Marçal diz que teve resultado “extraordinário” e projeta candidatura em 2026

Questionado sobre seus planos na política, o candidato do PRTB disse que espera permanecer na vida pública pelos próximos 12 anos e afirmou que “2026 é logo ali”

Fábio Matos

Pablo Marçal, candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, terminou a eleição em terceiro lugar (Foto: Felipe Marques/Zimel Press/Estadão Conteúdo)
Pablo Marçal, candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, terminou a eleição em terceiro lugar (Foto: Felipe Marques/Zimel Press/Estadão Conteúdo)

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Terceiro colocado no primeiro turno das eleições municipais em São Paulo (SP), a apenas 80 mil votos do prefeito Ricardo Nunes (MDB) – que terminou em primeiro lugar na rodada inicial –, o empresário e influenciador Pablo Marçal (PRTB) classificou o desempenho como “extraordinário” e projetou alçar novos voos a partir de 2026.

Em conversa com jornalistas no fim da noite de domingo (6), algumas horas após o fechamento das urnas, Marçal agradeceu pelos quase 1,8 milhão de votos na capital paulista, mas disse que foi a primeira e última vez que ele disputa a prefeitura de São Paulo. A partir de agora, o objetivo é um governo estadual (não especificou em qual estado) ou a Presidência da República.  

“São Paulo perdeu a única oportunidade de me ver prefeito desta cidade. Meu coração estava 100% entregue a isso, mas confesso que a vontade do povo nas urnas prevalece. Eu sei de muitas pessoas que estão tentando construir algumas teorias, mas eu respeito a vontade do povo. A gente chegou de última hora”, afirmou o candidato derrotado.

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Questionado sobre seus planos na política, Marçal disse que espera permanecer na vida pública pelos próximos 12 anos e afirmou que “2026 é logo ali”.

O candidato do PRTB descartou concorrer a um cargo no Legislativo – foi candidato a deputado federal em 2022, mas teve o registro indeferido pela Justiça Eleitoral. Maçal não soube responder, no entanto, se pretende disputar o governo de São Paulo, de outro estado (ele é natural de Goiás) ou a Presidência da República.

“Para mim, foi um resultado extraordinário [no primeiro turno em São Paulo]. Entramos no dia 25 de maio nessa disputa, já estavam todos [os candidatos] fechados desde outubro do ano passado. E, quando a gente entrou, a gente entrou com 5% das intenções de voto. E conseguimos um resultado espetacular de 28,14%”, observou.

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Apoio a Nunes

Na entrevista coletiva, Pablo Marçal indicou que poderá apoiar a candidatura do prefeito Ricardo Nunes, no segundo turno, contra Guilherme Boulos (PSOL), apesar da série de ataques direcionados ao emedebista durante a campanha.

“Vai depender do que ele [Nunes] falar sobre as propostas. Está nítido que ele pegou muito pesado com a minha pessoa, foi muito injusto comigo. Eu entendo que é coisa de marqueteiro isso. Eu não sou de carregar mágoa, de carregar raiva”, minimizou Marçal.

Entre as suas propostas que pretende ver incorporadas ao programa de governo de Nunes, está o ensino de educação financeira nas escolas de São Paulo, além do incentivo ao empreendedorismo.  

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Idas e vindas

Inicialmente, a assessoria da campanha de Marçal havia informado aos jornalistas que o candidato do PRTB não faria nenhum pronunciamento, no domingo, sobre o resultado das eleições.

Horas depois, Marçal mudou de ideia e convocou uma entrevista coletiva para as 22 horas, em frente à sua residência.

Personagem da eleição

Apesar da derrota no primeiro turno, Pablo Marçal foi um dos principais personagens das eleições de 2024. Desde que se colocou na disputa pela prefeitura da capital, ele abalou as estruturas do establishment político, dividiu o eleitorado bolsonarista na cidade e pautou o debate, sobretudo nas redes sociais. Marçal foi o centro das atenções do início ao fim.

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Na largada da eleição em São Paulo, o candidato do PRTB pontuava entre 7% e 9% das intenções de voto, e não demorou para que esses números crescessem exponencialmente, catapultando o ex-coach às primeiras colocações nas pesquisas, posição que manteve durante praticamente toda a campanha, dividindo a ponta com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL).

Sem direito de participar do horário eleitoral no primeiro turno — seu partido não tem nenhum representante no Congresso Nacional, exigência para que as candidaturas tenham acesso ao tempo de TV –, Marçal sofreu um duro revés na fase inicial da campanha. Em agosto, o candidato teve seus perfis oficiais suspensos nas redes sociais pela Justiça Eleitoral, que acolheu uma ação apresentada por Tabata Amaral (PSB). Foram autorizadas, no entanto, contas “alternativas”.

A adversária acusou o influenciador de remunerar usuários que publicassem “cortes” de vídeos de Marçal nas redes, para que esses conteúdos virilizassem. Antes do início da campanha, o candidato contava com 10 milhões de seguidores apenas em seu perfil no Instagram.

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O comportamento agressivo de Pablo Marçal durante os debates foi outra marca do primeiro turno da eleição paulistana. Desde o primeiro encontro na TV, o candidato do PRTB não economizou nas ofensas aos adversários, aos quais se referia por meio de apelidos jocosos: “Boules”, “Chatabata”, Dapena” e “Bananinha” foram os mais utilizados contra Guilherme Boulos, Tabata Amaral, José Luiz Datena e Ricardo Nunes.

Marçal também protagonizou o episódio mais polêmico da campanha. No dia 15 de setembro, em pleno debate da TV CulturaDatena perdeu a paciência e deu uma cadeirada no adversário, sendo expulso do programa. O empresário e influenciador havia acusado o tucano de assediar sexualmente uma ex-funcionária da TV Bandeirantes — o caso foi arquivado pelo Ministério Público.

Uma semana depois, no dia 23, Nahuel Medina, cinegrafista e sócio de Marçal, agrediu o marqueteiro de Ricardo Nunes, Duda Lima, com um soco no rosto, poucos segundos depois da expulsão do candidato do PRTB do debate promovido pelo Grupo Flow, por violar as regras do programa.

Com sua postura disruptiva e um discurso “antissistema” que remonta à eleição vitoriosa de Jair Bolsonaro em 2018, Pablo Marçal conquistou uma legião de fãs – e de eleitores – que apoiam o ex-presidente, mas também acumulou detratores e uma das maiores rejeições da eleição. O candidato do PRTB trocou farpas com o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e foi criticado pelo próprio Bolsonaro, que declarou apoio a Nunes. Contudo, o “estrago” já estava feito e, como indicam as pesquisas, grande parte do eleitorado bolsonarista de São Paulo “fez o M” nas urnas.

As polêmicas chegaram até o último dia da campanha, quando, na noite de sexta-feira (4), Marçal divulgou em suas redes sociais um laudo comprovadamente falso que diz que Boulos teria tido uma crise psicótica e ingressado em uma clínica, onde teria testado positivo para cocaína em exame toxicológico.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”