Marina diz que Venezuela não é democracia: “Valores não podem ser relativizados”

"Um regime democrático pressupõe que as eleições são livres, que os sistemas são transparentes, que não haja nenhuma forma de perseguição política", afirmou a ministra do Meio Ambiente, divergindo de Lula e do PT

Fábio Matos

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Paulo Pinto/Agência Brasil)
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Paulo Pinto/Agência Brasil)

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Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotou um tom ameno em suas primeiras declarações públicas sobre as eleições presidenciais na Venezuela, que conduziram o ditador Nicolás Maduro a mais um mandato sob ampla desconfiança da comunidade internacional, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), fez críticas ao regime autoritário do país vizinho e não classificou o modelo venezuelano como uma democracia.

Na madrugada de domingo (28) para segunda-feira (29), Maduro foi declarado vencedor das eleições presidenciais, supostamente com pouco mais de 51% dos votos, ante 44% do principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia.

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O resultado foi recebido com perplexidade pela grande maioria dos países democráticos ocidentais, já que o candidato oposicionista aparecia bem à frente de Maduro em todas as pesquisas dos principais institutos. A oposição acusou o regime de fraudar a eleição, e diversos órgãos independentes internacionais apontaram irregularidades no pleito.

“Na minha opinião pessoal, e eu não falo pelo governo, [a Venezuela] não se configura como uma democracia. Muito pelo contrário”, afirmou Marina Silva, em entrevista à coluna do jornalista Guilherme Amado, do Metrópoles.

“O Brasil está muito correto quando diz que quer ver o resultado eleitoral, os mapas, todas as comprovações de que, de fato, houve ali uma decisão soberana do povo venezuelano”, continuou Marina, elogiando o comunicado do Itamaraty divulgado logo após as eleições.

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De acordo com a ministra do Meio Ambiente, “um regime democrático pressupõe que as eleições são livres, que os sistemas são transparentes, que não haja nenhuma forma de perseguição política ou tentativa de inviabilizar com que os diferentes segmentos da sociedade, que legitimamente têm o direito de pleitear, cheguem ao poder”. “Que não venham a sofrer qualquer tipo de constrangimento ou impedimento”, disse a ministra.

Apesar de declarações mais recentes de Lula afirmando que não havia nada de “grave” ou “anormal” na Venezuela, a ministra do Meio Ambiente afirmou que é necessário adotar “as cautelas necessárias” em relação ao regime de Maduro.

“O fato de fazer essa cobrança é uma forma de colaborar com o fortalecimento da democracia no nosso continente, e de que a gente não tenha nenhum tipo de atitude que venha extrapolar esse princípio. Eu sempre trato a democracia, os direitos humanos, como um valor. E valores não podem ser relativizados”, disse Marina.

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Além de ir em sentido oposto às declarações de Lula, a fala de Marina também se choca com a nota oficial divulgada pelo PT – partido de Lula e ex-legenda da própria Marina. A Executiva Nacional da sigla reconheceu a vitória de Maduro e classificou a eleição na Venezuela como uma “jornada pacífica, democrática e soberana”.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”