semana passada, após o sétimo depoimento de Cid à PF, que durou cerca de nove horas.
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“Você pode falar o que quiser. Eles não aceitavam e discutiam. E discutiam que a minha versão não era a verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo”, diz Cid em um dos trechos do áudio.
Ainda de acordo com o militar, os investigadores já estão com a “narrativa pronta” sobre o caso. Além dos atos golpistas, o tenente-coronel menciona a investigação sobre a suposta falsificação no cartão de vacinação de Bolsonaro – que levou aos indiciamentos do próprio Cid, do ex-presidente e de outras 15 pessoas.
“Eles estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam”, afirmou. “E todas as vezes eles falavam: ‘Olha, mas a sua colaboração. Olha, a sua colaboração está muito boa’. Ele [o delegado] até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina, nove tentativas de falsificação de vacina. Vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá’. Ele falou assim: ‘Só nessa brincadeira são 30 anos para você’”, relata Mauro Cid.
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“Alexandre de Moraes é a lei”
Em outro trecho da conversa com o amigo, Mauro Cid ataca diretamente Moraes e também acusa o ministro do STF de já ter sua “sentença pronta”.
“O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, diz Cid.
“O Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta, acho que esta é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só está esperando passar um tempo. O momento em que ele achar conveniente. Denuncia todo mundo, o PGR acata, aceita e ele prende todo mundo.”
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“Quem mais se f… fui eu!”
Segundo os aúdios publicados pela revista, o tenente-coronel afirma ainda que ele próprio foi o maior prejudicado com as investigações da PF, inclusive sofrendo consequências financeiras e danos familiares.
“Quem mais se f… fui eu! Quem mais perdeu coisa fui eu. O único que teve pai, filha, esposa envolvida, o único que perdeu a carreira, o único que perdeu a vida financeira fui eu”, afirma Cid.
“Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, já tinha atingido o topo, né? O presidente teve Pix de milhões, ficou milionário, né?”, completa.
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De acordo com informações do jornal O Globo, o vazamento dos áudios de Mauro Cid pode levar até à anulação da delação premiada do tenente-coronel. Ele deve ser convocado para um novo depoimento.
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O que diz a defesa de Mauro Cid
Em nota, a defesa de Mauro Cid reconhece a veracidade dos áudios revelados pela revista, mas alega que se trata de um mero “desabafo” que não põe “em xeque a independência, a funcionalidade e a honestidade da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal”.
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Segundo os advogados de Cid, o conteúdo dos áudios mostra “o difícil momento e a angústia pessoal, familiar e profissional pelos quais está passando, advindos da investigação e dos efeitos que ela produz perante a sociedade, familiares e colegas de farda, mas que, de forma alguma, comprometem a lisura, seriedade e correção dos termos de sua colaboração premiada firmada perante a autoridade policial, na presença de seus defensores constituídos e devidamente homologada pelo Supremo Tribunal Federal nos estritos termos da legalidade”.