Lula vê relação com Venezuela “deteriorada” e diz que Maduro “deve explicação”

Em entrevista a uma emissora de rádio de Curiitiba (PR), Lula diz que a crise política se agravou na Venezuela e pede solução negociada entre o regime de Nicolás Maduro e a oposição, para fim do impasse no país vizinho

Fábio Matos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Planalto (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Planalto (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) admitiu, nesta quinta-feira (15), que as relações entre o seu governo e o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, ficaram “deterioradas”, diante do impasse em torno das eleições presidenciais no país vizinho.

Maduro foi declarado vencedor das eleições, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), supostamente derrotando o principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia. O resultado foi recebido com perplexidade pela grande maioria dos países democráticos ocidentais, já que o candidato oposicionista aparecia bem à frente de Maduro em todas as pesquisas dos principais institutos.

A oposição acusou o regime de fraudar a eleição, e diversos órgãos independentes internacionais apontaram irregularidades no pleito. Vários países, como os Estados Unidos, não reconheceram a vitória de Maduro.

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“Não é fácil e não é bom que um presidente da República de um país fique dando palpite sobre a política de outro país. Eu mantenho relações com a Venezuela desde que tomei posse, em 2003. Tive muitas relações com o [Hugo] Chávez [ex-presidente venezuelano, morto, em 2013]”, disse Lula, em entrevista à Rádio T, de Curitiba (PR).

“Essa relação ficou deteriorada porque a situação política está ficando deteriorada na Venezuela. Eu conversei pessoalmente com o Maduro antes das eleições, dizendo para ele que a transparência do processo eleitoral e a legitimidade do resultado eram o que iria permitir a gente continuar brigando para que fossem suspensas as sanções contra a Venezuela”, afirmou o presidente.

Na entrevista, Lula relatou as informações que recebeu de seu assessor especial para assuntos internacionais, o embaixador e ex-chanceler Celso Amorim, que esteve na Venezuela acompanhando o processo eleitoral.

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“Durante o dia [da votação], não houve transtorno e nada que se pudesse levantar qualquer suspeita. Agora, na hora em que começam a divulgar os dados, é que começa a confusão. O Maduro anunciou que tinha ganhado, e a oposição anunciou que tinha ganhado”, disse Lula.

“É importante que a gente tenha alguém para analisar as atas das eleições. Queremos que o CNE diga publicamente quem ganhou as eleições. Até agora ninguém diz quem ganhou”, criticou.

O presidente brasileiro reiterou a posição do governo de que só será possível reconhecer Maduro como presidente da Venezuela se as atas eleitorais forem divulgadas.

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“Ainda não [é possível reconhecer o resultado]. Ele [Maduro] sabe que ele está devendo uma explicação para a sociedade brasileira e para o mundo. Ele sabe disso”, afirmou Lula.

“Eu não posso dizer que a oposição foi vitoriosa nem que o Maduro foi vitorioso porque eu não tenho os dados. Não quero me comportar de forma apaixonada e precipitada. Eu quero o resultado”, prosseguiu.

Em busca de uma saída

Questionado sobre o que o Brasil vem fazendo, pelos meios diplomáticos, para que a crise política na Venezuela seja superada, Lula disse que é necessário encontrar uma solução – que poderia ser a convocação de novas eleições ou mesmo um governo de coalizão que reunisse integrantes da oposição.

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“Estamos tratando, o Brasil junto com a Colômbia, da possibilidade de ver se encontramos uma saída. Você pode fazer um governo de coalizão, convocando a oposição”, propôs Lula.

“Se ele [Maduro] tiver bom senso, poderia fazer uma conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe convocar novas eleições, estabelecer os critérios de participação dos candidatos e deixar que entrem observadores do mundo inteiro para analisar as eleições”, concluiu.

As duas hipóteses, atualmente, estão praticamente descartadas. A oposição da Venezuela não aceita uma nova eleição e alega que foi vitoriosa no pleito. Já o regime do ditador Nicolás Maduro rechaça a tese de um governo de coalizão com os adversários.

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Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”