Marçal é expulso a 10 segundos do fim, e debate termina em confusão generalizada

Em suas considerações finais, o empresário e influenciador fez acusações contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e voltou a afirmar que o emedebista será preso. Nunes foi o principal alvo dos adversários

Fábio Matos

Debate promovido pelo Grupo Flow reuniu os seis principais candidatos à prefeitura de São Paulo (Foto: Reprodução/YouTube)
Debate promovido pelo Grupo Flow reuniu os seis principais candidatos à prefeitura de São Paulo (Foto: Reprodução/YouTube)

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O oitavo debate entre os principais candidatos à prefeitura de São Paulo (SP), promovido pelo Grupo Flow na noite desta segunda-feira (23), caminhava para um desfecho tranquilo, sem grandes ofensas entre os concorrentes, até que Pablo Marçal (PRTB) não se conteve. 

Em suas considerações finais, a poucos segundos do encerramento do programa, o empresário e influenciador fez acusações contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, e voltou a afirmar que o emedebista será preso caso Marçal se eleja. 

Neste momento, o mediador do debate, o jornalista Carlos Tramontina, fez a primeira advertência ao candidato do PRTB. Mesmo assim, Marçal continuou atacando Nunes em sua fala e, assim, recebeu a segunda advertência. 

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De acordo com as regras do debate, o candidato que levasse três advertências seria expulso do programa. Após a bronca, Marçal ficou alguns segundos em silêncio e, faltando cerca de 10 segundos para que seu tempo terminasse, voltou a acusar Nunes e a dizer que o prefeito seria preso.

Cumprindo as regras do debate, Carlos Tramontina, então, expulsou Marçal do programa – e uma confusão generalizada teve início nos estúdios. 

A transmissão do Flow foi encerrada, e o debate terminou de forma melancólica.  

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Após a expulsão de Marçal, houve uma correria e seguranças e assessores invadiram o estúdio. No meio da confusão, o marqueteiro de Nunes, Duda Lima, foi agredido com um soco no rosto por Nahuel Medina, cinegrafista e sócio de Marçal.

“Eu tive que paralisar o debate para excluir o candidato Pablo Marçal, que reiteradamente desrespeitava as regras, e na saída dele houve uma confusão e o assessor do prefeito Ricardo Nunes foi agredido, levou um soco no rosto, está sangrando bastante neste momento. A gente lamenta profundamente porque o debate foi muito bom, mas no final tivemos essa confusão”, disse o mediador do debate. 

O assessor do candidato do PRTB foi detido pela PM. Cinco viaturas da polícia foram deslocadas até o Esporte Clube Sírio, onde o debate foi realizado, e os envolvidos foram encaminhados para o 16º Distrito Policial (DP), na Vila Clementino, zona sul da capital.

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Antes do início do debate, nos bastidores, Marçal e Nunes já haviam trocado ofensas.

Leia tudo sobre o debate:

Nunes “bombardeado” por adversários

O oitavo debate entre os principais candidatos à prefeitura de São Paulo foi marcado por um verdadeiro “bombardeio” de críticas contra o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição.

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No encontro desta noite – o primeiro debate organizado por um podcast (o Flow) na história das eleições no Brasil –, Nunes foi o alvo preferencial de Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB), José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB).

Marina Helena (Novo) também participou do programa, mas não foi tão incisiva contra Nunes, optando por mirar sua artilharia para Boulos.

O formato do debate não previa confronto direto entre os candidatos, que não puderam fazer perguntas uns para os outros. Os participantes do programa se limitaram a responder a perguntas feitas por eleitores e especialistas em diversas áreas, como saúde, educação ou segurança.

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Dois candidatos foram sorteados a cada pergunta. Um deles tinha dois minutos para responder à pergunta sobre determinado assunto; o outro tinha um minuto e meio para comentar.

Inicialmente, o debate havia sido anunciado para as 19 horas, mas houve um atraso de uma hora e meia e o programa começou pouco depois das 20h30. O encerramento ocorreu por volta das 23 horas.

Tabata critica Nunes por desempenho de SP em educação

A deputada federal Tabata Amaral, candidata do PSB, mirou no prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) logo no primeiro bloco do debate.

Respondendo a uma pergunta de especialistas sobre educação, Tabata, que foca sua atuação parlamentar nessa área, criticou a atual gestão em São Paulo pelos resultados ruins no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Criado em 2007, o Ideb reúne, em um único indicador, os resultados de fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações. O índice é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e das médias de desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

“A educação em São Paulo andou para trás nos últimos anos. Ricardo Nunes vai ser o primeiro prefeito da nossa história, desde que o Ideb foi criado, a entregar resultados piores em português e matemática do que aqueles que ele recebeu”, afirmou Tabata.

Em sua resposta, Nunes atribuiu os resultados aquém do esperado aos efeitos da pandemia de Covid-19 sobre o ensino.

“A gente teve 2021 e 2022 de pandemia. Nós temos um dado muito importante. A média do Ideb nos anos finais, de todas as cidades, foi de 4,6. A nossa foi de 4,8. Nossos dados são melhores do que Recife e Belém, por exemplo. Mas é lógico que temos de fazer muita coisa”, disse o prefeito.

“Hoje nós temos vaga de creche para todas as crianças. Melhoramos muito o nosso índice de evasão escolar”, prosseguiu Nunes.

“A base está feita. Nós teremos, nos próximos anos, os melhores anos do Ideb e dfa alfabetização em São Paulo”, prometeu o emedebista.

Marçal compara prefeito a “estepe furado”

Marçal aproveitou um momento no qual interagia com Marina Helena, com quem já havia feito “dobradinha” minutos antes, para atacar a gestão de Nunes.

O candidato do PRTB comparou o atual prefeito, que foi vice de Bruno Covas (PSDB) e assumiu o cargo em 2021, após a morte do tucano, a um “estepe furado”.

“É uma gestão que é um estepe. E o estepe que foi colocado está furado. De fato, a gente só pode chamar de prefeito quem foi eleito prefeito. Quem foi eleito vice-prefeito continua eternamente o vice”, ironizou Marçal.

“A gente tem uma segurança pública inaceitável, um caos no trânsito em São Paulo… O que a gente tem de bom é o povo, que está cansado”, prosseguiu o influenciador.

“Não adianta vir com falácias ou sofismas aqui. No próximo ano, o estepe que está governando a cidade tem compromisso com 12 partidos políticos”, criticou Marçal.

Segundo o candidato do PRTB, o eleitor tem de tomar cuidado para não “colocar alguém com mentalidade pequena, que já está amarrado até os pés com compromissos com partidos”.

Boulos diz não ter “medo de empresa de ônibus”

Guilherme Boulos, por sua vez, aproveitou uma pergunta de uma moradora da capital sobre a qualidade do transporte público e dos ônibus da cidade para criticar a gestão de Nunes.

Boulos voltou a relacionar o governo Nunes às denúncias acerca de suposta ligação entre o crime organizado e empresas de ônibus que prestam serviço para a prefeitura, em caso que está sendo investigado.

“É o Ricardo Nunes que está assinando [os repasses]. Estamos pagando mais e recebendo menos. Para onde está indo esse dinheiro?”, questionou Boulos.

“Não tenho medo de empresa de ônibus, não. A gente vai obrigar as empresas a colocarem toda a frota na rua”, completou o candidato do PSOL.

“Infelizmente, inclusive, tem denúncia de algumas dessas empresas, que receberam R$ 1 bilhão da prefeitura, com o crime organizado, lavando dinheiro para o crime organizado”, prosseguiu o deputado.

“Precisa ter coragem, precisa ter pulso. Porque hoje quem está se lascando é o povo, como sardinha em lata”, concluiu Boulos.

“Gostam de falar mal da cidade”, diz Nunes

Na parte final do debate, Ricardo Nunes rebateu os ataques dos adversários dizendo que “eles nunca fizeram nada e agora só tem crítica, crítica e crítica”. “É impressionante. Como gostam de falar mal da nossa cidade”, afirmou o prefeito. 

“Mas tudo bem. Vocês estão observando, estão aí as ações feitas, e a periferia sendo cuidada”, completou Nunes.  

Datena e Marçal lado a lado após cadeirada

Oito dias depois do episódio que marcou a eleição de São Paulo neste ano – a cadeirada que José Luiz Datena acertou em Pablo Marçal –, os dois candidatos voltaram a ficar frente a frente.

No segundo bloco, após uma pergunta de um cidadão sobre o que a prefeitura poderia fazer pelos imigrantes, Datena e Marçal foram sorteados para se manifestar e ficaram lado a lado – apenas com o mediador do debate, o jornalista Carlos Tramontina, separando os dois.

No último dia 15, em debate na TV Cultura, Datena partiu para cima de Marçal após o empresário e influenciador ter acusado o tucano de assediar sexualmente uma ex-funcionária da TV Bandeirantes. O caso foi arquivado pelo Ministério Público.

Depois da agressão, Datena foi expulso do debate, e Marçal, levado diretamente para o hospital.

“O Brasil sempre foi visto como um país acolhedor. E a mesma coisa deve funcionar em relação a estrangeiros”, disse Datena.

“Nós temos de receber de braços abertos pessoas de todas as etnias e de todos os lugares do mundo porque o Brasil tem essa formação. O Brasil precisa acolher essas pessoas. Sempre há espaço no nosso coração, no coração brasileiro”, continuou o candidato do PSDB.

Ao comentar a resposta do tucano, Marçal deu uma indireta a Datena, sem citar o nome do adversário.

“Todos vocês, de outras terras, são muito bem-vindos em São Paulo. Aqui você não vai ser agredido, nós não vamos perder a inteligência emocional cuidando de vocês”, provocou Marçal.

“Esses 2 milhões de empregos que nós vamos gerar já são a maior garantia que vocês são bem-vindos e haverá emprego para você”, completou.

Datena, então, retrucou com outra indireta: “A agressão física é deplorável, mas a agressão mentirosa é pior ainda”.

“Dobradinha” Marçal-Marina Helena

Pablo Marçal e Marina Helena fizeram uma “dobradinha” no primeiro bloco do debate e criticaram o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por dificuldades no enfrentamento da dengue no país.

Ao ser perguntada por especialistas sobre a questão da saúde, Marina Helena criticou a gestão de Lula e cobrou o governo por mais vacinas contra a dengue.

“Onde estavam as vacinas do governo Lula quando tivemos o recorde de mortes por dengue neste ano aqui no Brasil?”, questionou Marina.

“Cadê? Lula chama [Jair Bolsonaro] de genocida e cadê as vacinas, que não chegaram a tempo? Se foi esse caos que estamos vendo agora com a dengue, imagine se fosse essa turma na época da Covid”, prosseguiu a candidata do Novo.

Marçal, que comentou a resposta de Marina, fez coro às críticas ao atual governo.

“A pandemia foi tratada com muita politização, com muita queda de braço. Imagino que o Bolsonaro fez todas as coisas que ele fez tentando acertar”, disse o influenciador.

“A cidade de São Paulo foi a capital mundial disso [vacinação], mas houve alguns excessos, demitindo funcionários e fazendo com que as pessoas fossem oprimidas com esse passaporte sanitário”, continuou Marçal.

“O que está acontecendo, de fato, com a dengue no Brasil? Parece que ninguém está preocupado com isso”, concluiu.

Marina Helena, por sua vez, concordou com o candidato do PRTB e criticou a exigência do chamado “passaporte da vacina” pela prefeitura de São Paulo durante a pandemia.

“O que eu não sou favorável é fechando pessoas que queriam trabalhar, exigir passaporte vacinal, demitir pessoas que não apresentavam o passaporte vacinal”, disse a candidata.

Maratona de debates

Após o encontro no Flow, nesta segunda, ainda estão programados mais três debates na campanha eleitoral em São Paulo. Se todos forem, de fato, realizados, o primeiro turno da disputa municipal terminará com 11 debates realizados.

No sábado (28), o debate será na TV Record. Na semana que vem, a última antes do primeiro turno, haverá debates de Folha/UOL (no dia 30) e da TV Globo (3 de outubro). A eleição acontece no dia 6.

Veja quando serão os próximos debates em São Paulo:

1º turno

2º turno

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”