Movimento de Marta expõe digitais de Lula em eleição e afeta estratégias de Boulos e Nunes

Ex-prefeita muda de lado e se reaproxima da esquerda em disputa de alto interesse para Lula

Marcos Mortari

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebe a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy em reunião no Palácio do Planalto (foto: Ricardo Stuckert/PR)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebe a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy em reunião no Palácio do Planalto (foto: Ricardo Stuckert/PR)

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A saída de Marta Suplicy (sem partido) da Secretaria das Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, confirmada na última terça-feira (9), marcou o pontapé inicial das movimentações políticas com vistas às eleições municipais agendadas para 6 de outubro.

A ex-prefeita deixa a gestão de Ricardo Nunes (MDB) 36 meses depois de assumir a posição, em um momento de reaproximação com a esquerda e de costuras para compor a vice na chapa do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) − movimento que teve a digital do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Especialistas ouvidos pelo InfoMoney divergem sobre o impacto da notícia, mas enxergam sinais de nacionalização do debate na mais populosa capital do País e de um esforço de Boulos para marchar em direção ao “centro” em busca de mais acesso a eleitores, tanto da elite paulistana, quanto das periferias. Do outro lado, veem uma possível vinculação mais clara entre Nunes e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

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“Ao que tudo indica, o componente nacional terá uma participação muito ativa de seus dois nomes principais: Lula e Bolsonaro”, observa o cientista político Carlos Eduardo Borenstein, da consultoria Arko Advice.

Para ele, a saída de Marta da gestão Nunes foi, até o momento, “o grande movimento estratégico” da eleição em São Paulo e deve marcar um esforço da oposição em empurrar o atual prefeito para uma posição à direita do espectro ideológico. “Guardadas as devidas proporções, Lula deve estar pensando em Marta como o [Geraldo] Alckmin (PSB) de Boulos”, avalia, em uma comparação com a “frente ampla” construída pelo petista com adversários históricos para a campanha ao Palácio do Planalto em 2022.

Do outro lado, Borenstein aposta em uma participação ativa não apenas de Bolsonaro, mas também do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a favor de Nunes. Ele lembra, porém, que os dois ficaram atrás de petistas nos pleitos de 2022 na capital paulista (Lula derrotou Bolsonaro por 54% a 46%, e Fernando Haddad superou Tarcísio por 54% a 45%) − o que coloca o prefeito em um “dilema estratégico”. “Ele precisa do voto da direita para se reeleger, ao mesmo tempo em que não pode construir uma associação muito explícita com o bolsonarismo”, diz.

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Para Ricardo Ribeiro, analista da consultoria Ponteio Política, uma confirmação da chapa Boulos-Marta sinaliza que Lula vai mobilizar esforços pela campanha do aliado. Ele acredita que o saldo do movimento tende a ser positivo para o parlamentar, tendo em vista a aparente imagem mantida por Marta nas periferias, com o legado de políticas como os CEUs e o Bilhete Único, e seu melhor trânsito com parte da classe média, que poderá ajudar, em menor medida, na redução da rejeição de Boulos neste grupo.

O especialista, contudo, é cético quanto ao peso da escolha do vice sobre o resultado nas urnas. “No final das contas, o eleitor vai julgar o cabeça de chapa. Vice tem algum efeito, mas não é tão importante assim”, pondera.

De igual maneira, ele relativiza o impacto da nacionalização do debate sobre as escolhas dos eleitores. “Eleições municipais em geral são decididas por questões locais. Não acho que vai ser muito diferente neste ano em São Paulo. O que muda é uma mobilização de forças, de máquina. Nunes tem a vantagem por ser o prefeito”, diz.

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“Há efeito do antipetismo e do antibolsonarismo. Isso delimita algum espaço para as candidaturas poderem crescer, mas o eleitorado que nem é tão antipetista e tão antibolsonarista vai acabar decidindo por questões mais locais”, aposta. O analista destaca, ainda, a baixa rejeição do atual prefeito (24% de avaliações negativas, segundo pesquisa Datafolha divulgada em setembro de 2023) como um trunfo para o pleito.

O cientista político Leandro Consentino, professor do Insper, por outro lado, vê elementos para a reedição da disputa entre Lula e Bolsonaro na disputa municipal. “Não superamos essa polarização, por mais que ouçamos discursos pela pacificação. Ela deve interferir em diversos pleitos. São Paulo vai ser a grande vitrine da polarização novamente”, projeta.

O especialista também compara a escolha de Boulos para a vice em sua candidatura à prefeitura em 2020 − a deputada federal e ex-prefeita Luiza Erundina (PSOL-SP) − com o nome de Marta. Embora ambas trouxessem experiência administrativa à campanha, a segunda é vista com maior potencial de agregar novos eleitores à chapa. “Boulos faz correto por caminhar mais ao centro do que em outra eleição”, avalia.

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Apesar de enxergar o bom trânsito de Marta tanto na elite paulistana quanto nas periferias como ativo eleitoral relevante para a campanha de Boulos, Consentino prefere esperar ver como o eleitor irá digerir a notícia − classificada por adversários políticos como um caso clássico de traição às vésperas da corrida às urnas. As rusgas entre Marta e o Partido dos Trabalhadores, alimentadas no ápice da Operação Lava Jato e no impeachment de Dilma Rousseff (PT) também devem ser exploradas na campanha.

“Política adora traição, mas repudia o traidor. Se [a campanha de Ricardo Nunes conseguir] vender [o caso] como uma traição de fato, pode tornar a vida de Marta e Boulos mais difícil”, afirma.

Ricardo Ribeiro discorda: “Os eleitores estão acostumados com esses movimentos. Vai ficar uma coisa entre o pessoal que já segue política, mas para a decisão do voto não vai ter [impacto]“.

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Apesar das divergências, todos entendem que, a cerca de 9 meses do primeiro turno, ainda é cedo para fazer projeções. “Muita coisa ainda vai acontecer. Haverá a janela partidária, apoios poderão se confirmar ou não. A volta de Marta ao ninho petista também deve ser complicada, não terá só abraços. Do outro lado, Nunes não é tão bem assimilado pelo bolsonarismo. É importante observar as tendências”, conclui Consentino.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.