Lula volta a defender moeda comum e diz que não há interesse em acordos que mantenham países do Mercosul como exportadores de matéria-prima

Presidente brasileiro assume comando do bloco regional e diz que tratativas com União Europeia são prioridades, mas volta a criticar termos sugeridos

Luís Filipe Pereira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em reunião ministerial no Palácio do Planalto (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em reunião ministerial no Palácio do Planalto (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a defender, nesta terça-feira (4), a criação de uma moeda comum para facilitar as transações comerciais entre os países da América do Sul. O presidente salientou que a referência seria específica para o comércio regional entre as nações que integram o Mercosul, sem qualquer perspectiva de afetar as divisas nacionais.

O presidente brasileiro já havia defendido a ideia em outras ocasiões, como ocorreu em encontro com o homólogo argentino, Alberto Fernández, em Buenos Aires, em janeiro. Já no fim de maio, Lula afirmou, em cúpula com chefes de Estado da América do Sul, em Brasília, que a identidade regional precisava ser aprofundada e criticou a dependência do dólar para operações comerciais entre os países.

Desta vez, a declaração foi dada durante discurso ao assumir a presidência temporária do Mercosul, em reunião de cúpula realizada em Puerto Iguazú, na Argentina. Em seu discurso, o mandatário frisou que “a adoção de uma moeda comum para realizar operações de compensação entre nossos países contribuirá para reduzir custos e facilitar ainda mais a convergência”.

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Entre as prioridades para os próximos seis meses em que exercerá o comando do grupo formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, o chefe do Executivo brasileiro reafirmou o comprometimento com a conclusão do acordo com a União Europeia, e voltou a criticar as exigências expressas pelos países europeus recentemente. Lula disse que não há interesse em acordos que mantenham aos países da América do Sul o papel de exportadores de matéria-prima.

“O Instrumento Adicional apresentado pela União Europeia em março deste ano é inaceitável. Parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança e ameaça de sanções. É imperativo que o Mercosul apresente uma resposta rápida e contundente. É inadmissível abrir mão do poder de compra do Estado – um dos poucos instrumentos de política industrial que nos resta”, destacou.

“Precisamos de políticas que contemplem uma integração regional profunda, baseada no trabalho qualificado e na produção de ciência, tecnologia e inovação. Isso requer mais integração, a articulação de processos produtivos e na interconexão energética, viária e de comunicações”, prosseguiu.

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Ao contrário do que defendia o antecessor, Jair Bolsonaro (PL), em termos de política externa, Lula afirmou que há interesse do Brasil em fortalecer bloco. O mandatário sublinhou que há espaço para ampliar e aprimorar os acordos comerciais com Chile, Colômbia, Equador e Peru, e garantiu que há urgência no processo de admissão da Bolívia como membro permanente, e por isso tratará o tema como prioridade com o Congresso brasileiro.

“O Mercosul não pode estar limitado à barganha do ‘quanto eu te vendo e quanto você vende pra mim’. É preciso recuperar uma agenda cidadã e inclusiva, de face humana, que gere benefícios tangíveis para amplos setores de nossas sociedades. Nossa integração deve ser solidária e despertar o sentimento de pertencimento. Nossa integração também deve ser feminina, negra, indígena, camponesa e trabalhadora”, frisou.

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