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SÃO PAULO – Com pouco mais de um milhão de votos em todo o Brasil, Marina Silva desidratou nas eleições para a presidência do país em 2018. A ex-ministra do meio ambiente e criadora da Rede Sustentabilidade, com três décadas de vida pública, ficou atrás até do Cabo Daciolo, outsider cuja carreira política começou em 2014.
A inexpressiva votação de Marina é ainda mais impressionante se considerado o desempenho da candidata nas eleições anteriores. Em 2010, Marina teve 19,6 milhões de votos; em 2014, 22 milhões. Mesmo em 2018, a candidata iniciou grande nas pesquisas: no primeiro levantamento do Datafolha, divulgado em 22 de agosto, apareceu com 16% das intenções de votos. Como comparação, Daciolo tinha 1%.
Graças a estes números, e, principalmente, à trajetória descendente, começam rumores sobre o fim da carreira política de Marina nas rodas de conversas políticas. Para Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores Associados, este “talvez tenha sido o fim da linha da carreira político eleitoral” de Marina do ponto de vista de candidatura presidencial – ela “sai da disputa eleitoral menor do que entrou”.
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Ao mesmo tempo, a Rede, partido presidido por Marina e fundado especialmente para apoiar sua candidatura no passado, teve o segundo maior número de senadores eleitos (5, atrás dos 7 do MDB), além de emplacar uma deputada federal por Roraima e alguns deputados federais espalhados pelo país. Enquanto isso, a própria Marina afirmou, após a contagem dos votos, que fará oposição ao próximo presidente eleito “independentemente de quem seja o vencedor”.
Para Carlos Eduardo Borenstein, analista político da Arko Advice, é muito cedo para proclamar o fim de uma carreira política. Prejudicada por uma conjuntura “adversa a seu perfil, que é mais de diálogo e menos de radicalização”, Marina talvez devesse focar em cargos inferiores nas próximas eleições.
“Pelas forças que foram para o segundo turno, a gente pode constatar que é um ambiente de radicalização política”, diz o especialista. “Mas claro que a Marina se prejudicou também quando o eleitorado, principalmente a parcela do Nordeste de baixa renda e grau de instrução inferior, ficou sabendo que o Haddad era o candidato do Lula”, analisa.
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Ribeiro, da MCM, também menciona erros do ponto de vista de organização política – e que não vieram de hoje. “Ela surgiu com mais força em 2010 com perspectiva de abrir um espaço no centro-esquerda, diferente, com uma roupagem atualizada, pegando carona no tema ambientalista”, narra o especialista. “Mas e foi perdendo substância como consequência de erros da própria Marina, que não soube realmente articular uma força política sólida em torno dela”, conclui.
Com esta votação, Borenstein fala em uma candidatura de Marina para alguma prefeitura ou como vereadora em 2020, buscando alavancagem para 2022. Daqui 4 anos, talvez seja mais interessante para Marina tentar uma cadeira no Senado, segundo ele. Ribeiro também menciona o Senado, lembrando que esta seria uma “volta às origens”, mas assume que a aposta é apenas um “chute” a esta altura.
Apoio de Marina no segundo turno
Ribeiro diz que, com segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, Marina pode pender para um “apoio crítico” ao petista. Já para Borenstein, é pouco provável que ela declare qualquer apoio. No caso de Bolsonaro, por estar em um polo totalmente antagônico ao que a presidente da Rede defende; no caso de Haddad, em parte pela divergência alimentada com o PT principalmente em 2014.
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“A campanha da Dilma em 2014 teve muitos ataques [a Marina]. Inclusive em manifestações recentes ela deu a entender que tem muita mágoa em relação a isso”, lembra. Em entrevista ao Jornal Nacional, Marina disse, durante sua campanha, que Dilma e Temer seriam “farinha do mesmo saco”, ataque rebatido posteriormente pela ex-presidente.
Ao mesmo tempo, ele considera mais provável que os eleitores de Marina no primeiro turno migrem o voto para Haddad do que para o seu oponente. “Diferentemente do Lula, o que eu vejo é que esses eleitores que votaram em Alckmin, Marina, Ciro, não seguem necessariamente o líder ou os candidatos a quem eles deram os votos no primeiro turno”, diz. “Já vi em algumas pesquisas que o próprio eleitorado do PSDB tem uma parcela relevante que prefere o Haddad”, exemplifica.